O crescimento do uso de medicamentos agonistas de GLP-1 e GIP, também conhecidos como canetas emagrecedoras, trouxe à tona uma preocupação pouco discutida: o descarte correto desses dispositivos. Utilizados no tratamento de diabetes e obesidade, eles ganharam popularidade também para fins estéticos, impulsionados pela exposição na mídia e por celebridades.
Na última segunda-feira (4/8), chegaram ao mercado as primeiras versões nacionais desses medicamentos, Olire e Lirux, da farmacêutica EMS, o que deve ampliar o acesso ao tratamento. O aumento no consumo, no entanto, reforça a necessidade de orientações sobre o destino final das canetas após o uso.
Para o médico Wandyk Allison, pós-graduado em endocrinologia, o tema ainda é negligenciado. “Poucos pacientes perguntam sobre o descarte, o que evidencia uma lacuna importante na educação em saúde”, afirma. “O reaproveitamento indevido pode causar contaminação cruzada, infecções graves e exposições acidentais, já que muitas vezes as agulhas permanecem expostas ou mal armazenadas após o uso.”
Leia Mais
Quais os riscos?
O risco não se restringe ao contato físico. Resíduos químicos presentes nos medicamentos podem contaminar o solo e a água quando jogados no lixo comum ou no vaso sanitário. “Substâncias como a liraglutida são bioativas e podem interferir em ecossistemas aquáticos, além de representar risco potencial à saúde humana em casos de vazamentos em aterros”, explica Wandyk.
As agulhas precisam receber o mesmo tratamento dado a seringas. “Elas podem causar acidentes perfurocortantes e facilitar a transmissão de doenças infecciosas como hepatites e HIV, especialmente em trabalhadores da coleta de lixo e da limpeza urbana.”
Qual a forma correta?
A recomendação é que as canetas sejam descartadas em coletores específicos para materiais perfurocortantes, disponíveis em unidades de saúde. Algumas farmácias e clínicas já oferecem pontos de entrega voluntária, mas a medida ainda não é amplamente adotada. “É fundamental que os profissionais de saúde orientem os pacientes sobre o descarte adequado”, reforça Wandyk.
A falta de informação é realidade para muitos usuários. A musa da ala musical da Independente, Carmen Reis, relata que não recebeu instruções sobre o que fazer com as canetas após o uso. “Comecei a usar o Ozempic em 2021 para emagrecimento, perdi 18 kg em três meses. Nunca me orientaram sobre como descartar. Eu colocava na própria embalagem, amarrava e jogava na lixeira”, conta.
Com o avanço do mercado e a previsão de crescimento do consumo global de GLP-1 nos próximos anos, o especialista defende que campanhas de conscientização sobre o descarte correto se tornem parte das estratégias de saúde pública. "É fundamental que os profissionais da saúde não apenas prescrevam essas medicações com responsabilidade, mas também orientem os pacientes sobre o descarte adequado, protegendo vidas e o meio ambiente", destaca Wandyk.