Durante meses, o contador Alcimar de Souza, de 37 anos, conviveu com dores de cabeça cada vez mais intensas. "Começou como uma dor leve, e eu tomava dipirona achando que era passageira. Mas ela foi se espalhando para o pescoço, os ombros, e ficou insuportável", relata.

O que parecia uma simples cefaleia se revelou algo mais sério: uma hérnia de disco cervical, diagnosticada após consulta com um ortopedista e a realização de exames de imagem. O alívio só começou com medicação adequada, ajustes na postura e sessões de fisioterapia.

Casos como o de Alcimar não são incomuns, segundo o ortopedista Daniel Oliveira, especialista em coluna vertebral e sócio do Núcleo de Ortopedia e Traumatologia de Belo Horizonte (NOT).

"Existe uma relação direta entre alterações na coluna cervical — como hérnias, desalinhamentos ou artrose — e o surgimento de dores de cabeça. É o que chamamos de cefaleia cervicogênica", explica.  Esse tipo de dor acontece quando estruturas da coluna cervical comprimem ou inflamam nervos que se conectam à base do crânio, provocando dor irradiada para a cabeça.

Quando a coluna é a vilã

Identificar que a dor de cabeça tem origem na coluna exige atenção a alguns sinais. "Dor que começa na nuca ou pescoço e se espalha para a região frontal, limitação dos movimentos cervicais, rigidez, sensação de peso na cabeça e até tonturas são indicativos fortes", afirma o médico.

O diagnóstico envolve avaliação clínica detalhada e exames como ressonância magnética, capazes de detectar hérnias de disco ou outras alterações estruturais.

No caso de Alcimar, o diagnóstico foi um susto. “Nunca tive problema nenhum de coluna. Quando o médico falou que era hérnia, fiquei abalado. Mas comecei o tratamento e já estou muito melhor”. Ele conta que adaptou o ambiente de trabalho e segue com fisioterapia regular, que tem sido fundamental na reabilitação.

A fisioterapia como aliada

A fisioterapia tem papel central no tratamento da cefaleia cervicogênica. O fisioterapeuta João Paulo de Albuquerque, especialista em coluna e reabilitação ortopédica, explica. "Problemas posturais geram tensão muscular e comprometem nervos que irradiam dor para a cabeça. A abordagem fisioterapêutica combina terapia manual, fortalecimento da musculatura profunda do pescoço e orientações posturais".

Métodos como dry needling, liberação miofascial, eletroterapia e exercícios de reeducação postural também são aplicados conforme o caso. "A dor costuma diminuir à medida que corrigimos os desequilíbrios e fortalecemos o suporte da coluna cervical", reforça João Paulo.

Postura, ergonomia e prevenção

Evitar esse tipo de dor exige atenção no dia a dia.  Segundo Daniel, hábitos simples fazem toda a diferença. "Manter a tela do computador na altura dos olhos, evitar curvar o pescoço para usar o celular, fazer pausas para alongamento e praticar exercícios físicos são atitudes preventivas fundamentais".

João Paulo chama a atenção sobre a ergonomia no ambiente de trabalho. “Cadeiras sem apoio, mesas mal ajustadas e telas baixas são armadilhas para a coluna. Ajustes simples podem prevenir dores persistentes”.

A boa notícia é que, na maioria das vezes, o tratamento é conservador. A cirurgia só é indicada em casos extremos, quando há compressão neurológica severa ou falha nos métodos não invasivos. “Nosso foco é sempre priorizar a recuperação clínica sem intervenção cirúrgica”, garante o ortopedista.

Para além da dor

Hoje, Alcimar segue firme no tratamento e já vê os resultados. “As dores quase desapareceram. Ainda tenho sessões de fisioterapia pela frente, mas a qualidade de vida melhorou demais”. Ele reforça a importância do diagnóstico precoce e dos cuidados contínuos. “Se eu soubesse antes que uma simples dor de cabeça podia vir da coluna, teria procurado ajuda bem antes”.

Dicas para prevenir a cefaleia cervicogênica

•    Mantenha a postura ereta ao sentar e caminhar

•    Posicione telas na altura dos olhos

•    Faça pausas a cada uma hora de trabalho para alongar o pescoço e ombros

•    Evite carregar bolsas ou mochilas pesadas em um só lado

•    Invista em cadeiras ergonômicas com apoio para costas e braços

•    Pratique exercícios que fortaleçam o pescoço, ombros e abdômen

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