Algumas doenças tradicionalmente associadas ao envelhecimento estão surgindo cada vez mais cedo em jovens e adolescentes. Dados do Ministério da Saúde apontam que, na última década, houve um aumento de aproximadamente 59% nas internações de pessoas com idade até 39 anos. Tal fenômeno é atribuído a uma combinação de fatores, incluindo mudanças no estilo de vida, aumento do sedentarismo, alimentação ultraprocessada, estresse crônico, poluição e a fatores genéticos e epigenéticos.   
 
Infarto, AVC, diabetes e hipertensão arterial têm se tornado cada vez mais frequentes entre adultos jovens. Já doenças como Alzheimer, Parkinson, demência e osteoporose, embora preocupem a população em geral, permanecem estáveis nessa faixa etária.

De acordo com Pedro Tito, gerente médico da área de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (RDI) do São Marcos Saúde e Medicina Diagnóstica, que faz parte da Dasa, a falta de preocupação dos jovens com as doenças típicas da terceira idade pode atrasar o diagnóstico e comprometer o tratamento.

“É importante estarmos atentos a sinais precoces, manter consultas regulares e realizar exames diagnósticos de rotina para identificar alterações ainda nos estágios iniciais, quando é possível adotar estratégias mais eficazes de prevenção e controle”, destaca.  
 
Uma condição que chama a atenção dos especialistas é o Alzheimer de início precoce. O que antes era visto quase exclusivamente em idosos também pode surgir em pessoas com menos de 60 anos e, em situações mais raras, até mesmo na faixa dos 40. Embora faltem números específicos no Brasil, estima-se que até 75% dos casos da doença no país ainda não sejam diagnosticados, especialmente entre pacientes mais jovens.

O diagnóstico clínico de Alzheimer de início precoce se baseia em histórico médico, exame físico e testes neuropsicológicos. Por se tratar de uma condição rara em pessoas mais jovens, a suspeita costuma exigir exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), para descartar outras causas neurológicas mais comuns e apoiar uma avaliação clínica mais precisa.

“Ainda que o Alzheimer seja mais frequente após os 60 anos, alterações cognitivas podem se manifestar em adultos mais jovens, especialmente quando há histórico familiar da doença. Exames de imagem não confirmam o diagnóstico, mas são indispensáveis para fortalecer a análise clínica”, afirma o médico.
 
Avanços recentes têm ampliado as possibilidades de diagnóstico, como o Painel NGS para Alzheimer de Início Precoce, que identifica alterações genéticas relacionadas à forma hereditária da doença, auxiliando no diagnóstico, na definição de estratégias terapêuticas e preventivas para membros da mesma família, principalmente as pessoas que não apresentaram sintomas.

Um recurso adicional é um exame de sangue que analisa a presença de proteínas associadas à doença de Alzheimer, como a beta-amiloide, substância que tende a se acumular nos neurônios de pessoas com a doença. Embora não substitua o diagnóstico clínico, ele pode apontar a probabilidade de desenvolvimento da enfermidade, permitindo acompanhamento médico mais próximo para diminuir seu avanço.
 

Osteoporose, hipertensão arterial e diabetes tipo 2

Outra condição que merece atenção em adultos jovens é a osteoporose. A deficiência de vitamina D, o sedentarismo e dietas desequilibradas podem levar à perda de massa óssea já a partir dos 30 anos, especialmente quando existem fatores de risco como distúrbios hormonais ou uso prolongado de corticoides.

Estudos recentes indicam que a frequência de osteopenia e osteoporose aumentou cerca de 20% em homens adultos jovens e 45% em mulheres nessa mesma faixa etária. “Nesses casos, a densitometria óssea é o principal exame para identificar precocemente a perda de densidade mineral, permitindo intervenções mais eficazes”, explica Pedro Tito.

Além da osteoporose, outras doenças crônicas também podem afetar pessoas mais jovens. A hipertensão arterial, que é a doença crônica de maior prevalência no mundo, atinge cerca de 30% da população brasileira, segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), sendo que 5% desse total são crianças e adolescentes.

Entre os jovens, o surgimento da hipertensão costuma estar relacionado a hábitos de vida pouco saudáveis, como alimentação desequilibrada e sedentarismo. Exames como MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) e Holter são essenciais para identificar alterações silenciosas no sistema cardiovascular e orientar o acompanhamento médico adequado.
 
Já o diabetes tipo 2 tem se tornado mais frequente entre adolescentes, impulsionado pelo sedentarismo e pela má alimentação. O aumento de casos também se relaciona com a obesidade infantil: um estudo do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) da Fiocruz, divulgado em novembro de 2023, mostrou que o Brasil tinha, em 2022, quase três vezes mais crianças de até cinco anos com excesso de peso — incluindo sobrepeso e obesidade — em comparação à média global (14,2% contra 5,6%).

Exames como glicemia de jejum e hemoglobina glicada são essenciais para o diagnóstico do diabetes, enquanto a função renal e hepática deve ser monitorada para prevenir complicações futuras.

Independentemente da idade, cuidar da saúde é um compromisso constante. “O diagnóstico precoce, aliado ao acompanhamento médico regular e à realização de exames preventivos, é o caminho mais seguro para preservar a qualidade de vida e evitar agravamentos desnecessários”, reforça o médico. 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

compartilhe