Nas últimas semanas, uma receita simples, feita com ingredientes como linhaça, psyllium, chia, aveia e maca peruana, viralizou nas redes sociais como um suposto “atalho” para perder peso e desinflamar o corpo. Apelidada de “farinha da felicidade” ou até de “Ozempic natural”, a mistura promete atuar em múltiplas frentes:
- Controlar o apetite
- Melhorar o humor
- Equilibrar o intestino
- Acelerar o metabolismo
Mas afinal, funciona?
A nutricionista Carla Fiorillo, especialista em alimentação funcional e coordenadora de conteúdo do Professional HUB da Puravida, explica que esses ingredientes até têm propriedades nutricionais importantes, mas não existe um composto mágico. “O que faz a diferença é o contexto: uma alimentação equilibrada, o estilo de vida e a consistência ao longo do tempo.”
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Ela ressalta que comparar a mistura ‘milagrosa’ com medicamentos injetáveis para emagrecimento é um erro conceitual. “São mecanismos completamente diferentes. Um é um medicamento com efeito sobre hormônios da saciedade. O outro é uma combinação de fibras e micronutrientes que atuam na digestão, trânsito intestinal e saciedade – quando bem orientados”, afirma.
O que tem na “farinha da felicidade” e para que serve cada ingrediente?
Apesar da fama exagerada, a mistura pode sim ser funcional se inserida com cautela e corretamente na rotina. Carla explica os principais benefícios dos ingredientes mais comuns:
- Psyllium: fibra solúvel que ajuda a formar um gel no estômago, aumentando a saciedade e auxiliando o funcionamento intestinal.
- Chia e linhaça: fontes de ômega-3 vegetal e fibras. Contribuem para a regulação do intestino e saúde cardiovascular.
- Aveia: rica em betaglucana, fibra que reduz o colesterol e regula a glicemia.
- Maca peruana: raiz adaptógena, com potencial para melhorar disposição, libido e equilíbrio hormonal.
- Gérmen de trigo: boa fonte de vitamina E e zinco, com ação aontioxidante.
- Farinha de banana verde: contém amido resistente, que alimenta a microbiota intestinal e contribui para controle glicêmico.
- Farinha de beterraba ou maçã: antioxidantes e ricas em fibras, com sabor adocicado natural.
“Esses ingredientes têm uma ação conjunta interessante, mas precisam ser introduzidos com critério e acompanhamento nutricional. O consumo exagerado de fibras, por exemplo, pode causar gases, desconforto abdominal e até dificultar a absorção de medicamentos”, reforça a nutricionista.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), inclusive, alerta que o consumo excessivo de fibras sem aumento proporcional da ingestão de água pode causar constipação, distensão abdominal e reduzir a absorção de minerais.
Como usar?
Carla reforça que o ideal é que o uso dessa “farinha” seja personalizado e acompanhado por um nutricionista, considerando o perfil individual de cada pessoa, mas, em geral, a quantidade segura para cada um (diluída em água ou incorporada em refeições) já pode oferecer os benefícios esperados. “O segredo está na dosagem, na hidratação e no equilíbrio com o restante da alimentação. Fibras em excesso não trazem mais resultados – pelo contrário, podem gerar sobrecarga e desconforto”, explica.
O papel da informação na escolha
Para Carla, o lado positivo desse fenômeno é o interesse crescente da população por ingredientes naturais e funcionais. Mas o alerta permanece: não existe solução única para todos os problemas. “O que realmente sustenta os resultados é a combinação entre bons hábitos, sono de qualidade, atividade física e uma nutrição inteligente. Mais do que buscar fórmulas mágicas, o consumidor precisa buscar informações confiáveis e entender o que está colocando no corpo”, afirma.