Algumas pessoas só recebem o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) na vida adulta. Muitas delas só descobrem que são autistas após os 30 anos, quando dificuldades de socialização e adaptação se tornam mais evidentes. Isso acontece porque, na infância, alguns sinais podem passar despercebidos, sendo confundidos com traços de personalidade, timidez ou, até mesmo, frescura.

Compreender esses indícios na vida adulta é fundamental para buscar um diagnóstico correto. Segundo a Associação Brasileira de Autismo (Abraça), o reconhecimento tardio não apenas ajuda a dar sentido a uma história de vida, mas também abre portas para estratégias de adaptação e melhora significativa na qualidade de vida.

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O diagnóstico que não veio na infância

Por décadas, o autismo foi associado quase que exclusivamente a crianças com dificuldades de interação social e atrasos na fala. Essa visão limitou a identificação de casos mais sutis, especialmente em mulheres, que frequentemente desenvolvem mecanismos de "camuflagem" para se encaixar socialmente.

Adultos hoje diagnosticados com TEA relatam que, quando crianças, eram rotulados como "tímidos demais" ou "exigentes". O que parecia apenas um traço de personalidade pode, na verdade, ser um conjunto de características que exigem investigação profissional. É essencial diferenciar comportamentos típicos da infância de sinais que indicam o espectro para evitar autodiagnósticos e buscar a avaliação de um neurologista ou psiquiatra.

Sinais que se manifestam na vida adulta

Muitos comportamentos que passam despercebidos na infância se tornam grandes desafios no ambiente de trabalho e nos relacionamentos. Esses sinais, muitas vezes, são mal interpretados e associados a outras condições de saúde mental, como ansiedade ou TDAH.

Entre as principais características do autismo que só se tornam evidentes na vida adulta estão:

  • Sensibilidade sensorial: dificuldade em lidar com ambientes ruidosos, luzes fortes ou odores intensos, isso pode levar a um desgaste emocional significativo e exaustão;

  • Interesses restritos: ter um ou mais hobbies intensos e específicos, que consomem grande parte do tempo e da energia, no entanto, é diferente de uma paixão, pois envolve uma necessidade de aprofundamento constante;

  • Dificuldade social: sentir-se deslocado ou ter problemas para compreender piadas, ironias e expressões faciais, isso pode prejudicar a formação de amizades e a participação em eventos sociais.

  • Apego à rotina: ter uma forte necessidade de seguir uma rotina rígida, com dificuldade de lidar com mudanças de planos ou imprevistos.

Apesar da identificação desses sinais, apenas um especialista pode realizar um diagnóstico preciso, diferenciando o autismo de outras condições com sintomas semelhantes.

Quanto mais cedo acontece o diagnóstico, maiores são as chances de uma vida mais leve

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Os desafios e benefícios do diagnóstico tardio

Para muitos, o diagnóstico tardio é um alívio. Ele permite dar nome às dificuldades e à sensação constante de "não se encaixar". A descoberta ajuda a pessoa a desenvolver estratégias práticas para lidar com o dia a dia, desde a organização da rotina até a forma de se comunicar. No entanto, a confirmação clínica é fundamental para não confundir o TEA com outras condições neurológicas ou emocionais.

Um fator que explica a demora no diagnóstico é a forma como o autismo se manifesta de maneira diferente entre os gêneros. As mulheres tendem a ‘camuflar’ mais seus sinais, reproduzindo comportamentos sociais aprendidos para se adaptar ao ambiente. Essa estratégia, porém, leva a um esgotamento emocional e a um sofrimento silencioso que pode ser confundido com ansiedade ou depressão.

A falta de informação no passado e o foco em estereótipos de autismo mais severos contribuíram para que muitos adultos hoje só conseguissem entender suas dificuldades depois de anos de luta. Com o avanço do conhecimento, as pessoas têm mais acesso a informações que descrevem as nuances do espectro, incentivando-as a buscar ajuda profissional.

O diagnóstico de autismo em adultos é um ponto de partida para o autoconhecimento e para a busca de estratégias mais eficazes de adaptação.

Alguns dos próximos passos podem incluir:

  • participar de grupos de apoio para autistas adultos;

  • iniciar acompanhamento terapêutico para desenvolver habilidades sociais e emocionais;

  • ajustar a rotina para reduzir a sobrecarga sensorial.

Quanto mais cedo acontece o diagnóstico, maiores são as chances de uma vida mais leve, com menos sofrimento e mais possibilidades de crescimento.

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