OMS inclui semaglutida na lista de medicamentos essenciais
Recomendação vale para pessoas com diabetes tipo 2, complicações no coração ou nos rins somados à obesidade
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Siga noA Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nessa sexta-feira (5/9) a inclusão da semaglutida na Lista de Medicamentos Essenciais (EML 2025). A decisão reconhece o papel do medicamento, pertencente à classe dos agonistas do receptor de GLP-1, no tratamento do diabetes tipo 2 em adultos com doença cardiovascular estabelecida, doença renal crônica e obesidade (IMC 30 kg/m²) quando esta gera impacto significativo na saúde física ou na qualidade de vida.
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Para inclusão, o Comitê de Especialistas da OMS avaliou evidências científicas de que a semaglutida melhora o controle glicêmico, diminui riscos cardiovasculares e renais, favorece a perda de peso e pode até reduzir a mortalidade precoce.
“Se a OMS reconhece como essencial um medicamento que, entre outros efeitos, promove perda de peso em pessoas com diabetes, fica claro que a obesidade não pode mais ser tratada como uma questão estética. Ela é uma doença crônica, com impactos graves, e que precisa ser abordada com seriedade pelas políticas públicas”, ressalta o endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e presidente eleito da World Obesity Federation (WOF) 2027-2028.
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O reconhecimento da semaglutida vem acompanhado de um alerta. A OMS destacou que o alto preço ainda limita o acesso, restrito a sistemas de saúde de países mais ricos. Por isso, recomendou que o tratamento seja priorizado para quem mais se beneficia e ressaltou que a expiração das patentes nos próximos anos abrirá espaço para biossimilares, estimulando a concorrência e a redução de preços.
“A OMS é muito conservadora em suas escolhas e leva em conta, sobretudo, critérios de custo-efetividade. Por isso a decisão se restringe a grupos específicos – pessoas com diabetes e comorbidades cardiovasculares ou renais – onde o risco de não tratar è maior e justifica o investimento dos sistemas de saúde. Ainda assim, é um avanço extraordinário que mostra como esses tratamentos estão quebrando paradigmas na medicina”, acrescenta Halpern.
A decisão da OMS ganha ainda mais relevância no Brasil, que recentemente viveu a negativa da Conitec para incorporar a semaglutida e a liraglutida no SUS. “A resolução da OMS evidencia que o debate sobre acesso precisa avançar no Brasil. A obesidade caminha lado a lado com o diabetes e com complicações cardiovasculares. Muitas vezes, quando o paciente descobre o diabetes, ele já apresenta uma complicação instalada. Ignorar o tratamento nesse estágio significa perpetuar a inércia clínica e condenar milhares de brasileiros a desfechos graves”, destaca Cynthia Valério, diretora da Abeso.
A especialista acrescenta que a decisão internacional pode ser um catalisador para mudanças no país. “Quando a OMS reconhece um medicamento como essencial, envia um sinal forte para governos, sociedades médicas e sistemas de saúde. É um convite a rever políticas públicas, ampliar acesso e enfrentar a obesidade como o problema de saúde que de fato é”, destaca Fabio Trujilho, presidente da Abeso e coordenador do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) .
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A inclusão da semaglutida na EML deve orientar os países a priorizar pacientes com diabetes tipo 2 e comorbidades, garantindo que o acesso ocorra onde o impacto é maior, até que a queda das patentes e a chegada de biossimilares permitam expandir o tratamento a mais pessoas. Para a SBEM, o anúncio também envia um recado claro aos governos. “Quando a OMS classifica uma medicação como essencial, está dizendo que os países devem priorizá-la. Esperamos que o Brasil acolha essa recomendação e avance na oferta de tratamentos que reduzem riscos e evitam complicações do diabetes”, afirma Neuton Dornelas, presidente da SBEM.
O vice-presidente da Abeso, Bruno Halpern, relembra que ainda há muito preconceito com relação a obesidade e o tratamento, especialmente medicamentoso, para doença e avalia que o reconhecimento da OMS reforça que tratar essa condição envolve ciência e Medicina e não modismos. “Esse é mais um passo para afastar o termo pejorativo de ‘canetinha emagrecedora’ e mostrar que estamos falando de substâncias estudadas, capazes de mudar o curso da progressão dessa doença em todo mundo”.
Hoje, mais de 800 milhões de pessoas vivem com diabetes no mundo e mais de 1 bilhão convivem com obesidade. Ambas as condições estão intimamente ligadas ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e renais, duas das principais causas de mortalidade global.