Por que a saúde mental de crianças virou uma emergência no Brasil
O aumento de diagnósticos de ansiedade e depressão em crianças e adolescentes acendeu um alerta nacional; entenda os fatores por trás dessa nova realidade
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A saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil se tornou uma questão urgente de saúde pública. O recente alerta do Ministério Público de Minas Gerais, que recomendou a ampliação do atendimento psicológico para jovens acolhidos em Belo Horizonte, é apenas um sintoma de um problema muito maior. A medida reflete uma realidade que pais, educadores e profissionais de saúde observam com preocupação crescente: o aumento expressivo nos diagnósticos de ansiedade e depressão entre os mais jovens.
O cenário atual não é fruto de um único fator, mas de uma combinação complexa de pressões sociais, mudanças comportamentais e os efeitos ainda presentes da pandemia de Covid-19. O isolamento, a interrupção abrupta das rotinas e a convivência intensa com o medo e a incerteza deixaram marcas profundas. Agora, com a retomada das atividades, as dificuldades de socialização e a pressão por um desempenho acadêmico e social se intensificaram, criando um ambiente mais propício para o desenvolvimento de transtornos mentais.
Leia: Mais de 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos mentais, revela OMS.
Os fatores por trás da crise
A vida moderna impõe um ritmo acelerado que também afeta as crianças. A pressão escolar por notas altas e a preparação para o futuro começam cada vez mais cedo. Fora da sala de aula, a cobrança por popularidade e aceitação social, amplificada pelas redes sociais, cria um ambiente de comparação constante. Essa busca incessante por um ideal de perfeição, muitas vezes inatingível, gera frustração e ansiedade.
O ambiente familiar também desempenha um papel fundamental. Instabilidade financeira, conflitos domésticos e a falta de um diálogo aberto sobre emoções contribuem para o sofrimento psíquico. Muitas vezes, os próprios pais estão sobrecarregados e não conseguem oferecer o suporte emocional necessário, o que agrava a sensação de desamparo dos filhos.
Outro elemento decisivo é o uso excessivo de telas. A exposição contínua a smartphones, tablets e computadores está associada a problemas como dificuldade de sono, sedentarismo e isolamento social. O mundo virtual, com seus algoritmos projetados para prender a atenção, consome um tempo precioso que antes era dedicado a brincadeiras ao ar livre, interações cara a cara e ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais essenciais.
Sinais de alerta que não podem ser ignorados
Identificar que uma criança ou adolescente precisa de ajuda nem sempre é simples. Muitos sinais podem ser confundidos com comportamentos típicos da idade. No entanto, a intensidade de certas atitudes devem servir de alerta para pais e cuidadores. É fundamental observar mudanças de comportamento que fogem ao padrão.
A seguir, listamos alguns dos principais sinais de que algo pode não estar bem:
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Mudanças de humor: Irritabilidade excessiva, tristeza constante, crises de choro sem motivo aparente ou apatia são indicativos importantes. A criança pode parecer mais reativa ou, ao contrário, indiferente a tudo.
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Isolamento social: Perder o interesse em brincar com amigos, evitar atividades em grupo que antes gostava e preferir ficar sozinho no quarto com frequência são comportamentos que merecem atenção.
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Queda no rendimento escolar: Dificuldades de concentração, queda brusca nas notas e falta de interesse pelas aulas podem sinalizar que a criança está enfrentando problemas emocionais que afetam sua capacidade de aprendizado.
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Alterações no sono e no apetite: Insônia, pesadelos frequentes ou excesso de sono, assim como a perda de apetite ou o ato de comer compulsivamente, são manifestações físicas comuns de sofrimento psíquico.
O desafio do acesso ao tratamento
Reconhecer os sinais é o primeiro passo, mas encontrar ajuda adequada é um dos maiores desafios. A rede pública de saúde enfrenta longas filas de espera para consultas com psicólogos e psiquiatras infantis. A demanda cresceu de forma rápida no Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos anos.
Nas escolas, a presença de psicólogos ainda é insuficiente para atender às necessidades dos alunos. O tratamento na rede privada, por sua vez, tem um custo elevado e inacessível para a maioria da população brasileira. Essa dificuldade no acesso ao cuidado agrava a situação, permitindo que quadros leves evoluam para transtornos mais sérios por falta de uma intervenção precoce.
A situação exige uma mobilização conjunta da sociedade. É preciso criar ambientes seguros para que crianças e adolescentes se sintam à vontade para expressar seus sentimentos. Investir em políticas públicas que ampliem o acesso a tratamentos e promovam a educação emocional nas escolas não é mais uma opção, mas uma necessidade para garantir o futuro saudável das próximas gerações.
Por que a saúde mental de crianças e adolescentes piorou?
A piora está ligada a uma combinação de fatores. A pandemia de Covid-19 intensificou o isolamento e a ansiedade.
Além disso, a pressão escolar e social, somada ao uso excessivo de telas e redes sociais, criou um ambiente de comparação e estresse constante.
Qual o impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens?
As redes sociais promovem uma cultura de comparação que pode afetar a autoestima. A busca por validação através de curtidas gera ansiedade.
O cyberbullying e a exposição a conteúdos inadequados também são riscos. O uso excessivo pode levar ao isolamento e a problemas de sono.
Onde buscar ajuda para a saúde mental de crianças no Brasil?
A primeira porta de entrada é o Sistema Único de Saúde (SUS), através dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e das Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Algumas escolas oferecem apoio psicológico. Universidades com cursos de psicologia costumam ter clínicas-escola com atendimento a baixo custo.