DOR

Luto por pet pode ser tão intenso quanto a perda de um membro da família

Quando um pet parte, a perda vai muito além do animal em si. É a quebra de vínculos, rotinas e significados profundamente enraizados

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Recentemente, Lewis Hamilton compartilhou a perda de seu cachorro Roscoe. Muitos acompanharam do período da doença do pet até o momento de sua morte, quando Hamilton fez questão de estar presente, afastando-se dos treinos. O atleta contou que Roscoe morreu em seus braços, e a cena reacendeu o debate sobre como o luto por um pet pode abalar a vida de alguém.

De acordo com a psicoterapeuta e pesquisadora da University of Saskatchewan, especialista em vínculo humano-animal e luto pet Renata Roma, o luto pela perda do animal de estimação pode ser tão intenso quanto a dor vivenciada pela morte de um membro da família. “Para muitas pessoas, na verdade, não existe diferença, já que o lugar emocional que o pet ocupa é central em suas vidas”.



A fisioterapeuta Luciana Martine da Silva, 42, perdeu sua cadela Lindinha há quase dez anos. A poodle, na época com 15 anos, foi vítima de câncer e precisou passar por tratamento, o que não foi muito bem recebido no convívio profissional da tutora.

“Quando perdi a Lindinha, tive muito apoio da minha família e do meu marido, mas no trabalho foi muito difícil, porque as pessoas muitas vezes não entendiam e havia julgamentos, principalmente quando ela estava doente e eu precisava me afastar, ou quando fiquei triste por muito tempo. Ela esteve comigo de quando eu estava solteira até quando me casei, me incentivava a caminhar, dava sentido aos meus dias. Era um convívio leve que me trazia conforto. Quando ela partiu, foi como perder um pedaço de mim”.

Luto não tem validade

Renata Roma ressalta que o luto não tem prazo de validade. “Muitas vezes, mesmo após anos, a dor ainda pode ser vivida intensamente, especialmente quando não há suporte social”. Conforme explica a especialista, esse “perder um pedaço de si” acontece porque os animais estruturam rotinas, acompanham em pequenos e grandes instantes do cotidiano e se tornam parte essencial da identidade e da história de vida de seus tutores. “Quando um pet parte, a perda vai muito além do animal em si. É a quebra de vínculos, rotinas e significados profundamente enraizados”.

Sócia-proprietária da Ponte do Arco-Íris Memorial Pet, Tatiana Paula Francisco destaca que oferecer um suporte humanizado nessa situação é essencial. “Cada despedida precisa ser acolhida com respeito e sensibilidade, porque o pet ocupa um lugar único na vida da família. Receber esse cuidado não elimina a dor, mas traz amparo e dignidade à hora da despedida”.

Para ela, é fundamental disponibilizar rituais de despedida, lembranças simbólicas e acompanhamento psicológico. “Os animais fazem parte da história da pessoa, e no meu contato com os tutores percebo o quanto a despedida e o acolhimento são importantes”.

Renata Roma reafirma que a rede de apoio faz toda a diferença. Ela exemplifica com um estudo do ano passado, conduzido por pesquisadores chineses e publicado na revista Behavioral Sciences. “O estudo mostra que, quando existe um reconhecimento social da perda, é mais fácil para as pessoas atravessarem o luto. Quando esse suporte não está presente, e o vínculo com o animal de estimação é muito forte e significativo, há maior risco de sintomas depressivos e um impacto relevante na saúde mental”.

Culpa e falta de acolhimento

Além da incompreensão social, a culpa é outra questão que, muitas vezes, envolve a perda de um pet. Luciana conta que se questionou sobre seu desempenho como tutora após a morte de Lindinha. “Eu sei que fiz o meu melhor, mas às vezes me perguntava se poderia ter feito mais e isso me torturava”.

De acordo com Renata Roma, uma outra publicação científica feita na revista Death Studies em 2022, conduzida por pesquisadores da Austrália, avaliou 19 estudos que exploraram o luto pela perda de um animal de estimação, e a análise revelou que sentimentos como a culpa e a importância do suporte social são temas centrais nos relatos de pessoas enlutadas.

“Os autores destacam que, ao longo da vida, muitas pessoas convivem com vários animais e acabam enfrentando múltiplas perdas, que se acumulam e deixam marcas emocionais profundas. Entre os fatores mais frequentes, a culpa aparece como elemento recorrente, especialmente em situações de eutanásia, quando os tutores muitas vezes sentem tristeza e responsabilidade pela decisão, ainda que se trate de uma escolha feita por amor e cuidado”.

Embora a sociedade ainda esteja começando a reconhecer a importância do luto por um pet, como a comoção diante da perda de Roscoe, o cão de Lewis Hamilton, ainda há desafios. “Quando vivemos uma experiência tão dolorosa, o cérebro tenta encontrar sentido. Nessa busca por uma explicação, é comum que a responsabilidade recaia sobre o tutor, já que ele foi o principal cuidador e responsável pelo animal.”

Esse mecanismo cognitivo, no entanto, acaba intensificando os sentimentos de culpa, mesmo em situações que estavam fora do controle da pessoa, pondera a especialista em luto. “É fundamental oferecer suporte às pessoas que atravessam esse tipo de luto, pois isso pode ajudar a prevenir problemas de saúde mental mais graves, além de ser uma forma humana e empática de acolher o sofrimento”.


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