Receber o diagnóstico de câncer de mama é um momento de grande impacto emocional para qualquer mulher. No entanto, quando a paciente também é mãe, especialmente de crianças pequenas, o peso da notícia costuma ser ainda maior. O medo da doença se mistura à preocupação com o cuidado dos filhos e à necessidade de reorganizar completamente a rotina familiar.

De acordo com Luana Carvalho, médica com foco em saúde mental materna, esse cenário exige uma atenção especial, tanto dos profissionais de saúde quanto da rede de apoio da paciente.

“As mães enfrentam um luto duplo: o luto pelo corpo saudável que se perde e o luto pela rotina materna que não poderá ser mantida da mesma forma. Isso abala profundamente a identidade feminina e materna”, explica a especialista.

O impacto emocional nas mães com filhos pequenos

Após o diagnóstico, muitas mulheres direcionam o foco não à própria saúde, mas ao bem-estar dos filhos. A ideia de precisar se afastar temporariamente, lidar com limitações físicas e depender de ajuda desperta insegurança, culpa e sensação de inadequação.

“O adoecimento traz uma ruptura abrupta no papel materno. A mulher sente que falha quando não consegue manter o mesmo nível de presença e energia de antes, o que potencializa a culpa e a tristeza”, afirma Luana.

Além das mudanças físicas e emocionais, o tratamento pode exigir afastamento do trabalho, restrição de contato em alguns períodos e adaptação da rotina doméstica, o que interfere diretamente na dinâmica familiar.

Pesquisas recentes apontam que mães com filhos pequenos apresentam maior risco de sofrimento psíquico durante o tratamento do câncer de mama, justamente pela sobreposição entre as demandas maternas e as exigências do tratamento oncológico.

 

O desafio de conciliar tratamento e maternidade

A rotina de quimioterapia, radioterapia e consultas médicas exige tempo e energia, recursos que muitas mães já sentem limitados mesmo antes do diagnóstico. Surge, então, a culpa por não conseguir desempenhar todas as funções que a maternidade exige.

“Essa culpa é um dos principais fatores que agravam o sofrimento emocional. Muitas mulheres se isolam por não querer preocupar os filhos ou os familiares, o que pode levar à ansiedade e à depressão”, alerta a médica.

De acordo com a especialista, esse é um momento em que o acolhimento psicológico se torna essencial. O acompanhamento com profissionais de saúde mental ajuda a reduzir o sofrimento, trabalhar a aceitação e criar estratégias emocionais para enfrentar o tratamento.

A importância da rede de apoio

Contar com uma rede de apoio sólida faz diferença direta na recuperação emocional e física das mães. Familiares, amigos e comunidade podem contribuir de forma significativa, oferecendo ajuda prática, como cuidar das crianças, preparar refeições ou acompanhar consultas, e também escuta empática e suporte emocional.

A presença dos filhos, mesmo que adaptada, também é importante. Manter o vínculo afetivo, conversar de forma honesta e adequada à idade da criança e permitir que ela expresse seus sentimentos ajuda a reduzir o medo e a ansiedade dentro da família.

“Quando acolhemos uma mãe em tratamento oncológico, estamos cuidando de toda a família. A saúde mental materna precisa ser prioridade, mesmo em meio à luta contra o câncer”, reforça Luana.

Um olhar mais humano sobre o tratamento

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no Brasil e representa uma das principais causas de afastamento temporário das mães de suas atividades cotidianas. Por isso, o cuidado integral, físico e emocional, deve ser parte essencial do tratamento.

O acompanhamento psicológico, o diálogo com os filhos e o fortalecimento da rede de apoio são fatores de proteção fundamentais que ajudam a mulher a atravessar o processo de forma mais leve e com menor risco de adoecimento mental.

“Não é apenas sobre tratar o câncer, mas sobre cuidar da mulher em sua totalidade, mãe, profissional, filha, parceira. A saúde mental é um pilar que sustenta todo o processo de cura e de reconstrução”, afirma a especialista.

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