Solidão de idosos no fim de ano exige atenção e inclusão da família
Sentimento em pessoas mais velhas tende a se intensificar durante festas porque esses momentos muitas vezes reforçam ausências
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Reuniões familiares, tradicionalmente associadas à alegria e à celebração, podem ter um significado bem diferente para muitas pessoas idosas. Datas como Natal e Ano Novo tendem a intensificar sentimentos de solidão, exclusão e tristeza, mesmo quando o idoso está cercado de familiares. O alerta é da geriatra Simone de Paula Pessoa Lima, da Saúde no Lar, que destaca a importância de um olhar mais atento e respeitoso durante as confraternizações.
Segundo a médica, esses períodos costumam evidenciar ausências marcantes. “A solidão em pessoas idosas tende a se intensificar durante festas porque esses momentos muitas vezes reforçam ausências, seja de cônjuges, amigos ou familiares já falecidos, seja da própria participação ativa em celebrações”, explica.
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Além disso, limitações comuns do envelhecimento - como dificuldades de mobilidade, audição ou alterações cognitivas - podem dificultar a interação e aumentar a sensação de não pertencimento. “É importante compreender que a solidão não se trata apenas da ausência de companhia, mas da sensação de não pertencer ou de não ser mais valorizado no convívio familiar”, ressalta.
Sinais de alerta durante as celebrações
Nem sempre o sofrimento emocional do idoso é explícito. De acordo com Simone, os sinais costumam ser discretos e, por isso, frequentemente ignorados. “Os sinais podem ser sutis, como o isolamento voluntário em um cômodo da casa, falas mais negativas, recusa em participar de atividades ou refeições coletivas, apatia e alterações no sono ou no apetite”, afirma.
Em algumas situações, o idoso permanece fisicamente presente, mas emocionalmente distante. “Ele pode parecer ‘desligado’ da festa, apenas observando passivamente, sem se envolver”, diz. Esses comportamentos, segundo a geriatra, não devem ser naturalizados. “Devem ser valorizados como possíveis indicadores de sofrimento emocional ou depressão, que é comum nessa faixa etária e pode ser agravada por situações de exclusão social”, alerta.
Inclusão começa no planejamento
Para evitar que as festas se tornem um momento de desconforto, a inclusão do idoso deve ser pensada antes mesmo do encontro. “A inclusão deve começar pelo planejamento: adaptar o ambiente para facilitar a mobilidade, garantir assentos confortáveis e acessíveis, evitar excesso de ruído que prejudique a audição e reservar horários compatíveis com o ritmo do idoso”, orienta Simone.
Durante a confraternização, pequenas atitudes fazem diferença. “É fundamental promover a escuta ativa, envolver o idoso em conversas significativas e convidá-lo para pequenas tarefas que valorizem sua presença”, afirma.
Contar histórias, ajudar a servir ou escolher músicas são exemplos simples. “O respeito aos limites é essencial: não forçar participações, mas criar oportunidades para que ele se sinta útil, visto e respeitado.”
O que evitar no convívio familiar
A geriatra chama atenção para comportamentos que, embora comuns, são prejudiciais. “Deve-se evitar atitudes infantilizadoras, como falar com a pessoa idosa em tom condescendente, ignorar sua opinião ou rir de dificuldades cognitivas ou físicas”, diz. Comentários depreciativos também devem ser abolidos. “Frases como ‘ele já não entende mais nada’ ou ‘não ouve mesmo’ ferem a dignidade da pessoa idosa.”
Outro erro frequente, segundo ela, é o isolamento sob o pretexto de proteção. “Também é desaconselhado isolá-lo da festa para que ‘descanse’, sem consultar sua vontade. A falta de paciência ou de espaço para que a pessoa idosa se expresse são barreiras graves à sua participação.”
Protagonismo e saúde emocional
Simone destaca que o idoso também tem papel ativo na própria inclusão, desde que receba apoio adequado. “A pessoa idosa tem papel ativo na sua inserção social, desde que lhe sejam dadas condições para tal”, afirma. Incentivo, escuta e respeito às preferências são fundamentais. “Atitudes simples, como perguntar o que ele gostaria de fazer na festa, dar espaço para sua fala e reconhecer sua história, reforçam o pertencimento.”
Do ponto de vista médico, a prevenção da solidão vai além das datas comemorativas. “A manutenção de vínculos afetivos, a rotina de atividades significativas, o acompanhamento da saúde mental e o estímulo à convivência intergeracional são estratégias fundamentais”, orienta.
Quando há sinais persistentes de sofrimento emocional, a recomendação é buscar avaliação profissional. “Cuidar da saúde emocional do idoso é tão importante quanto zelar por sua saúde física.”
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Mesmo idosos ativos e independentes merecem atenção especial nesse período. “A autonomia não elimina a necessidade de vínculo afetivo e de pertencimento”, reforça a geriatra. Envolvê-los no planejamento das festas e reconhecer seu papel dentro da família são formas de valorizar sua presença. “Celebrar a participação ativa do idoso reforça sua dignidade e contribui diretamente para sua saúde emocional."