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Do Pará para o Brasil: a trajetória do tecnobrega e sua força popular

Priscila Senna é um dos grandes nomes atuais, mas o gênero tem uma rica trajetória que mistura o brega tradicional com batidas eletrônicas

Do Pará para o Brasil: a trajetória do tecnobrega e sua força popular
Do Pará para o Brasil: a trajetória do tecnobrega e sua força popular
Crédito: A cantora Priscila Senna representa uma nova fase do tecnobrega, que dialoga com outras vertentes da música popular brasileira sem perder sua essência (Divulgação)

O show de Priscila Senna no Marco Zero, em Recife, para a gravação de seu novo DVD, é mais do que um marco na carreira da artista. É a celebração de um ritmo que nasceu na periferia, criou um modelo de negócio próprio e, aos poucos, conquistou o Brasil: o tecnobrega. Com sua mistura de romantismo e batidas eletrônicas aceleradas, o gênero que tem raízes no Pará mostra uma força que se renova a cada geração.

A história desse som começa longe dos grandes centros do Sudeste, mais especificamente em Belém. Lá, a cultura das “aparelhagens”, equipes de som gigantescas que animam festas populares, foi o berço para uma nova sonoridade. Produtores e DJs começaram a experimentar, pegando as canções de brega, que já eram um sucesso local, e adicionando batidas eletrônicas e sintetizadores, criando algo totalmente novo e contagiante.

Onde tudo começou: As aparelhagens de Belém

As festas de aparelhagem no Pará são o coração do tecnobrega. Elas não são apenas eventos para dançar, mas verdadeiros laboratórios musicais. Nesses palcos, DJs e produtores testam novas músicas e remixes ao vivo, sentindo a reação do público em tempo real. Se uma canção agrada, ela se espalha rapidamente pela cidade.

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Esse ecossistema funciona de forma independente das grandes gravadoras. A produção é feita em estúdios caseiros, com tecnologia acessível, o que permitiu que muitos artistas surgissem sem depender do sistema tradicional da indústria musical. As músicas são gravadas e distribuídas em CDs vendidos a preços baixos pelos próprios camelôs nas festas e nas ruas, um modelo que prioriza a popularidade e a agenda de shows.

Essa lógica de distribuição informal e direta foi fundamental para a popularização do ritmo. A música chegava primeiro ao povo, que a legitimava nas pistas de dança. As aparelhagens, como Super Pop Live e Rubi, se tornaram instituições, com seus próprios DJs, MCs e um público fiel que acompanha as novidades a cada fim de semana.

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A fórmula do sucesso: brega, batidas e tecnologia

A sonoridade do tecnobrega é inconfundível. A base vem do brega tradicional, com suas letras que falam de amor, paixão, traição e sofrimento. Esses temas, que geram forte identificação com o público, são combinados com uma batida eletrônica acelerada, geralmente acima de 150 batidas por minuto (BPM), o que torna a música extremamente dançante.

Os sintetizadores são outro elemento central, criando melodias marcantes e efeitos sonoros que dão uma cara futurista ao som. A voz, muitas vezes, é modificada com efeitos, como o auto-tune, não para corrigir a afinação, mas como um recurso estético que se tornou uma assinatura do gênero. É uma fusão que une o sentimentalismo do brega com a energia da música eletrônica de pista.

Essa combinação se provou poderosa. Ela modernizou um estilo já amado pelo público e o tornou atraente para uma nova geração, que cresceu ouvindo tanto os clássicos do brega paraense quanto a música pop internacional. O resultado é um som que respeita suas raízes, mas que não tem medo de experimentar e evoluir.

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Do Pará para o Brasil: os artistas que romperam a bolha

Embora o tecnobrega já fosse um fenômeno no Norte, sua explosão nacional veio com artistas que souberam traduzir essa energia para o resto do país. A Banda Calypso, liderada por Joelma e Chimbinha, foi uma das grandes responsáveis por abrir as portas. Apesar do seu som ser mais próximo do calipso, a banda incorporou muitos elementos do tecnobrega e da cultura paraense, apresentando essa estética a um público massivo.

Depois, Gaby Amarantos surgiu como um furacão, levando o tecnobrega em sua forma mais autêntica para o horário nobre. Com o hit “Ex Mai Love”, tema de novela, e uma estética visual vibrante e empoderada, ela se tornou a “Beyoncé do Pará” e deu um rosto pop ao movimento, conquistando prêmios e reconhecimento da crítica.

Hoje, artistas como Priscila Senna, conhecida como “A Musa”, dão continuidade a esse legado. Embora sua música tenha influências do arrocha e do sertanejo, a base romântica e dançante do tecnobrega é evidente. Ela representa uma nova fase do gênero, que dialoga com outras vertentes da música popular brasileira sem perder sua essência periférica e festiva.

Mais que música: um modelo de negócio inovador

O tecnobrega não é apenas um estilo musical, mas também um case de empreendedorismo e inovação. Ao criar seu próprio circuito de produção, divulgação e distribuição, o movimento desafiou a lógica da indústria fonográfica tradicional, que por muito tempo ignorou a produção cultural das periferias do Norte do país.

O foco nunca foi a venda de discos, mas a construção de uma base de fãs sólida que garantisse a lotação dos shows. A música, distribuída de forma barata ou até gratuita, funcionava como um cartão de visitas. O lucro vinha das apresentações ao vivo nas festas de aparelhagem e em eventos por toda a região.

Esse modelo se mostrou resiliente e adaptável, sobrevivendo às transformações do mercado musical com a chegada do streaming. A força do tecnobrega continua na sua conexão direta com o público e na sua capacidade de transformar a cultura local em um produto pop, vibrante e que faz o Brasil inteiro dançar.

O que é o tecnobrega?

O tecnobrega é um gênero musical que surgiu em Belém, no Pará. Ele mistura as melodias e letras românticas do brega tradicional com batidas eletrônicas aceleradas.
O ritmo é marcado pelo uso intenso de sintetizadores e teclados, criando uma sonoridade dançante e moderna, popular em festas de aparelhagem.

Como o tecnobrega ficou famoso no Brasil?

O gênero ganhou fama nacional principalmente através de artistas que romperam a bolha regional. A Banda Calypso foi uma das pioneiras a levar a estética para o grande público.
Posteriormente, Gaby Amarantos consolidou o ritmo na cena pop, com clipes e músicas em trilhas sonoras de novelas, apresentando o som para todo o país.

Qual a diferença entre tecnobrega e o brega tradicional?

A principal diferença está na sonoridade. O brega tradicional é mais lento e focado em instrumentos como guitarra, baixo e bateria, com uma pegada mais romântica.
O tecnobrega acelera o ritmo, incorpora batidas eletrônicas, sintetizadores e efeitos de voz, transformando a música em um som feito para as pistas de dança.

Por que as festas de aparelhagem são importantes para o tecnobrega?

As aparelhagens são sistemas de som gigantescos que promovem as festas onde o tecnobrega nasceu e se desenvolveu. Elas funcionam como o principal palco para o gênero.
Nesses eventos, os DJs lançam e testam novas músicas, e o público valida os sucessos. É um ecossistema cultural e econômico fundamental para os artistas do ritmo.

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