Muito além da Praia do Morro: conheça os segredos naturais de Guarapari
Município tem praias e ilhas ambientalmente protegidas, onde os tons de verde da vegetação nativa e do mar se encontram
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Siga noApesar de Guarapari ser um dos destinos mais visitados pelos mineiros, muitos acabam permanecendo apenas no núcleo urbano do município. Isso porque, ali, estão algumas das mais famosas praias do Espírito Santo, como a das Castanheiras, a da Areia Preta e a do Morro. É verdade que esses locais merecem, sim, uma estadia, mas o caso é que o balneário tem diversas outras atrações, que podem ser desfrutadas tranquilamente durante as férias de julho.
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Algumas delas, justamente as mais intocadas pelo homem, localizadas em áreas de proteção ambiental, são também as menos conhecidas pelos viajantes. Quem as descobre logo percebe que, mesmo após décadas de turismo, a cidade capixaba ainda consegue revelar ótimas surpresas.
Algumas dessas belezas estão "escondidas" bem no coração de Guarapari, literalmente ao lado de uma das praias mais frequentadas do município: a do Morro. Ocorre que a elevação rochosa que dá nome a essa faixa de areia abriga, na verdade, o Parque Natural Municipal do Morro da Pescaria.São 73 hectares (ha) delineados por uma península,protegida, desde 1992, como patrimônio paisagístico.
No local, é possível conhecer espécies da flora e da fauna silvestre, além de apreciar belos panoramas do oceano e também da orla da cidade, a partir de três mirantes. Um deles permite visualizar a Ilha da Raposa, que forma um canal a partir de um dos costões da área de preservação, onde as famosas escunas da cidade param para que os turistas deem um mergulho.
Quem não dispensa um bom banho de mar, aliás, tem ótimas opções no Morro da Pescaria, onde existem três praias rodeadas por vegetação nativa: a da Areia Vermelha, a da Ponta Sul e a do Ermitão. Nessa última, a maior e mais frequentada, os banhistas dispõem de um quiosque, que vende bebidas e petiscos. Para acessá-la, basta caminhar por uma trilha leve, de aproximadamente 1 km de extensão, cujo maior desafio não passa de um suave aclive.
O ingresso no Parque Natural Municipal do Morro da Pescaria custa R$ 5:crianças de até 10 anos e idosos a partir dos 60 anos não pagam, desde que apresentem um documento com foto. Na alta temporada, a portaria abre todos os dias, das 8h às 16h, sendo que os visitantes que já adentraram têm até às 17h para sair. Todavia, durante outros períodos do ano, convém confirmar, em dias úteis, o horário de funcionamento. A unidade de conservação ambiental conta com banheiros e bebedouro.
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O Morro da Pescaria, entretanto, não é a única reserva natural de Guarapari. No extremo norte do município, entre as praias de Setiba e de Ponta da Fruta (essa última já na cidade vizinha de Vila Velha), encontra-se o Parque Estadual Paulo César Vinha, que ocupa uma área bem maior, de nada menos que 1.500 ha. Todo o bioma local é de restinga, típico da Mata Atlântica,caracterizado pelo solo arenoso e pela vegetação costeira.
De acordo com o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (Iema), a região abriga espécies endêmicas (ou seja, que só existem ali), entre as quais o Melanophryniscus setiba, um sapinho cujo comprimento é de apenas 1,5 cm. Apesar da rica biodiversidade, o ecossistema local passou décadas sofrendo queimadas, ações de grileiros e retirada irregular de areia, o que motivou a criação do Parque Estadual de Setiba, em 1990.
Os abusos, porém, continuaram mesmo após a proteção do estado. Um dos maiores defensores da restinga de Guarapari foi o biólogo e ambientalista Paulo César Vinha, assassinado a tiros dentro da área verde em 1993, aos 36 anos, após denunciar atividades de extração ilegal de areia. No ano seguinte, o parque recebeu o nome dele. Tal homenagem, triste, mas justa, alerta para os grandes esforços que a preservação da natureza demanda.
Praia divide oceano e lagoa
A principal atração do parque capixaba é a Lagoa dos Caraís, que tem um tom avermelhado, semelhante ao da Coca-Cola.A coloração deve-se à decomposição de matéria orgânica, proveniente, principalmente, das raízes das plantas locais. As águas calmas e escuras, que formam belas paisagens, podem ser exploradas aremo, a bordo de um caiaque, ou contempladas de mirantes, espalhados por diferentes trilhas do parque.
Contudo, a maioria dos visitantes prefere é se refrescar na extremidade próxima à praia, onde apenas uma faixa de areia separa o alagado do oceano. O banho é mais recomendado na lagoa mesmo, porque, ali, o mar é bravo, mais propício à prática do surf que à do nado. À tardinha, quando a maré sobe, as ondas começam a invadir a lagoa, o que torna a água salobra.
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É um belo espetáculo da natureza, que pode ser apreciado logo antes do fechamento do parque, às 17h. A entrada é gratuita e admitida diariamente das 8h às 15h: são raríssimas as datas nas quais a área verde permanece fechada, entre as quais estão 31 de dezembro e 1º de janeiro,devido às festividades do réveillon. O percurso do centro de Guarapari até a portaria, situada em um trecho duplicado da Rodovia do Sol, é de aproximadamente 13 quilômetros .
Da entrada até o ponto da orla onde está a Lagoa dos Caraís, porém, é preciso caminhar cerca de 2,5 km. O trecho final dessa trilha, de 1 km, acompanha a praia: se o visitante preferir, pode seguir pela areia. O trajeto é plano e fácil, mas há poças d'água em alguns pontos. Por isso, a dica é usar sandálias de trekking ou tênis impermeáveis.
O Parque Estadual Paulo César Vinha dispõe de boa infraestrutura, que inclui estacionamento, banheiros, bebedouros e chuveirões. Mas não há quiosques ou ambulantes, de modo que os visitantes devem levar bebidas,além de um lanchinho. Também é importante caprichar no protetor solar e, se for o caso, portar um guarda-sol, pois a praia é descampada,sem áreas sombreadas.
Banho de mar em meio a ilhas
Da praia margeada pela Lagoa dos Caraís, é possível avistar o arquipélago das Três Ilhas, uma das atrações da Área de Proteção Ambiental de Setiba, criada em 1994 para preservar um perímetro de 12.960 ha no entorno do Parque Estadual Paulo César Vinha. Essas porções de terra, ou melhor, de rocha, situam-se a cerca de 3 km da costa e guardam mais belezas, com destaque para as águas muito claras, uma vez que, na orla continental, a rebentação das ondas levanta maior quantidade de sedimentos.
Apesar do nome, o arquipélago é, na verdade, formado por cinco ilhas: Gurarema, Leste-Oeste, Guanchumbas, Cambaião e Quitongo. No entanto, vistas a partir do continente, parecem ser apenas três, e daí vem essa dissonância identitária. Nenhuma delas é habitada: os moradores são aves e moluscos. Contudo, são frequentes as visitas de turistas e também de mergulhadores, interessados nos vários pontos de apreciação da vida marinha ao largo dos costões rochosos.
O local que mais atrai banhistas é um estreito canal de mar entre as ilhas Guararema e Leste-Oeste, onde águas calmas, rasas e transparentes formam uma piscina natural. No arquipélago, há também uma única e pequena porção de areia, que conforma a pitoresca Praia da Baleia, na Ilha Quitongo. De lá, é possível atravessar à pé para a ilha vizinha, a Cambaião, por meio de algumas trilhas.
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As Três Ilhas não são servidas por linhas marítimas regulares. Na alta temporada, porém, as escunas que navegam pelo litoral de Guarapari costumam incluí-las nos roteiros turísticos, em datas esporádicas. Há ainda alguns marinheiros especializados em passeios pelo arquipélago. Este repórter foi conduzido por um deles: Alexandre Mansur [(27) 98833 1099], proprietário do barco Thor. O embarque é realizado no cais do canal, no centro da cidade.
A visita requer algum planejamento, uma vez que não existe qualquer tipo de infraestrutura nas Três Ilhas, nem mesmo banheiros:a única construção é uma pequena cabana,que já serviu para fiscalização ambiental, mas está em desuso há tempos. As embarcações geralmente oferecem água e outras bebidas, porém é essencial levar protetor solar e lanche. Um remédio para enjoo também é aconselhável às pessoas que costumam ficar mareadas. Tampouco há ancoradouro no arquipélago, de modo que o banho de mar já começa no momento do desembarque.
Regras de proteção ambiental
Tanto nos parques naturais quanto no arquipélago, é proibido o uso de fogo, a montagem de acampamentos e o descarte de lixo. Os visitantes também não podem retirar espécimes nativos da fauna ou da flora ou alimentar os animais.
No Parque Natural Municipal do Morro da Pescaria, são vedadas a pesca profissional predatória e a de mergulho, além da realização de piqueniques. Já no Parque Estadual Paulo César Vinha e nas Três Ilhas, o veto envolve todos os tipos de pesca, inclusive com linha de mão, vara ou molinete; nesses dois locais, não é permitido, ainda, ouvir som em volume elevado.
Especificamente nas Três Ilhas, o desembarque só é autorizado em Gurarema, Quitongo e Cambaião; a entrada de visitantes é proibida nas ilhas Guamchumbas e Leste-Oeste.
Baixa temporada
Apesar de o verão ser o período que mais atrai viajantes às praias da Região Sudeste do Brasil, Guarapari também pode ser visitada na estação do inverno. Em julho, a temperatura máxima média no município é de 27°C, enquanto as mínimas ficam em torno dos 18°C, com uma média geral de 22°C. Ou seja, se o clima colaborar, é possível pegar uma praia durante um dia de sol e, de quebra, curtir temperaturas amenas à noite. Além disso, o mês costuma ser de pouca chuva, com precipitações na casa de 56 mm, apenas, de acordo com o site Climate Data.
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Outra vantagem é que, tradicionalmente, a cidade capixaba é bem mais tranquila ao longo do mês de julho. Na alta temporada, que ocorre entre a segunda quinzena de dezembro até o fim de janeiro, os turistas lotam hotéis, restaurantes e atrativos naturais.