Boicote aos EUA: país vive a pior crise no turismo desde a pandemia
Com quedas de até 11,6% nas chegadas de visitantes estrangeiros, o país assiste a uma debandada de turistas que ameaça a economia
compartilhe
Siga no Circulam nas redes sociais postagens que mostram a então badalada cidade de Las Vegas "vazia" e de que cassinos estão com "portas fechadas". As publicações no X ( antigo Twitter), em tom alarmante, trazem relatos como os de turistas e locais, que apontam para a queda de visitantes na cidade que nunca dormia.
EUA hostil: Trump afugenta visitantes e o turismo no país despenca
Um usuário do X, por exemplo, destacou a ausência de tráfego na Strip, a principal avenida, em pleno feriado de 4 de Julho, algo incomum para a cidade. Outros mencionam cassinos com uma atmosfera menos vibrante, especialmente durante eventos que costumam ser lotados. O turismo caiu significativamente em 2025, com cassinos menos movimentados e ruas mais calmas, especialmente fora dos fins de semana.
Gringo mostrando que Las Vegas morreu. Até no feriado de 4 de julho a cidade estava vazia.
— Rê (@crushdobbb20) August 4, 2025
Os turistas estão evitando viajar para os EUA de Trump. pic.twitter.com/I69pmMZ02l
Segundo a Las Vegas Convention and Visitors Authority (LVCVA), o número de visitantes caiu 11,3% em junho de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024, e a ocupação hoteleira caiu 6,5%. O tráfego de passageiros no Aeroporto Internacional Harry Reid também diminuiu 4,1% no acumulado do ano, com uma queda de 19,6% no tráfego internacional entre janeiro e fevereiro de 2025.
It’s so obvious that Tourism is down drastically all over the Country and by looking at how empty LasVegas is lately! ???????????????????????????? pic.twitter.com/8y6VrZfH1z
— Suzie rizzio (@Suzierizzo1) July 30, 2025
Leia Mais
Efeito Trump
Os Estados Unidos, outrora um ímã global para turistas, enfrentam em 2025 uma crise sem precedentes no setor de turismo internacional, a mais grave desde a pandemia. Com quedas de até 11,6% nas chegadas de visitantes estrangeiros em março deste ano, comparado ao mesmo período de 2024, o país assiste a uma debandada de turistas que ameaça não apenas a economia, mas sua própria imagem global.
As causas são claras: políticas migratórias severas, tensões geopolíticas alimentadas por retórica protecionista e a ausência de uma estratégia nacional para atrair visitantes. O resultado? Uma perda projetada de até US$ 90 bilhões em impacto econômico, equivalente a 0,3% do PIB, e um setor que clama por socorro.
No cerne da crise está a política migratória do governo de Donald Trump, retomada com vigor em 2025. A imposição de restrições mais rígidas para vistos, aliada a detenções arbitrárias em aeroportos, criou um ambiente hostil para visitantes. Turistas de países como México, Brasil, Índia e nações europeias relatam medo de humilhações ou deportações. "Por que arriscar uma viagem onde posso ser tratado como criminoso?", questionou um turista britânico em um fórum online. A queda nas chegadas reflete esse sentimento: -15% do Reino Unido, -28% da Alemanha e até -33% de países como Equador e República Dominicana.
Leia Mais
A retórica de Trump, que inclui ameaças de tarifas comerciais e provocações como sugerir que o Canadá deveria ser o "51º estado", intensificou o problema. Governos de aliados tradicionais, como Canadá, Reino Unido e Alemanha, emitiram alertas de viagem, enquanto boicotes a destinos e produtos americanos ganham força. O Canadá, maior emissor de turistas aos EUA, registrou uma queda alarmante de 70% nas reservas de voos até setembro de 2025, com viagens terrestres caindo 23% e aéreas 13% em fevereiro. Essa rejeição não é apenas econômica, mas simbólica: os EUA estão se isolando do mundo.
Números que falam por si
Os dados são devastadores. Cada 1% de queda nos gastos de turistas internacionais custa US$ 1,8 bilhão por ano. Em 2025, o setor projeta perdas de US$12 a US$12,5 bilhões em receitas diretas, com gastos caindo de US$ 181 bilhões em 2024 para cerca de US$ 169 bilhões, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo. Regiões como Nova York esperam 800 mil visitantes a menos, enquanto Las Vegas prevê uma redução de 5% na arrecadação hoteleira. No Nordeste, as tarifas de hotéis despencaram 11%, refletindo a fuga de turistas, especialmente canadenses.
Um fracasso estratégico
A crise não é apenas produto de políticas isolacionistas, mas da falta de visão. Geoff Freeman, presidente da U.S. Travel Association, lamentou a ausência de uma estratégia nacional para promover os EUA como destino turístico. Enquanto países como Canadá e México capitalizam a desilusão com os EUA, atraindo turistas com políticas acolhedoras, os EUA parecem contentes em alienar seu mercado. O fortalecimento do dólar, que encarece viagens, só agrava o quadro, tornando destinos concorrentes mais atraentes.
Um futuro incerto
Eventos como a Copa do Mundo de Clubes de 2025 e a Copa do Mundo de 2026 poderiam ser a tábua de salvação do setor, mas o sucesso depende de uma mudança radical de postura. Sem facilitar a entrada de visitantes e abandonar a retórica divisiva, os EUA arriscam transformar essas oportunidades em novos fiascos. A crise atual não é apenas econômica, mas um reflexo de um país que, em nome do protecionismo, está fechando as portas para o mundo. Enquanto turistas redirecionam seus planos para outros destinos, os EUA pagam o preço de sua própria intolerância – um preço que, em 2025, já é alto demais.
Causas da Crise no Turismo nos EUA
Políticas migratórias rígidas:As políticas do governo de Donald Trump, implementadas a partir de 2025, incluindo restrições mais duras na entrada de estrangeiros, aumento nos custos e atrasos no processamento de vistos, têm desencorajado turistas. Há relatos de detenções de visitantes em aeroportos, criando temor de deportação ou problemas na imigração, especialmente para viajantes de países como México, Brasil, Índia e nações europeias.
Tensões geopolíticas e disputas comerciais:A retórica protecionista e ameaças de tarifas comerciais, especialmente contra aliados como Canadá, México e países europeus, geraram uma percepção negativa dos EUA como destino. Comentários de Trump sugerindo, por exemplo, que o Canadá deveria se tornar o "51º estado" levaram a boicotes e alertas de viagem emitidos por governos como Canadá, Reino Unido, Alemanha e Irlanda.
Fortalecimento do Dólar:O dólar forte encarece viagens para turistas estrangeiros, reduzindo a competitividade dos EUA em comparação com destinos como Canadá e México, que se beneficiam do deslocamento de turistas.
Falta de estratégia nacional de atração:A ausência de um plano coordenado para promover os EUA como destino turístico global foi destacada por especialistas, como Geoff Freeman, da U.S. Travel Association. Isso agrava a perda de mercado para outros países que adotam estratégias mais acolhedoras.
Incerteza econômica e boicotes:Incerteza econômica global, aliada a boicotes a produtos e serviços americanos (como relatado por um turista canadense que cancelou viagens e assinaturas de serviços dos EUA), contribui para a queda na demanda.