Novo conceito de luxo

Encontro hipotético: Claude Lévi-Strauss e Pierre Verger no Rosewood SP

Hospedagem imaginária dos franceses, um antropólogo e um fotógrafo, revelaria o resort urbano como um microcosmo do Brasil plural, diverso, colorido e autoral

Publicidade
Carregando...

Imagine, em uma tarde chuvosa de agosto de 2025, dois gigantes da etnografia francesa – separados por décadas, mas unidos pela paixão pelo Brasil profundo – se encontrando no lobby do Rosewood São Paulo. Claude Lévi-Strauss, o estruturalista que desvendou mitos indígenas nos rios amazônicos, e Pierre Fatumbi Verger, o fotógrafo que imortalizou os orixás baianos e as raízes iorubás, se reúnem nesse oásis urbano. 

O hotel, erguido no complexo Cidade Matarazzo – antigas estruturas do início do século 20, incluindo a maternidade que viu mais de 500 mil nascimentos sob o império industrial dos italianos Matarazzo – serve de palco para um diálogo hipotético.

Lá, não é mero luxo; é um cruzamento de mundos: o colonial europeu, o indígena nativo e o afro-brasileiro, todos entrelaçados como cipós em uma floresta mítica. Lévi-Strauss, com sua mente analítica e binária, vê estruturas profundas; Verger, com sua câmera imaginária, captura essências visuais e rituais. Sua conversa, fluida entre francês e português, revela percepções complementares – uma dança de intelectos onde o abstrato encontra o concreto, o mito se funde à imagem.

Eles se instalam em uma suíte com vista para a torre de Jean Nouvel, coberta de vegetação nativa, e começam a discutir, copos de café brasileiro em mãos, enquanto a chuva paulistana bate nas janelas amplas.

A arquitetura: dialética entre raízes e alturas

Lévi-Strauss inicia, ajustando seus óculos imaginários: "Veja, Pierre, essa torre vertical de Nouvel – um jardim suspenso como uma árvore cósmica – opõe-se à horizontalidade da antiga maternidade, com suas fachadas neoclássicas italianas preservadas desde os anos 1920.

 É a binariedade clássica: natureza versus cultura, o cru da floresta indígena contra o cozido do concreto urbano. Os Matarazzo, como demiurgos coloniais, ergueram impérios sobre a terra virgem; agora, Philippe Starck recicla materiais brasileiros para mediar essa tensão, criando um bricolage sustentável."

Verger, recostado em uma poltrona de design Starck, sorri com olhos de etnógrafo: "Ah, Claude, você e suas oposições! Para mim, isso é um terreiro moderno – a capela restaurada, com afrescos católicos, sincretiza com os jardins verticais que evocam as matas baianas ou as florestas de Benin. É como os orixás renascendo em um berço de tijolos: o edifício, outrora maternidade de vidas humanas, agora nutre almas culturais. Mas sinto a frieza de São Paulo; falta o calor das ruas de Salvador."

Eles concordam que a arquitetura é um rito de passagem: Lévi-Strauss vê um mito edificado, equilibrando passado e futuro; Verger, uma fotografia viva, capturando o hibridismo brasileiro sem apagar as raízes indígenas e afro.

As Artes: símbolos, mitos e imagens em diálogo

Conexão cultural une a arte indígena com símbolos afros que formam o povo brasileiro
Conexão cultural une a arte indígena com símbolos afros que formam o povo brasileiro Carlos Altman/EM

Caminhando pelos corredores adornados com mais de 450 obras site-specific de 57 artistas brasileiros, curadas por Marc Pottier,Verger aponta para uma escultura de fibras naturais, inspirada em padrões indígenas: "Olhe isso, Claude – como as máscaras rituais dos Yanomami ou os corpos pintados nos terreiros de candomblé. É invocação, não decoração; uma fusão de grafismos afro-indígenas que eu teria fotografado em transe."

Lévi-Strauss assente, analisando: "Sim, Pierre, mas veja as oposições simbólicas: o abstrato de Tunga contra o figurativo de Vik Muniz, o indígena versus o urbano. Essas peças são mitos plásticos – bricolagens que mediam o cru da tradição oral com o cozido da arte contemporânea. No Brasil que eu naveguei, os Bororo construíam cabanas como cosmologias; aqui, o hotel é um museu vivo, mas enclausurado para elites, ecoando os 'tristes trópicos' onde a cultura se perde no luxo."

A conversa aquece: Verger elogia a diversidade, "um manifesto contra o eurocentrismo, como minha jornada de Paris para Bahia"; Lévi-Strauss critica o isolamento, "a arte deve ser coletiva, como os mitos indígenas". Juntos, percebem o hotel como um totem cultural, unindo suas visões – visual e estrutural – em uma narrativa compartilhada.

Os livros: narrativas como portais estruturais e visuais

Encontro hipotético de dois franceses apaixonados pelo Brasil e pela literatura: o antropólogo Lévi-Strauss e o fotógrafo Pierre Verder
Encontro hipotético de dois franceses apaixonados pelo Brasil e pela literatura: o antropólogo Lévi-Strauss e o fotógrafo Pierre Verder Imagem gerada por IA

Nas suítes, pilhas de livros brasileiros os convidam: obras de Guimarães Rosa, Jorge Amado (que Verger conheceu pessoalmente), Clarice Lispector, e talvez ensaios sobre mitologia indígena ou fotografia etnográfica. Embora não haja uma biblioteca formal, a seleção curada nos quartos e na loja de arte transforma o espaço em um arquivo intelectual.

Verger folheia um volume sobre a diáspora africana: "Claude, esses livros são como meus negativos – capturam o invisível, as essências iorubás no Brasil. Amado me chamava 'o mais baiano dos franceses'; aqui, as páginas ecoam essa fusão, mas eu adicionaria vozes indígenas como Ailton Krenak para equilibrar."

Lévi-Strauss responde: "Exato, Pierre – estruturas binárias: o oral indígena versus o escrito europeu. Meus 'Tristes Trópicos' poderiam estar aqui, mediando o cru da oralidade com o cozido da literatura. Os Matarazzo, industriais, simbolizam o demiurgo mítico; esses livros desmontam seu legado colonial, revelando a mente universal."

Eles riem da ironia: um hotel nascido de uma maternidade agora "dando à luz" ideias. Verger vê portais visuais; Lévi-Strauss, sistemas lógicos – unidos na admiração pela diversidade narrativa que reflete o Brasil multifacetado.


A gastronomia: sabores como rituais 

No Restaurante Taraz gastronomia panamericana com temperos da Amazônia
No Restaurante Taraz gastronomia panamericana com temperos da Amazônia Carlos Altman/EM

No restaurante Taraz, celebrando sabores sul-americanos com ingredientes indígenas como mandioca e açaí, ou no Blaise com toques franceses reinventados,  eles provam pratos orgânicos. Lévi-Strauss inicia: "Pierre, isso é 'O Cru e o Cozido' encarnado – o cru dos frutos amazônicos transformado pelo fogo das técnicas europeias. Oposições gustativas: picante indígena versus doce colonial, sustentabilidade mediando a destruição ambiental que lamentei nos trópicos."

Verger, saboreando uma moqueca reinventada: "Você e suas dialéticas, Claude! Para mim, é oferenda aos orixás – sabores que dançam como em uma festa de Exu, misturando o afro-baiano com o indígena. Os Matarazzo trouxeram massas italianas; o Brasil responde com farofa. Mas onde estão os quitutes das ruas? O luxo isola, como você diz, mas une em harmonia."

Eles concordam na crítica ao elitismo, mas elogiam a inovação: Lévi-Strauss vê mitos gastronômicos universais; Verger, rituais sensoriais. A refeição selaria sua percepção compartilhada – o hotel como banquete cultural.

Em resumo, esse encontro hipotético revelaria o Rosewood como um microcosmo do Brasil: para Lévi-Strauss, um laboratório de estruturas binárias, lamentando perdas mas admirando mediações; para Verger, um álbum fotográfico vivo, celebrando fusões sem dogmas. Sua conversa, rica em insights, transformaria o hotel em um espaço de reflexão eterna – um lugar onde o indígena, o africano e o europeu conversam, assim como eles. Que tal encontro inspire visitantes a ver além do luxo, para as profundezas culturais.

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay