Hoje, com a abertura oficial da COP30 em Belém, o mundo volta os olhos para a Amazônia, mas as vozes locais clamam por atenção urgente. A feirante Socorro Loura, de 64 anos, ícone do Mercado Ver-o-Peso, continua ecoando sua denúncia de "isolamento e perseguição" aos trabalhadores tradicionais durante os preparativos do evento climático.
No vídeo exclusivo do jornal Estado de Minas, que viralizou nos últimos dias, Socorro Loura apela diretamente às autoridades – prefeito Igor Normando, governador Helder Barbalho e presidente Lula – para que as erveiras não sejam "escondidas" ou removidas de seus pontos de venda. "Querem nos isolar na COP", desabafa a feirante, destacando perseguição e abandono de trabalhadores durante preparativos para a Conferência do Clima. Até o momento, não há respostas oficiais concretas, e a controvérsia ganha repercussão nas redes, com posts reforçando o apelo por respeito às tradições paraenses.
Poder de cura
Garrafas com ervas para banhos de cura ou espirituais
Enquanto Socorro e suas colegas enfrentam o risco de isolamento – com barracas sendo realocadas para áreas periféricas do mercado –, a COP30 oferece uma ironia cruel: o evento celebra a floresta, mas ameaça silenciar quem a conhece intimamente. "Essas ervas são a voz da Amazônia", argumenta a erveira em seu apelo viral, ecoando o que estudiosos chamam de "bioculturalidade" – a fusão inseparável de cultura e natureza.
Delegados internacionais poderiam aprender muito com um banho de ervas: não só para curar o corpo, mas para limpar as políticas que marginalizam os guardiões da mata. No Ver-o-Peso, o cheiro de ervas frescas persiste, desafiando o esquecimento. Socorro Loura, com sua denúncia, nos lembra que a verdadeira sustentabilidade começa no reconhecimento das raízes – literais e figuradas. Que a COP30, ao invés de isolar, amplifique essas vozes. Afinal, em Belém, a cura não vem de tratados, mas das plantas que florescem na beira do rio.
No momento que delegações globais debatem o futuro da floresta, Socorro Loura e suas companheiras lembram que a verdadeira sustentabilidade pulsa nas barracas do Ver-o-Peso. Como raizeiras e curandeiras, elas dominam o poder medicinal e espiritual das ervas, cascas, sementes e raízes colhidas na Amazônia – um legado indígena, africano e caboclo que cura corpo e alma.
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Conheça as ervas
Além das já conhecidas copaíba (para dores reumáticas), guaraná (energizante), arruda (proteção contra energias negativas) e alecrim-de-angola (harmonização), as erveiras oferecem um arsenal vasto de plantas amazônicas. Aqui vão mais exemplos, com usos validados por tradições etnobotânicas e estudos:
Andiroba (Carapa guianensis): Óleo de sementes anti-inflamatório para dores musculares, reumatismo e repelente. Espiritualmente: descarrego de maus espíritos.
Barbatimão (Stryphnodendron adstringens): Casca cicatrizante para infecções ginecológicas e feridas. Espiritual: proteção contra inveja.
Sucupira (Bowdichia virgilioides ou Pterodon emarginatus): Sementes para artrite e fortalecimento ósseo (anti-inflamatórias). Espiritual: resistência em adversidades.
Quebra-pedra (Phyllanthus niruri): Folhas desintoxicantes para rins e fígado. Espiritual: quebra obstáculos energéticos.
Capim-santo (Cymbopogon citratus): Folhas calmantes para ansiedade e digestão. Espiritual: paz interior.
Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia): Folhas para gastrite e úlceras. Espiritual: equilíbrio emocional.
Arruda (Ruta graveolens): Folhas clássicas contra mal-olhado. Medicinal: antiespasmódico. Essencial em descarregos.
Guiné (Petiveria alliacea): Raiz poderosa para amor, fidelidade e descarrego forte. Medicinal: analgésico.
Abre-caminho (Triumfetta semitriloba ou Desmodium adscendens): Folhas para abrir caminhos profissionais/financeiros. Medicinal: diurético.
Priprioca (Cyperus articulatus): Raiz aromática para prosperidade e confiança. Usada em perfumes naturais e banhos de atração.
Catinga-de-mulato (Tanacetum vulgare): Folhas para descarrego profundo, vícios e energias densas. Medicinal: antiparasitário.
Patchouli (Pogostemon cablin): Folhas afrodisíacas para amor e sensualidade (comum em banhos de cheiro).
Adições clássicas do Ver-o-Peso: Copaíba (copaifera spp.) para cicatrização; manjericão (Ocimum basilicum) para harmonia; Dinheiro-em-penca (Callisia repens) para prosperidade; alfazema (Lavandula spp.) para relaxamento. Essas plantas chegam frescas da Ilha do Marajó e de outras regiões, vendidas em maços ou garrafas benzidas.
Como preparar o banho de ervas:
As erveiras enfatizam: "a erva é veículo; a fé ativa o milagre". Método clássico do Ver-o-Peso, adaptado de receitas ancestrais e relatos de Socorro Loura:
Defina intenção:
Descarrego (amargas: arruda, guiné, catinga-de-mulato, quebra-pedra)
Prosperidade (doces: abre-caminho, priprioca, dinheiro-em-penca, alfazema)
Amor (patchouli, manjericão, rosa)? Saúde (capim-santo, espinheira-santa, copaíba)?
Prepare
Lave e amasse 1 punhado de cada erva fresca/seca.
Ferva
Água ao fogo; ao borbulhar, adicione ervas. 5-10 min.
Abafar
Tampe 10-15 min. Coe (descarte ervas na natureza, agradecendo). Adicione gotas de perfume para "cheiro".
Banho
Após higiene, despeje morno:
Descarrego: pescoço para baixo (energias ruins vão embora).
Atração: cabeça aos pés (boas energias descem).
Ore (Pai-Nosso, preces a Oxalá ou pessoais). Seque ao ar livre.
Dicas:
Lua minguante para banir; crescente para atrair. Repita 7 dias. Para Réveillon/São João: 7 ervas doces com "chega-te a mim" ou "dinheiro em penca".
Hora de valorizar as guardiãs da floresta
Em meio à ironia da COP30, que discute preservação enquanto marginaliza as erveiras, Socorro Loura nos convida a refletir: as ervas do Ver-o-Peso são a prova viva de que a Amazônia cura – se ouvirmos suas guardiãs. Que o evento amplifique essas vozes, em vez de silenciá-las. No mercado, o aroma de ervas frescas resiste, convidando todos a um banho de renovação verdadeira.
