Em 1977, Pinin Brambilla assumiu a missão de recuperar 'A Última Ceia', um dos murais mais famosos de todos os tempos.
Ao iniciar o trabalho, ela encontrou a obra quase irreconhecível, coberta por várias camadas de tinta e gesso aplicadas por restauradores anteriores.
'Tive que me perguntar se era mesmo um Leonardo, porque estava completamente irreconhecível', declarou ela em uma entrevista à BBC em 2016.
O mau estado de conservação, segundo ela, se devia a diversos fatores.
Na ocasião, Da Vinci utilizou uma técnica experimental, utilizando óleo sobre uma superfície de gesso seco, o que resultou em uma rápida deterioração da obra.
Tradicionalmente, a técnica conhecida como 'afresco' — na qual a tinta é aplicada sobre uma camada de argamassa úmida — é notadamente famosa pelo poder de fixação.
A técnica exige que o artista termine mais rápido o trabalho, já que a superfície seca depois de um tempo. Da Vinci rejeitou, pois queria mais tempo para finalizar o mural.
'Seis restauradores trabalharam nela. Cada um deles mudou a fisionomia, as características e as expressões dos apóstolos', contou a restauradora.
A obra foi elaborada por Da Vinci em 1498, atendendo uma 'encomenda' do duque de Milão, Ludovico Sforza.
Brambilla liderou um meticuloso processo para remover as camadas posteriores e recuperar a estrutura original.
Ela e sua equipe removeram camada por camada usando câmeras, aquarelas e até instrumentos cirúrgicos.
Brambilla dedicou mais de 20 anos ao projeto, enfrentando desafios técnicos e até pessoais.
'O trabalho me fazia passar muito tempo longe do meu marido e do meu filho. Às vezes eu trabalhava sozinha, até mesmo aos sábados e domingos até o meio-dia', contou ela.
Ela concluiu o trabalho em 1999, quanto já tinha mais de 70 anos. 'Eu estava completamente obcecada', lembrou.
Apesar de ter recebido crÃticas sobre possÃveis excessos na remoção de camadas, Brambilla considerou a restauração um sucesso.
'Agora os rostos dos apóstolos parecem realmente participar do drama do momento e evocam a gama de emoções que Leonardo quis retratar diante da revelação de Cristo', ressaltou a restauradora.
Brambilla declarou que se sentiu emocionalmente ligada à obra: 'Quando terminei [...] fiquei triste porque tinha que deixá-la [...] � como se você perdesse uma parte de si mesmo', declarou.
Atualmente, o famoso mural de 4,5 metros de altura decora uma parede do refeitório do mosteiro da igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão.