Queijos de Congonhas do Norte agora são da microrregião do Serro
O reconhecimento do modo de fazer o Queijo Minas Artesanal (QMA) foi oficializado pelo governo de Minas no início de novembro
compartilhe
SIGA
Os queijos produzidos no município de Congonhas do Norte, na Região Central de Minas Gerais, passaram a fazer parte da microrregião produtora do Queijo Minas Artesanal (QMA) do Serro. O reconhecimento do modo de fazer dos produtores locais foi oficializado em 11 de novembro pelo executivo estadual. A mobilização partiu da prefeitura municipal em 2021, com o apoio imediato da Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (APAQS).
Leia Mais
De acordo com Rúbia Rafaela Saldanha da Silva Reis, diretora municipal de Agricultura, no início desse processo foi feita uma reunião com produtores de queijo locais, explicando a importância desse reconhecimento para o município ao agregar valor ao produto da região. O pedido formal junto à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa-MG) também teve o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Congonhas do Norte.
A partir daí, todos os envolvidos começaram a elaborar um dossiê com entrevistas de produtores atuais e antigos, levantamento de fatos históricos, objetos antigos de produção, fotografias, recortes de revistas e jornais que remetiam ao modo de fazer e aos períodos em que o município produzia queijo. Tudo isso foi enviado para avaliação da Seapa-MG.
Características semelhantes
Depois, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) entrou em campo com um estudo de caracterização para avaliar se o município está apto a participar da região, com análises de fatores geográficos, como altitude, clima e relevo, além da economia local. “O estudo mostrou que a gente tinha condições de participar, que as características são muito semelhantes às das demais cidades da microrregião do Serro: o clima, a altitude, a questão cultural”, concluiu Rúbia.
Fernanda Quadros, coordenadora técnica estadual da Emater-MG, explica que o Serro foi a primeira região a ser caracterizada em Minas Gerais, em 2002, tendo seu queijo reconhecido como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). “Ao longo do tempo, outras regiões foram reconhecidas, como a de Araxá. É um processo dinâmico, por isso é normal que outros municípios, como Congonhas do Norte, entrem para a região do QMA do Serro. Em 2022 o estado criou uma resolução normatizando como esse processo deve ser feito”, explicou.
Quatro anos após o início do processo, com a validação do estudo da Emater pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), foi constatado que o QMA do município poderia fazer parte da microrregião do Serro. A partir da conquista, a diretora municipal de Agricultura da Prefeitura de Congonhas do Norte espera um maior reconhecimento e valorização do produto local. “O queijo aqui é tradição, é cultura, e isso vem há muitos e muitos anos. Antes, a gente não tinha como sair do lugar. O pessoal lutando, vendendo seu queijo de porta em porta, sem uma devida valorização do mercado. Às vezes, a única alternativa era lidar com um atravessador, mas sem aquela valorização que o produto precisa ter na mão de quem realmente produz”, analisou Rúbia.
Certificação do queijo
Para dar mais condições aos produtores de queijo de Congonhas do Norte, o município está implementando dois projetos. Um deles é a certificação do produto por meio do Sistema de Inspeção Municipal, para que o produtor possa rotular e vender o queijo. O outro é uma consultoria que vai ajudar os produtores a regularizarem sua estrutura de fabricação, assegurando as boas práticas sanitárias de produção.
"Esta inclusão é um reconhecimento do trabalho destes produtores e vai beneficiar o município, a região e o estado. A iniciativa agrega valor ao queijo, divulga o município, estimula a organização dos produtores e incentiva a regularização", destacou Gilson Sales, subsecretário de Política e Economia Agropecuária da Seapa-MG).
Reconhecimento abre portas
José Tadeu de Barros, de 49 anos, é um dos produtores de Congonhas do Norte que podem melhorar de vida com a inclusão do município na região do QMA do Serro. Filho e neto de produtores de queijo, ele produz o laticínio desde a infância, vivida em Conceição do Mato Dentro, que já faz parte da microrregião do Serro. O produtor vive em Congonhas do Norte há 30 anos. Em seu sítio de 15 hectares, atualmente, José Tadeu conta com 16 vacas produzindo leite, que gera de 12 a 13 queijos por dia.
O produtor relata que vende os queijos com apenas um dia de fabricação, mas seu sonho é ter uma sala de maturação. Com esta estrutura, em vez de vender o queijo recém-produzido por R$ 25, ele poderia pedir ao menos R$ 50 por um queijo com 20 dias de maturação. “Quem é da região sabe que o queijo de Congonhas do Norte é bom, mas quem é de longe, nem conhece. Poder falar que nosso produto é um QMA do Serro, certamente, vai nos abrir portas”, explicou José Tadeu, que tem planos para melhorar sua estrutura de produção e trabalhar com um produto certificado, com maior valor agregado, e uma queijaria certificada.
Fernanda Quadros afirma que os produtores e o município precisam saber tirar vantagem desse reconhecimento. “Produtores que se regularizam conseguem abrir mercado. Comparada a outros laticínios, a queijaria é uma estrutura simples, porque não demanda nem a pasteurização. O mais importante são boas práticas de higiene do rebanho, na fabricação e na maturação”, disse a coordenadora técnica da Emater-MG.
Reforço na produção do QMA
De acordo com José Ricardo Ozólio, presidente da APAQS, a inclusão de Congonhas do Norte é excelente e vai somar muito. “Nossa região fica mais rica, a gente tem mais associados e ganha poder de negociação. O que nos move é o crescimento como um todo, de toda a região. Os associados da APAQS estão bem satisfeitos com isso”, resumiu.
Na visão de José Ricardo, do ponto de vista sensorial, o queijo artesanal de Congonhas do Norte tem muito a ver com o da região do Serro. “É lógico que a gente vai ter que ajudar eles em alguns pontos, como o acabamento, a textura, o formato do queijo. São detalhes que a gente vai corrigindo”, apontou.
O presidente da APAQS descreve o QMA do Serro pelo sabor marcante, com ligeira picância e acidez característica, “um sabor frutado mais cítrico e amendoado. A massa é mais cremosa e macia, com cor de creme e casca mais para gema de ovo”.
Ele explica que algumas condições locais – como altitude, umidade, temperatura, os sais minerais do solo – podem influenciar na intensidade do sabor e na textura. “É o que o pessoal chama de terroir, de uma fazenda para outra. Esses detalhes podem dar uma ligeira mudança nas características, mas não o suficiente para descaracterizar a região”, destacou.
Microrregião do Serro
A microrregião do Serro já contava com mais ou menos 750 produtores. Com a inclusão de Congonhas do Norte, esse número pode chegar a 830 produtores. “Com o QMA, justamente por ser artesanal, de poder ser feito somente com o leite da propriedade, o produtor não consegue grande volume de queijo. Como não existe volume por fazenda, a escala pode ser feita pela soma de produtores, e essa é uma das razões pelas quais a chegada de um novo município vai somar à nossa região”, disse José Ricardo.
Desde dezembro de 2024, os Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal são considerados Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Hoje, são 10 regiões produtoras do QMA: Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado, Diamantina, Entre Serras da Piedade ao Caraça, Serra do Salitre, Serras da Ibitipoca, Serro e Triângulo.
Na microrregião do QMA do Serro, Congonhas do Norte se junta aos municípios de Alvorada de Minas, Coluna, Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim, Materlândia, Paulistas, Rio Vermelho, Sabinópolis, Santo Antônio do Itambé, Serra Azul de Minas e Serro. Após o reconhecimento pelo Iepha-MG, em 2008, o Modo de Fazer o QMA foi reconhecido nacionalmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), contemplando as regiões do Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre.