
Meu marido, Cyro Siqueira, teria completado 90 anos ontem, se n�o tivesse sido colhido por uma das enfermidades mais complicadas dos �ltimos anos: o Mal de Alzheimer. Tudo se fala sobre ela, as pesquisas s�o sempre intensificadas, mas quem convive com o problema sabe que existe uma diferen�a imensa sobre a realidade e a ci�ncia. S� quem j� vivenciou o problema sabe que h� diferen�as muito grandes sobre o que se divulga e o que se vive. Mas isso n�o deixa de lado a divulga��o de pesquisas que s�o realizadas constantemente. Agora, por exemplo, o Instituto Alzheimer Brasil (IAB) acaba de divulgar que h� cerca de 46,8 milh�es de pessoas com dem�ncia no mundo. Este n�mero praticamente ir� dobrar a cada 20 anos, chegando a 74,7 milh�es em 2030 e a 131,5 milh�es em 2050.
Estima-se que a cada 3,2 segundos um novo caso de dem�ncia � detectado no mundo, e a previs�o � de que em 2050 haver� um novo caso a cada segundo. Embora n�o seja propriamente uma causa, a idade � um fator relevante. � medida que aumenta a expectativa de vida da popula��o, aumenta tamb�m o n�mero de pessoas que desenvolvem algum tipo de dem�ncia. A frequ�ncia varia conforme a faixa et�ria. Dos 65 aos 74 anos, � cerca de 3%; dos 75 aos 84, 18%; e acima de 85 anos, 47%. “� importante lembrar que no ‘envelhecimento normal’ h� perdas cognitivas progressivas, numa escala pequena e de modo muito lento, n�o comprometendo o cotidiano da pessoa. H� tamb�m um quadro denominado ‘transtorno cognitivo leve’ ou ‘transtorno neurocognitivo menor’, que se caracteriza por perdas cognitivas mais significativas do que o ‘envelhecimento normal’, por�m, leves e graduais, n�o chegando a configurar um quadro de dem�ncia”, explica Elaine Di Sarno, psic�loga com especializa��o em Avalia��o Psicol�gica e Neuropsicol�gica e Terapia Cognitivo Comportamental, ambas pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Cl�nicas de S�o Paulo.
A principal causa de dem�ncia � a doen�a de Alzheimer. Cerca de 50 a 60% dos casos decorrem do Alzheimer. Em seguida, vem a dem�ncia vascular e a dem�ncia por corp�sculos de Lewy. Menos frequentes s�o as dem�ncias frontotemporais e as dem�ncias causadas por traumatismo cranioencef�lico, infec��es e alcoolismo. H� tamb�m as dem�ncias mistas (em geral, a associa��o de Alzheimer e dem�ncia vascular).
As dem�ncias se caracterizam por uma perda da capacidade cognitiva. Segundo Elaine, h� diferen�as entre as manifesta��es cl�nicas, mas, de modo geral, ocorre uma perda da capacidade de racioc�nio, falhas de mem�ria de curta dura��o (a pessoa se lembra de fatos antigos, mas n�o recorda o que fez h� poucas horas), e dificuldade para organizar e executar tarefas cotidianas.“� medida que o quadro evolui, os sintomas se tornam mais intensos, havendo perda progressiva da mem�ria, desorienta��o, dificuldade nas atividades cotidianas e problemas de linguagem. Esta � a evolu��o t�pica da dem�ncia na doen�a de Alzheimer, a mais frequente das dem�ncias”, refor�a a psic�loga. Os tratamentos para as dem�ncias, especialmente Alzheimer, incluem medicamentos e abordagens de reabilita��o cognitiva. “Tanto os medicamentos quanto a reabilita��o t�m o objetivo de retardar a progress�o da dem�ncia. N�o h� tratamentos que possam reverter as perdas que j� ocorreram. Por isso, aos primeiros sinais de preju�zo cognitivo � fundamental buscar rapidamente o diagn�stico. Quanto antes o tratamento tiver in�cio, melhores ser�o os resultados”, orienta Elaine Di Sarno.
H� v�rios fatores de risco para as dem�ncias que s�o imut�veis (gen�tica ou idade, por exemplo). Outros fatores podem ser corrigidos para reduzir a chance de desenvolvimento de dem�ncia: hipertens�o arterial, obesidade, perdas sensoriais (especialmente auditiva), diabetes, tabagismo, depress�o, isolamento social e falta de atividade f�sica.
Segundo a psic�loga, pessoas com maior n�vel educacional t�m um risco menor de desenvolver dem�ncia. “Pelo fato de terem estudado mais e manterem uma estimula��o intelectual ao longo da vida, desenvolvem uma ‘reserva cognitiva’, deixando o c�rebro mais resiliente �s perdas naturais que ocorrem com a idade. Da mesma forma que o corpo precisa de atividade para se manter bem, o c�rebro precisa de estimula��o para se manter ativo, com sua melhor capacidade poss�vel”, finaliza a profissional.