A coluna de hoje usa a experi�ncia da educadora e psicopedagoga paulista Sueli Brav� Conte para abordar um assunto que todas as m�es n�o gostam de comentar: as mentiras que os filhos contam. Algumas bem infantis, outras nem tanto. Vamos ao que ela ensina:
“O limite � uma experi�ncia afetiva que atinge tanto os pais quanto os filhos. Ningu�m sai ileso e muitas vezes � dif�cil mesmo dizer um 'n�o'. Sentimos pena, hesitamos e, �s vezes, acabamos cedendo. A crian�a percebe tudo, inclusive nossa inseguran�a. Mas nem por isso devemos deixar de impor limites. Frustrar � altamente saud�vel e, tamb�m, necess�rio para a constitui��o do ser humano. Ao mesmo tempo, a falta de limite � o pior estado de ang�stia. Ao estabelecer os limites � preciso sustent�-los com firmeza.
Em meio a tudo isso, h� um processo que dificulta o respeito �s regras: s�o as mentiras. Os pais ficam de cabelo em p� quando percebem que o filho est� mentindo. A primeira rea��o � dar bronca, colocar de castigo e depois tentar uma conversa. Mas qual seria a melhor rea��o dos pais quando descobrem uma mentira contada pelo filho? De in�cio, devemos saber que crian�as de at� 5 anos n�o conseguem separar a fantasia do real. A imagina��o faz parte do desenvolvimento normal da crian�a e � base para o pensamento l�gico que o adulto tem. Com o passar dos anos, por�m, a fantasia d� lugar � no��o de realidade, sem desaparecer totalmente.

A partir dos 6 anos, a crian�a ainda brinca com a sua imagina��o e cria situa��es que n�o s�o reais. Nesse per�odo, as inven��es j� s�o bem menores. A mentira se torna algo intencional a partir dos 7 anos, quando a crian�a j� adquiriu no��es de valores sociais e sabe exatamente a diferen�a entre a verdade e a mentira e quando ela, a mentira, pode prejudicar o outro. Normalmente, as crian�as maiores mentem por temer repreens�es e castigos, para fugir das suas responsabilidades ou chamar a aten��o dos pais. Ou seja, uma crian�a vai mentir que est� doente para n�o ir � escola, inventa que tem milhares de amigos no Facebook ou que fez uma viagem maravilhosa com os pais no fim de semana simplesmente para n�o ficar 'por baixo' dos amiguinhos.
Outro aspecto que precisa ser observado � que o exemplo dos pais pode levar as crian�as a mentir. Se os pais mentem pedindo para o filho dizer que n�o est� quando o telefone toca ou s�o tolerantes quando o pequeno mente, a crian�a poder� achar natural mentir e fica sujeita a faz�-lo. Se tiver d�vida sobre a hist�ria da crian�a, n�o insista, pe�a que conte a hist�ria horas mais tarde e compare as vers�es ou fa�a perguntas amplas como 'O que aconteceu na escola?' em vez de 'Te bateram na escola?', 'A professora gritou mesmo com voc�?', e 'O que voc� fez para ser encaminhado � diretoria?'. A crian�a deve sentir que ao contar a verdade ter� a admira��o e confian�a dos pais, professores e amigos e que a mentira 'tem perna curta' e logo ser� descoberta e desaprovada por todos.
Broncas severas ou castigos podem levar a crian�a a mentir mais vezes para n�o receber novamente esse tipo de puni��o. Mostrar os benef�cios da verdade e os preju�zos que a mentira traz para a pr�pria crian�a e para as outras pessoas � o melhor caminho. Quando o comportamento mentiroso � muito frequente ou se estende muito al�m dos 7 anos, uma ajuda profissional dever� ser procurada. Nesse universo, os psic�logos concordam sobre 'as falas dos adultos afetarem a autoimagem, a autoestima da crian�a e, muitas vezes, determinam o seu car�ter, a sua personalidade e at� mesmo o seu destino'. Segundo os especialistas, h� uma conex�o direta entre o modo de as crian�as sentirem e o modo de se comportar. Quando elas se sentem bem, se sentem aprovadas, admiradas, respeitadas, se comportam bem.
Alguns profissionais ainda concordam que a capacidade de dizer mentiras a partir dos 2 anos � um sinal do desenvolvimento r�pido do c�rebro e significa que essas crian�as est�o propensas a ser manipuladoras e usar as informa��es que as cercam como vantagem. Essa capacidade est� ligada ao desenvolvimento das regi�es do c�rebro que permitem que as fun��es executivas aflorem, o que far� dessa crian�a um grande empres�rio no futuro ou um indiv�duo din�mico, por�m, marginalizado. Portanto, aten��o pais para as pequenas mentiras que, com o tempo, poder�o ganhar propor��es que dificultem uma vida de conviv�ncias saud�veis”.
