
Em 12 de maio, perdemos uma amiga, Patr�cia Gonz�les, m�e de duas menininhas lindas, participante ativa do nosso grupo, membro da Charanga das Pad�s e autora do nosso samba-enredo O amor � o que nos une.
Pat n�o foi levada pela COVID-19, mas por um c�ncer contra o qual lutou bravamente por meses e meses. N�o pudemos nos despedir nem nos abra�ar. � assim que tem sido cada vez que algu�m querido se vai neste momento de isolamento social. Partidas sem abra�os. Despedidas sem presen�a.
Se para n�s, adultos, j� � dif�cil, imagine para as crian�as. Precisamos estar preparadas para conversar com elas sobre isso.
Compartilho com voc�s uma passagem do meu livro Sem para�so e sem ma��, que teve o lan�amento adiado por causa do coronav�rus, mas que ser� lan�ado agora em junho. Um momento que vivi com meu filho no ano passado, mas que vale para todas as despedidas.
“A morte
O menino reclamou de dor na barriga.
Diagnostiquei a ansiedade.
Estava com dificuldade para pegar no sono.
Estava impressionado com a lama e as mortes em Brumadinho.
Mais uma vez tive que lidar com o medo da morte.
Explicar que todo mundo morre.
Que morrer n�o d�i, que � s� uma passagem.
Para ele entender, hoje eu falei sobre quando ele nasceu:
Voc� estava quentinho dentro da minha barriga.
Dentro de um l�quido.
No escurinho gostoso.
O dia chegou e voc� precisou sair.
Passar por um canal.
Chegar do lado de fora, no seco.
Voc� n�o sabia o que tinha do outro lado, o que te esperava.
N�o foi ruim.
Eu e seu pai te esper�vamos.
N�s tamb�m est�vamos com medo, a gente n�o te conhecia.
A gente esperava por voc� sem saber como voc� seria.
E n�s ficamos felizes.
Voc� foi para o meu colo e ficou tudo bem.
N�o dava para ficar mais tempo na minha barriga.
Chegou a sua hora.
Assim tamb�m � a vida.
N�o d� para ficar aqui eternamente,
Nossa hora chega e a gente tem que passar.
Cada um tem seu tempo, sua hora.
A hora chega, a gente passa.
Quem fica sente saudade, sofre.
Mas um dia passa tamb�m.
O que tem do outro lado eu n�o sei te dizer, mas n�o pode ser ruim.”
Meu abra�o virtual a todos que perderam algu�m querido e n�o puderam receber abra�os e carinhos presenciais. Sejamos resilientes, pois n�o temos outra alternativa.