
Em mar�o de 2019, recebi o diagn�stico de c�ncer de mama. Havia feito exames e o resultado da bi�psia, que dizia com todas as letras “carcinoma invasivo”, saiu no dia 25 daquele m�s.
Peguei o resultado na internet logo depois de deixar o Felipe na escola. Estava sozinha em casa e foi muito assustador juntar aquelas letras e processar: eu tenho c�ncer. Eu tre- mia. Por mais que eu achasse que estava preparada para o resultado, eu n�o estava. Deixei o p�nico tomar conta de mim por alguns minutos. Depois me deitei e comecei a respirar, e meditei at� meu cora��o se acalmar.
Eu tinha c�ncer, mas tinha des- coberto cedo, ia fazer o que tivesse que ser feito e ficaria curada. Mandei o resultado para o meu marido e umas amigas. Fui ao m�dico, depois peguei o Felipe no col�gio.
Em casa, contei para ele que o resultado tinha dado positivo e que eu teria que fazer um tratamento que incluiria uma cirurgia para a retirada do tumor. Ele tinha 9 anos e, naquela �poca, s� pensava na sua festa de anivers�rio de 10 anos, que seria em maio. Al�m de contar que eu tinha c�ncer, tamb�m tive que explicar que ter�amos que mudar os planos da festa, n�o daria para ser uma festa grande, convidando todos os amigos, mas far�amos uma festa menor no sal�o de festas do pr�dio e ele poderia convidar os amigos mais pr�ximos.
Dei tempo para ele pensar sobre tudo e disse que ele poderia me perguntar qualquer coisa sobre a doen�a, que eu n�o esconderia nada dele.
No dia seguinte, indo para a escola ele me perguntou:
– M�e, voc� vai morrer?
Eu disse que todo mundo morre um dia, e n�o poderia prometer para ele que n�o iria morrer de c�ncer, mas que eu faria tudo que fosse necess�rio para ficar curada. Ele se lembrou da m�e de um amigo que havia morrido de c�ncer. Eu expliquei que o tipo de c�ncer dela era diferente do meu, que ela descobriu quando j� estava bem grande. Disse que o meu era na ma- ma. Que a mama era feita para amamentar, que ele j� havia amamentado e que agora eu n�o precisava mais de- la. Que poderia tirar se fosse neces- s�rio. E finalizei dizendo que o m�dico havia falado que eu tinha 80% de chance de cura, e que iria me segurar nesses 80%, e n�o nos 20%.
Expliquei tudo de forma simples e clara, para que ele entendesse. Se ele fosse mais novo, iria usar outras palavras para dizer a mesma coisa. Que eu estava com uma doen�a que assusta todo mundo, mas que faria o tratamento para me curar.
Passei o m�s de abril fazendo exa- mes e organizando a festinha de ani- vers�rio. Fizemos uma festa surpresa no dia do anivers�rio, 6 de maio. Ele chegou da aula e estava todo mundo l� no sal�o escuro. Surpresa! Ele amou.
Ele foi comigo na consulta pr�-operat�ria e p�de conversar com a minha m�dica e se sentir mais seguro. Crian�as sentem quando a gente est� escondendo alguma coisa e ficam ansiosas, inseguras e preocupadas. Na roda de conversa na escola ele contou que eu estava com c�ncer e que eu ia operar. A professora me contou que ele falou com naturalidade.