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O feminismo tamb�m � uma quest�o de ra�a e classe social

Mantendo a sua estrutura e se apropriando do movimento feminista, o capitalismo fez mulheres se aliarem ao patriarcado e ao sexismo


(foto: Pixabay )
(foto: Pixabay )
O capitalismo tudo absorve e de tudo se apropria. Apesar de ter surgido como um movimento que pedia a reestrutura��o geral da sociedade com base na igualdade entre os g�neros, com o feminismo n�o foi diferente.

Em vez de cunhar a constru��o de uma sociedade fundamentalmente antissexista, o empoderamento feminino passou a ser representado pela ideia de que as mulheres queriam ser como os homens. Faz parte da luta feminista a busca por direitos iguais entre homens e mulheres. No entanto, a minha vis�o � que n�s nos perdemos nesse ponto.

N�o � meu objetivo entrar em uma discuss�o acad�mica, mas vale a pena retomarmos aqui de maneira simples e direta como se deu a primeira onda do feminismo no Brasil. A partir de 1920, as mulheres brasileiras se mobilizaram exigindo o direito de votar e trabalhar sem precisar da autoriza��o dos maridos.

Esse movimento, que se estendeu at� a d�cada de 70, se tornou uma articula��o pela emancipa��o feminina que calhou muito bem ao capitalismo. As consequ�ncias das duas guerras mundiais e a revolu��o industrial tardia brasileira criaram condi��es para que as f�bricas necessitassem da m�o de obra feminina. 

Dessa forma, a no��o de igualdade de g�nero no mercado de trabalho passou a ser aceita. O que, infelizmente, n�o levou ao empoderamento de todas as mulheres. Assim que as mulheres entraram no mercado, acumularam uma jornada tripla de trabalho. Com os cuidados com a casa e com os filhos ainda sob a responsabilidade feminina, a divis�o social do trabalho foi mantida e as mulheres apenas acumularam mais uma fun��o. 

Em vez de convocar os homens para dividir as tarefas dom�sticas e se responsabilizarem pela cria��o dos pr�prios filhos, n�s designamos essa tarefa para as mulheres negras e perif�ricas. E foi a� que o movimento feminista se perdeu. A ilus�o da mobilidade de classe e uma suposta liberta��o da domina��o masculina por meio do capital (ou seja, do trabalho assalariado), fez com que mulheres brancas explorassem mulheres negras. 

As consequ�ncias desse “acomodamento social” que poupou os homens e condenou as mulheres negras a uma situa��o de subordina��o s�o sentidas at� hoje.

Mesmo depois de 100 anos, um levantamento publicado pelo IBGE em 2018 mostra que a divis�o social do trabalho ainda n�o foi superada. Segundo o estudo, as mulheres dedicam 21,3 horas semanais (em m�dia) a afazeres dom�sticos ou cuidados com familiares. Enquanto os homens dedicam apenas 10,9 horas por semana nesse tipo de tarefa.

At� hoje muitos homens n�o se responsabilizam pela cria��o dos filhos. Al�m do abandono emocional, que nem sempre pode ser medido, segundo levantamento da Central Nacional de Informa��es do Registro Civil, mais de 5,5 milh�es de adultos brasileiros nunca tiveram o reconhecimento do pai na sua certid�o de nascimento.

Ao olharmos para o n�mero de lares chefiados por mulheres que vivem sozinhas com seus filhos, constatamos que esse � o desafio de 12 milh�es de m�es, segundo o IBGE. Quando fazemos o recorte de ra�a e cruzamos com dados de classe social, a verdadeira consequ�ncia aparece: 63% das casas chefiadas por mulheres negras est�o abaixo da linha da pobreza no Brasil.

S�o aproximadamente 7,8 milh�es de pessoas vivendo em casas chefiadas por mulheres negras que, em sua maioria, tem renda composta pela terceiriza��o das tarefas dom�sticas e da cria��o dos filhos das mulheres brancas.

Mantendo a sua estrutura e se apropriando do movimento feminista, o capitalismo fez mulheres se aliarem ao patriarcado e ao sexismo. Enquanto olharmos para o “Feminismo como no��o de poder”, como diz bell hooks (2018), vamos continuar repetindo a l�gica capitalista da explora��o e opress�o de outras pessoas.

O feminismo n�o � s� uma quest�o de g�nero. 

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