Qual � o plural de aparelho de ar-condicionado?

 

 

“Deus usa o sil�ncio para ensinar sobre a responsabilidade das palavras.”

 Paulo Coelho

Palavras viram moda sem querer. Ningu�m as inventa. Elas est�o quietinhas, guardadas no ba� da l�ngua. A�, acontece. Algu�m as tira de l�. Surpreende. As antes desconhecidas ganham notoriedade. H� exemplos pra dar, vender e emprestar. Quer ver?

Fernando Collor descobriu maraj�. Buscou-a na �ndia. L�, o voc�bulo dava nome aos pr�ncipes e endinheirados do pa�s. Aqui, passou a designar o funcion�rio p�blico que recebe altos sal�rios. Mas o alagoano generalizou. Botou no mesmo saco os privilegiados e os barnab�s. Virou piada.

FHC lan�ou o nhem-nhem-nhem. Pescou-o no tupi. Na l�ngua dos �ndios, o trio quer dizer falar, falar, falar. Na nossa, mais ou menos a mesma coisa. � resmungo, fala��o intermin�vel.

O tucano Jos� Serra ressuscitou tr�-l�-l�. A danadinha tem origem onomatopaica. � como au-au, miau-miau, toque-toque. Imita vozes ou ru�dos. Os tr�s monoss�labos significam m�sica ligeira, f�cil de entoar. Por extens�o, conversa vazia, lero-lero.

 

Bolsonaro n�o � o autor. Mas inspirou a palavra tosco. A diss�laba virou praga. � um tal de discurso tosco pra c�, debate tosco pra l�, trabalho tosco pracol�. A popularidade provocou corrida ao dicion�rio. De onde vem a ilustre criatura?

Os romanos desprezavam os moradores de Vicus Tuscus, bairro romano onde viviam os etruscos. Deram, por isso, acep��o pejorativa a tuscus, que passou a significar devasso, vil, libertino. Com o tempo, perdeu-se esse sentido. Hoje, tosco quer dizer tal como veio da natureza, bronco, rude. Em bom portugu�s: sem refinamento.

Muitos reclamam da reforma ortogr�fica. Mas ela deu ajudinhas a n�s, falantes da l�ngua portuguesa. Uma delas � simplificar o emprego do h�fen. As onomatopeias servem de exemplo. Ora se escreviam com o tracinho. Ora sem. Agora todas se grafam separadinhas, sem possibilidade de contato. � o caso de nhem-nhem-nhem, tr�-l�-l�, bl�-bl�-bl�, tique-taque, toque-toque, quem-quem, lenga-lenga, tim-tim por tim-tim.

O prefixo co- tinha parceria com as onomatopeias. Lidar com ele era baita confus�o. Ora pedia o tracinho, ora dispensava-o. Com o acordo, a novela mudou o enredo. O pequenino nunca aceita h�fen. Com ele � tudo colado: coautor, coerdeiro, corr�u, correpresentante, comorador, coinquilino, correpresentante, coprodu��o, cossecante. Etc. Etc. Etc.

A hist�ria se repetiu com o n�o. Antes, s� o dicion�rio sabia quando usar o tracinho e quando dispens�-lo. A reforma deu um ponto final no quebra-cabe�a. Mandou o h�fen plantar batata beeeeeeeeem longe. Oba! As tr�s letrinhas ficaram livres e soltas – sem len�o e sem documento: n�o agress�o, n�o alinhamento, n�o conformismo, n�o fumante, n�o interven��o, n�o participa��o, n�o alinhado, n�o beligerante, n�o combatente, n�o conformista, n�o intervencionista, n�o ferroso, n�o verbal, n�o viciado. Ufa!

A frase circula na rede. As pessoas a leem. Algumas riem. Outras ficam s�rias. H� as que se irritam. Mas nenhuma fica indiferente. E voc�? Fa�a o teste:

“Ter duas mulheres n�o, � errado! Errado � voc� ler sem respeitar a v�rgula.”