Paulo Guedes era o todo-poderoso do governo Bolsonaro. O presidente o apelidou de Posto Ipiranga. Mandachuva da economia, tinha o poder de fazer e desfazer sem questionamentos. O tempo passou. Cad�? O ministro falou muito e entregou pouco. A �ltima foi o pacote prometido pra ser aberto na ter�a-feira. N�o foi. O chef�o vetou.
Culin�ria na manchete
A imprensa falou em fritura do ministro. Logo, logo seria frito. Pintou a curiosidade. Como o termo da culin�ria ampliou o significado? Ele faz companhia a outros. Um deles: banho-maria. Outro: p�r na geladeira. Dizem que frito, sin�nimo de quem se deu mal, vem de longe. Nasceu nos tempos da Inquisi��o. A Igreja torturava as pessoas at� queim�-las na fogueira. Uiiiiiii!
Por falar em todo-poderoso...
Guedes era todo-poderoso. E Teresa Cristina? Todo, no caso, funciona como adv�rbio (= totalmente). Mant�m-se invari�vel: Guedes ainda � todo-poderoso na economia? Teresa Cristina � todo-poderosa na agricultura. Ambos ainda jogam no time dos todo-poderosos. H�, tamb�m, equipes de todo-poderosas.
Alto l�!
No pacote de Guedes, figuravam cortes em benef�cios destinados aos mais necessitados. Bolsonaro n�o concordou. E, sabido, criou uma frase de efeito pra ganhar uns pontinhos nas pesquisas de opini�o: “N�o podemos tirar do pobre pra dar ao paup�rrimo”.
A fala ganhou espa�o em jornais, r�dios e tev�s. A raz�o: Sua Excel�ncia fugiu da mesmice. Usou paup�rrimos em vez de muito pobres. O significado � o mesmo. Mas surpreendeu. E a surpresa, sabe-se, � uma das qualidades do estilo.
Supersuper
O adjetivo tem graus. Um deles � o superlativo. Como o nome diz, ele joga no time dos mais mais. Trata-se do elevado grau de determinada qualidade. O supersuper tem duas formas. Uma sint�tica, formada por uma s� palavra. A outra anal�tica, formada por mais de uma.
H� exemplos pra dar, vender e emprestar. Um deles foi usado por Bolsonaro. Outros: inteligente (muito inteligente, inteligent�ssimo), elegante (muito elegante, elegant�ssimo), f�cil (muito f�cil, fac�limo), dif�cil (muito dif�cil, dific�limo), amigo (muito amigo, amic�ssimo), am�vel (muito am�vel, amabil�ssimo), bom (muito bom, bon�ssimo), fiel (muito fiel, fidel�ssimo).
Jeitos de dizer
A l�ngua � pra l� de criativa. �s vezes quer dar ideia de superlativo sem usar o superlativo. H� jeitos. Um deles � repetir o adjetivo. Veja o exemplo de Castro Alves:
Teus olhos s�o negros, negros
Como as noites sem luar...
Mais do mesmo
A Pol�cia Federal deflagrou mais uma opera��o. Na mira, o tr�fico internacional de drogas. Que nome dar para a ca�ada? Procura daqui, palpita dali, eureca! Chamou-a de Fato Real. Baita pleonasmo. Todo fato � real, assim como todo pa�s � do mundo e todo elo � de liga��o. Por isso, quando algu�m duvida de algo, dizemos para convenc�-lo de que estamos certos “� fato”. Conclus�o: o adjetivo sobra. Basta fato.
Furac�o
O furac�o Laura chegou aos Estados Unidos. Atingiu a Louisiana. Ventos pra l� de fortes castigaram a costa do estado. O fato virou not�cia. Muitos escreveram “ventos de 240km por ora”. Bobearam. Hora e ora se pronunciam do mesmo jeitinho. Mas t�m significados diferentes:
Hora = 60 minutos: Ganha R$ 50 por hora. A velocidade da via � de 80km por hora. O rendimento de muitas pessoas se mede por horas trabalhadas.
Ora = agora: Por ora, tem tr�s sa�das. Guedes n�o tem propostas a apresentar por ora. A velocidade, por ora, � de 80km por hora.
Leitor pergunta
Li no jornal “O pessoal foram”. Trope�o, n�o?
Ricardo Silva, Bras�lia
Senhor trope�o. A l�ngua, coitada, � a v�tima. Pessoal, como multid�o, pede verbo no singular: O pessoal foi. A multid�o se dissolveu.