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Estado de Minas ESPUMA ESSENCIAL

De como o guru cervejeiro baixou num bar do Centr�o, petiscou, bebeu e gostou

Bermud�o, sand�lias, o guru dos cervejeiros largou o hotel e baixou no Lado B do Centr�o da capital mineira


postado em 29/11/2019 04:00 / atualizado em 28/11/2019 17:10


Era um homem pra l� de meticuloso. A caderneta verde ao bolso. Os l�pis refinadamente apontados. E paciente pausa para anotar toda observa��o que julgasse relevante. O formato das montanhas, as fei��es da gente por onde andava, as palavras que ia descobrindo a cada pa�s e, melhor da festa, a alma de toda cerveja artesanal que lhe surgia � frente. As daqueles dias haviam sido surpreendentes em uma semana de Ouro Preto. Se encantara tanto pelas bi�re de garde e pelas champenoise quanto pelo tra�ado colonial peculiar da cidade. Foram baterias e baterias de julgamentos e f�runs t�cnicos que, mesmo atraentes, desalinhavam at� o esp�rito – tamanho mergulho nas min�cias cervejeiras.

E, a exemplo do que fazia em outras paragens, ao fim das agendas cheias de protocolo e formalidades queria era se meter como que na pele nativa. De prefer�ncia, sem cicerones. Passava ao largo de tudo o que estivesse no roteiro tur�stico (abrira exce��o �s obras geniais de Aleijadinho e outros mestres na velha Vila Rica). Rio? Sem orla, sem Corcovado. Salvador? Sem Pelourinho, sem Mercado Modelo. Belo Horizonte? Sem... sem... sem... Pampulha, sem Mercado Central.

Foi assim que, bermud�o, sand�lias, o guru dos cervejeiros largou o hotel e baixou no Lado B do Centr�o da capital mineira. As 'escolhas' eram uma esp�cie de abra�o � casualidade. Fazia dessa maneira nas Am�ricas do Norte e Central, na �sia, Europa, Oceania e repetiria no Brasil. Andou um, dois, cinco, 10 quarteir�es e deu com bares que, francamente, n�o convidavam nem o mais sedento dos mortais. Sujos demais. P� direito sufocante. Escuros como a solid�o. Vazios de dar d�. At� se deparar com o estabelecimento de duas portas na Rua Guarani, regi�o onde � noite trabalhadores se amontoam em filas de �nibus para a longa jornada de volta a suas casas.

Imagem religiosa ao alto. A estufa suando em carnes gordas, ovo e torresmo. Figuras de p�s inchados �s mesas de fora. E seu idioma prec�rio? Ah, da l�ngua se arranjaria. Havia se virado no Laos, nos becos da Patag�nia, nos sub�rbios de Tr�poli, nas ruelas da Crac�via. Nascera em ingl�s, se ambientara ao espanhol, franc�s, italiano e alem�o e jurava arranhar o portugu�s. Entrou. As garrafas empoeiradas em prateleiras formavam um losango em dois n�veis. Os p�steres de time de futebol � parede iam do alvinegro ao celeste. Amava esses cen�rios. No boa tarde, o garoto do balc�o flagrou a levada gringa do sotaque. E quase desenhou ao tentar explicar o prato sugerido ao turista: chouri�o.

– E para acompanhar, mister?

– Traga, por favor, a cerveja especial que a casa serve.

O que era aquilo, meu Deus? Cerveja especial? Consultou o patr�o e o atendente da velha guarda. No di�logo de incertezas, chegaram a um veredito. O dono julgava conhecer aqueles tipos.

– Faz que ele vai gostar, com certeza.

Trocaram mais ideias ao p� do ouvido, numa miniconfer�ncia em que observavam cada gesto do estrangeiro. Ele cheirando o chouri�o. Balan�ando a cabe�a positivamente. Com cara feliz � primeira mordida. Bom, se o chefe falou, m�os � obra. Abriu a cerveja preta com um cuidado incomum, despejou no liquidificador, adicionou tr�s ovinhos de codorna e n�o mais que polvilhou o a��car, como recomendado. Por fim, espremeu duas rodelas magras de lim�o e p�s para girar.

A espuma em abund�ncia dava quase meio copo. Usava um daqueles largos, de requeij�o. Ambientado assim, o guru seria um choque aos clubes cervejeiros refinados. Mas ele estava exatamente como pretendia naquele momento: livre de amarras protocolares. Recebeu a bebida e deixou que descansasse, equalizando volume entre o l�quido e o que se punha acima dele.

Mastigou uma por��o mais de chouri�o com o prazer de quem sentia fome. Desprezou os rituais. Nada de emborcar a cerveja, nada de conferir aromas. Queria t�o somente beber do que bebia um brasileiro comum, para al�m do padr�o cl�ssico. N�o perguntou, e tinha convic��o de que n�o saberiam lhe explicar. sobre a receita. Deixou que a capacidade sensorial lhe guiasse. Levou � boca. Creiam: o lim�o, como uma fina l�mina, equilibrara dul�or a uma cota agrad�vel.

Enfim, gostara daquela combina��o entre o ex�tico e o simpl�rio. Foi mais que generoso nas gorjetas, nos agradecimentos e, dois dias � frente, j� de volta a Nova York, abria assim seu artigo para o blog: “N�o confundam simplicidade com simplismo. Vou contar de minha viagem ao Brasil, onde participei como jurado de concursos e f�runs t�cnicos em Ouro Preto. Falarei das bi�re de garde e champenoise, mas antes relato como explorei meu dia de turista. Amigos, a Sweet Stout daquela tarde quente em Belo Horizonte...”.

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