
A Academia Mineira de Letras (AML) est� em festa pela comemora��o dos seus 110 anos. Sess�o solene, recital de poesia da obra de acad�micos com o grupo Palavra Viva, missa solene celebrada por dom Walmor Oliveira de Azevedo, que tamb�m � acad�mico, marcaram a programa��o de comemora��es. Haver� ainda sess�es solenes, em 13 de dezembro, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, e em 17 de dezembro, na C�mara Municipal de Juiz de Fora, onde ocorreu a primeira reuni�o da academia, no come�o do s�culo20.
Centen�ria, a institui��o est� conectada atrav�s de site na internet, p�ginas no Facebook e Instagram, canal no YouTube. “A rela��o entre o p�blico e a academia est� cada vez melhor. Tudo o que for preciso para ampliar o acesso das pessoas � nossa programa��o cultural ser� feito. A academia s� faz sentido se fizer sentido para a comunidade em que ela est� inserida”, afirma Rog�rio Tavares, presidente da AML.
Segundo ele, n�o h� nada melhor que o uso inteligente e sensato da tecnologia. “Ela faz a informa��o e o conhecimento circularem mais amplamente, por todo o planeta. As novas gera��es t�m aprendido a gostar de ler nos meios digitais. Admiro e respeito todos os sites e os blogs que divulgam a literatura. Eles prestam um grande servi�o � sociedade”, diz Tavares.
Entre os presidentes da casa, Rog�rio Tavares destaca Jos� Oswaldo de Ara�jo, Heli Menegale (“que conquistou a primeira sede pr�pria para a academia”), e Vivaldi Moreira (“um gigante, que dedicou sua vida a essa institui��o, para ela obtendo a doa��o do palacete e a constru��o do audit�rio”). “Sempre renderei homenagens, tamb�m justas e merecidas, a Orlando Vaz Filho, Elizabeth Renn� e ao querido Olavo Romano, que abriu o cora��o da academia ao povo de Minas”.
COM A PALAVRA...
Rog�rio tavares
Presidente da AML
Qual a import�ncia da Academia Mineira de Letras para a hist�ria de Minas e da capital?
A Academia Mineira de Letras foi fundada em 1909, em Juiz de Fora, por um grupo de intelectuais entusiasmados pela literatura e pela l�ngua portuguesa. Em 1915, ela veio para Belo Horizonte, conquistando sua primeira sede pr�pria em 1943. Em suas 11 d�cadas, n�o houve outra institui��o no estado capaz de reunir capital simb�lico e social t�o alto. Por ela passaram nomes com Alphonsus de Guimaraens, Abgar Renault, Ayres da Matta Machado, Bartolomeu Campos de Queiroz, Cyro dos Anjos, Henriqueta e Ala�de Lisboa, al�m de estadistas como JK, Afonso Arinos, Milton Campos, Pedro Aleixo, Tancredo Neves e Oscar Dias Correa. Em 110 anos, ela preservou e divulgou a mem�ria e a hist�ria de Minas como poucas entidades culturais puderam fazer. Sua longevidade e o vigor de que desfruta atualmente comprovam sua relev�ncia e sua habilidade em acompanhar a evolu��o do tempo.
Quais s�o os grandes desafios enfrentados pela AML?
H� o desafio da manuten��o financeira, que n�o � f�cil. Hoje, gra�as a empresas sens�veis e atentas ao campo da cultura, temos como sobreviver com alguma dignidade, por meio dos patroc�nios captados via leis de incentivo. A Associa��o dos Amigos da Academia, presidida com brilho por Jos� Anchieta da Silva, tamb�m � fundamental para que possamos seguir em frente. Nos �ltimos meses, com o incremento da nossa programa��o, o interesse do mundo corporativo em associar a sua marca � da Academia tem crescido, o que nos d� muita alegria. Todos respeitam e admiram a credibilidade e a reputa��o da institui��o. Outro desafio � o da preserva��o da nossa sede, que � preciosa. O Palacete Borges da Costa e o Audit�rio Vivaldi Moreira exigem cuidados permanentes, profissionais, que n�o suportam a neglig�ncia ou o amadorismo.
Pouca gente sabe que a academia tem um acervo de 35 mil livros. O que h� de importante e quais as curiosidades desse acervo? O p�blico pode consultar os livros?
A academia guarda 10 cole��es valiosas de livros, documentos, manuscritos, obras raras... Temos o acervo integral de Eduardo Frieiro, Nelson de Senna, Vivaldi e Edison Moreira. Tamb�m � da AML uma extensa s�rie de cr�nicas datilografadas e anotadas � m�o por Carlos Drummond de Andrade, uma doa��o recebida de Furnas, durante a presid�ncia de Itamar Franco. O que existe sobre Juscelino Kubitschek aqui n�o existe em nenhum outro lugar. Esse acervo, agora, est� sendo totalmente inventariado e catalogado. Ele j� pode ser consultado pelos pesquisadores, mas � preciso marcar a visita antes. Nossa meta � abri-lo ao p�blico integralmente at� o final de 2020.
Como est� o processo de musealiza��o e o que isso vai representar efetivamente para a academia?
No primeiro m�s de minha gest�o, constitu� a Comiss�o de musealiza��o da academia, de que fazem parte os acad�micos M�rcio Sampaio, Rui Mour�o e Angelo Oswaldo de Araujo Santos. A ideia � tratar tudo o que est� no Palacete Borges da Costa (m�veis, lou�a, lustres, o piano – que mandei restaurar recentemente...) como �tem museol�gico, a ser devidamente inventariado para integrar o acervo da AML. Alguns espa�os dever�o ser redesenhados para guardarem maior fidelidade a esse projeto. Nosso objetivo � abrir o palacete para visitas guiadas por monitores que saibam explicar o que � a institui��o e o que foi a casa. Por meio dessas visitas ser� poss�vel entender muito do jeito de morar e de viver que vigorou em Belo Horizontes nas primeiras d�cadas do s�culo passado. Assim, a academia estreitar� ainda mais seus la�os com a cidade e com quem ama a cultura.
O Palacete Borges da Costa, sede da academia, � uma das mais belas constru��es de Belo Horizonte. Conte um pouco sobre a sede, como � a rotina de quem trabalha no pr�dio. S�o quantos c�modos, como � manter a casa e como � ter um escrit�rio em um pr�dio t�o bonito?
O palacete come�ou a ser constru�do em 1910 e ficou pronto em 1923. Nele, o m�dico Borges da Costa mantinha a sua resid�ncia, o seu consult�rio e at� um ambulat�rio, que funcionava no subsolo. Por sorte, mais de 90% do im�vel est�o em �timo estado de preserva��o. Com mais de 50 c�modos, o palacete tem tr�s andares, seis quartos, um lindo sal�o de ch� e duas varandas impressionantes, uma na frente e outra nos fundos. Nossa equipe tem o privil�gio de trabalhar nesse ambiente charmoso e sofisticado, que remete a uma Belo Horizonte que n�o existe mais, infelizmente. H� funcion�rios que chegam � academia muito cedo, para cuidar dos livros, e outros que saem bastante tarde, j� que nossos eventos �s vezes terminam depois das 11 da noite. Para mim, � um privil�gio pertencer a esse grupo. Quando entro no palacete, ocorre algo m�gico: � como se estivesse em outro tempo, em outra dimens�o. Talvez no tempo da delicadeza, da cortesia, da eleg�ncia, da civilidade, artigos t�o em falta nos dias de hoje.