Di�rio da quarentena
O pior j� passou
Renato Tavares
Publicit�rio

Quem diria... O que ach�vamos que duraria uma semana, no m�ximo duas, acabou levando cinco meses da nossa vida! O notici�rio passando na TV todos os dias, nos lembrando dos protocolos, das m�scaras, das ordens, mas tamb�m das v�timas, dos amigos que se foram, dos trabalhadores que n�o pararam de trabalhar, das fam�lias separadas. N�o tem mais festas, n�o tem mais celebra��es, nada de encontros com os amigos no barzinho. A vida virou um frame dentro de uma webinar!
Por outro lado, os dias se tornaram cada vez mais lindos. O c�u em v�rias tonalidades de azul – �s vezes sem nenhuma nuvem – se confundia com o tom laranja vivo do p�r do sol. Ser� que os dias ficaram assim porque n�o tinha muito carro nas ruas, as f�bricas e empresas estavam paradas, e com isso diminuiu a polui��o? Ou eles sempre foram assim e n�s n�o t�nhamos tempo para apreci�-los?
Est�vamos sempre atrasados! Atrasados para o trabalho, para a reuni�o, pra pegar o filho na escola, encontrar com a amiga que terminou o namoro de anos, atrasados para ver a �ltima not�cia nas redes sociais e os trending topics do Twitter!
Ent�o, chega um v�rus vindo do outro lado do planeta e pronto! Voc� ganha todo o tempo do mundo. Ap�s os primeiros momentos de ang�stia e aceita��o, voc� elenca tudo aquilo que deixou de fazer a vida inteira e escreve na agenda com ares de vit�ria. “Agora vai!”, voc� pensa, iludido. E decide ser muso fitness, ler finalmente a biografia da Michelle (no caso, Obama), arrumar todos os arm�rios de todos os c�modos da casa, retomar o ingl�s, fazer medita��o, aprender a fazer p�o e fazer lives!
Por�m, agora voc� tem de montar protocolos de sobreviv�ncia dentro de sua pr�pria casa. Ser� que se eu colocar a m�quina de lavar no hall de entrada do apartamento os vizinhos v�o reclamar? Seria mais f�cil j� chegar, tirar a roupa e deixar tudo l� dentro. A roupa nem entra em casa! Talvez meu vizinho de porta queira usar tamb�m... Sei l�... E brotam potes, dispensers, tubos de �lcool em gel para todos os lados.
E voc� precisa convencer a sua m�e, idosa, de que ela n�o pode sair na rua. Nem pra comprar p�o ou conversar sobre a novela com a vizinha. Com isso, tudo aquilo que voc� escreveu na agenda que iria fazer vai ficando para tr�s... Voc� precisa focar na reuni�o on-line do trabalho, organizar a expedi��o ao supermercado para n�o se esquecer de comprar nada, vigiar o vizinho solteiro e pegador pra ver se ele n�o vai fazer outra festinha e empestear o pr�dio inteiro com o v�rus, dar sequ�ncia ao misto de col�nia de f�rias e escola infantil que virou a sala de jantar.
E ent�o, entre um afazer e outro, entre uma crise de riso porque viu um v�deo engra�ado no grupo da fam�lia e a perplexidade a respeito dos n�meros apresentados na TV, voc� para e pensa: ser� que, um dia, voltaremos ao normal?. Voltaremos ao nosso ritmo usual do dia a dia quando tudo isso passar? Qual ser� esse ritmo? O de antigamente, que nos impedia de ver a beleza do p�r do sol, ou o de agora, quando nos preocupamos com a sanidade f�sica e mental? Haver� uma outra alternativa mesclando essas duas fases da nossa vida?
O tempo n�o espera. O tempo n�o para. Ele passa cada vez mais r�pido. Se voc� bobear, ele o atropela e voc� acorda com o Macaulay Culkin fazendo 40 anos!
Mas uma coisa � certa. O tempo tem um dono, um propriet�rio, um patr�o: eu... voc�. No final das contas, � voc� quem decide o que fazer com ele, como aproveit�-lo ou desperdi��-lo. Sem culpa.
Tudo bem se voc� n�o deu conta de fazer tudo o que tinha planejado. Tudo bem se voc� mal conseguiu sair da cama todos os dias rumo ao home office. Est� tudo certo se voc� conseguiu ser o misto de Super-Homem com professor de escola infantil e um toque de MacGyver. Relaxa. Todas essas vers�es s�o apenas voc� tentando se adaptar e sobreviver a esse tempo de c�u azul lindo.
O importante � que ao final desses cinco meses, caminhando para o sexto, o pior j� passou. E voc� continua aqui. Vivo.