Tem quem insista nessa tese, mas eu sou contra. N�o � por teimosia ou por ser de um signo que tem como necessidade discordar. � por respeito.
Respeito a cada uma das pessoas que teve este como o �ltimo ano de suas vidas. Que escreveram hist�rias feitas de momentos felizes, tristes, alegres, dolorosos, e que, em sua �ltima parte, foram tecidas com bravura. Dois mil e vinte � o ano que tem a honra de contar o �ltimo trecho deste ciclo de suas hist�rias. � marco temporal na vida delas e de todos que as amam.
Respeito �s pessoas que trabalham em hospitais e demais servi�os de sa�de. Talvez tenha sido o ano em que mais tenham transbordado horas extras e l�grimas em suas vidas. Gente acostumada a lidar com a doen�a, com a morte. Mas que enfrentou essas duas coisas numa outra ordem de grandeza. Que reconhece: a vida � mesmo um sopro. Mas sofreu por ver quem n�o tivesse ar para um �ltimo suspiro. Por terem experimentado,
dia a dia, que a intelig�ncia � atributo que nos faz humanos, mas � o afeto que confirma a nossa humanidade.
Respeito a todas as pessoas que trabalham na educa��o. Que se reinventaram da noite para o dia. Que se tornaram redatoras, videomakers, youtubers, especialistas em ensino a dist�ncia. Que acolheram estudantes e fam�lias em �udio, texto ou v�deo. Por confer�ncia ou mensagem de WhatsApp. Pessoas que, talvez antes de todos n�s, j� sabiam que dois mil e vinte n�o era sobre se a crian�a vai aprender a ler, se vai aprender a multiplicar ou passar no Enem. � sobre ser resiliente, adapt�vel, independente, forte. Compet�ncias que far�o diferen�a em todos os outros anos de sua vida.
Respeito a voc�. Voc� que, assim como eu, o seu vizinho e aquela pessoa que nenhum de n�s dois conhecemos, teve que lidar com perdas, frustra��es, dores e derrotas. S� voc� sabe as for�as que precisou criar, as habilidades que precisou desenvolver e os pratinhos que precisou girar para continuar se levantando em cada novo dia deste ano.
Tem como dizer que de dois mil e vinte n�o levaremos nada?
A jornada do her�i – teoria que explica a linha narrativa dos filmes, s�ries e livros que mais encantam as pessoas – � feita de picos e vales. Chor�o chamaria de dias de luta e dias
de gl�ria.
Nas hist�rias, individuais e coletivas, os momentos mais dif�ceis que primeiro s�o lembrados.
Da vida da minha m�e, eu sei de cor os momentos mais duros, sofridos e que me d�o vontade de voltar no tempo para estar l� e abra��-la. E s�o justamente esses momentos que me fazem admir�-la mais.
Se algu�m disser pra voc� que este foi um ano perdido, fa�a uma coisa pelos que se foram, por suas fam�lias, pelos profissionais da sa�de, pelos professores. Fa�a por mim, por voc� e por cada pessoa que atravessou o desafio de estar vivo em dois mil e vinte. Diga que n�o. Responda que este foi um ano lutado e aprendido. Que far� diferen�a na forma como viveremos o pr�ximo e todos os outros anos da nossa vida.