Marcelo Wanderley
Secret�rio-executivo da Frente da Gastronomia Mineira

"Fomos em busca de rel�quias do interior, como incr�veis mercearias e armaz�ns antigos"
Nos �ltimos anos, eu vivi de aglomera��o. Promover eventos de gastronomia era minha principal atividade. A� veio o v�rus e tornou meu of�cio algo n�o recomend�vel. Ao menos por enquanto.
Ver as pessoas sa�rem felizes dos meus eventos me deixava saciado. A comida tem esse maravilhoso poder de agregar. Mas tudo isso teve que ficar no passado. Foi algo indigesto.
Fui me reinventar. Vinha de um per�odo de ac�mulo de v�rias atividades. A pisada abrupta no freio me permitiu parar, pensar, calcular. Minha rota precisava ser redirecionada.
Conversei com meu amigo Leo Paix�o. Contei a ele que gostaria de criar uma plataforma que reunisse em um s� lugar as melhores informa��es sobre a inconfund�vel gastronomia de Minas Gerais, amarrando isso com nosso absurdo – e ainda pouco explorado – potencial tur�stico.
Cumbucca, ele batizou de prontid�o. Optei pela escrita com dois c�s. Dar bons nomes a eventos e restaurantes � outra das habilidades do chef amigo.
Meu sonho de anos passados, guardado em alguma gaveta, come�ava a sair da toca. A pandemia seguia, mas eu n�o podia parar. Momentos de sufoco como o que vivemos demandam for�a e f�. E l� fui eu em busca do desconhecido.
Comecei a desenhar o projeto. Tinha que ser algo de curadoria bem temperada. Um lugar que desse holofotes a pessoas que est�o fazendo coisas incr�veis pelos 853 munic�pios desta vastid�o mineira, mas que nem sempre ganham a visibilidade merecida. S�o doceiras, cozinheiras, chefs, quituteiras, agricultores familiares, professores, pesquisadores, enfim, toda uma diversidade de fazedores que s�o respons�veis por termos a melhor gastronomia do Brasil.
Isso precisa ser espalhado, ganhar o mundo. A Cumbucca veio para isso. Percebi a imensid�o do desafio, as demandas foram crescendo feito bolo de v� no forno. Montei uma equipe multidisciplinar e demos um mergulho infinito nessa cultura alimentar.
O lan�amento, em outubro do ano passado, foi turbulento. Aprendi a ter cautela. Em pouco tempo, conseguimos falar sobre queijos, caf�s, cacha�as, cervejas e tanto mais. N�o perdemos de foco nossa miss�o: ir al�m do b�sico. Minas � mais!
A colheita est� sendo linda. V� em cumbucca.com.br ou no perfil @cumbucca do Instagram e confira. J� comeu cambuquira? � um broto que anda desaparecendo do nosso prato. E p�o de queijo colorido? Sai do forno de Michel Abras, que prepara o quitute usando plantas aliment�cias n�o convencionais.
Para al�m da j� conhecida for�a gastron�mica da capital, fomos em busca de rel�quias do interior, como incr�veis mercearias e armaz�ns antigos, as balas bordadas de Carmo do Rio Claro, os doces t�picos de Nova Lima – como a lamparina e a queca – e as oliveiras que escutam m�sica cl�ssica em Maria da F�.
Mesmo neste cen�rio pand�mico adverso, agora estou conseguindo realizar outro feito: lan�ar o document�rio sobre dona Nelsa Trombino, uma das pessoas mais importantes na gastronomia mineira e brasileira. O filme se chama “A dona do tacho” e conta a emocionante trajet�ria desta mulher exemplar. Quem j� esteve no Xapuri, o restaurante por ela fundado na Pampulha, desconfia do que estou narrando.
O filme tem pr�-estreia gratuita amanh� (16/5), no site matulafilmfestival.com.br. � importante que voc� assista e consuma. Precisamos conhecer e valorizar a nossa identidade cultural, que � �nica. � isso que tem me dado tanto prazer e motiva��o. Pode esperar, sempre vai ter mais. Nossa Cumbucca nunca vai esvaziar.