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Estado de Minas COLUNA HIT

Bailarina do Corpo despediu-se da companhia de dan�a, mas n�o largou o bal�

Janaina Castro ministra aulas de dan�a para adultos, � figurinista e promove oficinas com a linguagem coreogr�fica de Rodrigo Pederneiras


29/05/2023 04:00 - atualizado 28/05/2023 21:49
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bailarina Janaina Castro
Janaina ministra oficinas com a linguagem coreogr�fica criada por Rodrigo Pederneiras (foto: Edesio Nunes/DIVULGA��O)



Vinte e dois anos depois de sua estreia no Grupo Corpo, Janaina Castro deu adeus � companhia, mas segue dando aulas de bal� para adultos, criando figurinos e fazendo oficinas com a linguagem coreogr�fica criada por Rodrigo Pederneiras, o core�grafo da companhia de dan�a. Com 27 anos de dedica��o ao bal�, Jana, como � chamada carinhosamente pelos amigos, acredita que hoje, comparado ao in�cio de sua carreia, existe mais acesso � dan�a. "No in�cio da minha carreira, desconhecia o que acontecia fora do Brasil. Poderia saber nomes de core�grafos e companhias importantes. Lia sobre, e imaginava. Mas era dif�cil saber visualmente do que se tratava. Talvez por um acaso, ou muita procura, voc� se deparava com uma fita VHS de algu�m que voltava de viagem com uma dessas na mala. Os festivais te colocavam a par das produ��es nacionais, n�o mais do que isso." Do interior de Minas, Janaina reconhece que teve sorte em ser aluna da academia Beth Dor�a, em Uberaba, no Tri�ngulo Mineiro, que proporcionava um interc�mbio constante com core�grafos e bailarinos do Brasil, al�m de estar nos festivais mais importantes do pa�s.  "Isso foi essencial para minha forma��o. Hoje os festivais mudaram seus formatos, mas ainda s�o importantes centros de troca e aperfei�oamento. A informa��o chega r�pido e, da sua casa, voc� assiste a espet�culos, filmes e todo tipo de material de dan�a poss�vel. Uma maravilha".

O que levou voc�, que sempre teve uma trajet�ria de sucesso na companhia, � lembrada como a Jana, do Corpo, a deixar o grupo, especialmente este ano em que Rodrigo Pederneiras far� coreografia baseada em Estancia, de Alberto Ginastera (1916-1983), para Filarm�nica de Los Angeles, sob reg�ncia de Gustavo Dudamel?
Acho que sempre haveria um motivo para permanecer. Se eu n�o colocasse um prazo, continuaria questionando se n�o dava para ficar mais um pouquinho. Eu amo tudo o que vivi no Grupo Corpo, e sempre teria um lugar, uma estreia, um compositor, uma nova produ��o, um assunto que colocasse em xeque minha decis�o de ficar ou sair. Nunca tive uma les�o, me envolvi profundamente em todos os processos criativos que participei, nutri o carinho e respeito por todos com quem tive o prazer de trabalhar nesses 22 anos. Durante esse tempo me tornei m�e, fiz grandes amizades, viajei o mundo. Deixei o grupo me sentindo apta a continuar. Sabia que n�o seria f�cil. Ainda hoje me emociono lembrando dessa hist�ria. Mas era hora. Meu desejo era parar bem. Por respeito � minha trajet�ria e ao grupo que se tornou a minha casa. Tenho 45 anos, metade da minha vida foi no Grupo Corpo, vi muitas pessoas passarem por ali. Tamb�m senti que chegava a minha hora de seguir outros caminhos e desafios.

H� um tempo voc� prepara essa fase de transi��o entre a sa�da do Corpo e um novo caminho. Com seus colegas da companhia (Cassi Abranches, Gabriel Pederneiras e Atilla Gomes), integra a produtora Blecaute, onde atua como figurinista. Como surgiu o interesse em criar a vestimenta de um personagem, seja no teatro, na dan�a, em uma campanha publicit�ria?
Em 2009, Cassi Abranches, minha amiga, estava fazendo um trabalho para o Bal� Jovem de Minas Gerais/Pal�cio das Artes e me convidou. O que parecia �bvio para ela, me pegou de surpresa. Aceitei quando ela me convenceu de que tamb�m estava pela primeira vez fazendo algo daquela propor��o e n�o t�nhamos nada a perder. Nos comprometemos a fazer o melhor poss�vel e come�amos ali o que viria a ser uma parceria profissional que dura at� hoje. "Contracapa" (obra criada para o Bal� Jovem) foi o pontap�. De l� pra c�, vieram v�rios trabalhos em parceria, al�m de v�rios outros com novos parceiros. Cada dia mais percebo que o figurino une minha forma��o em artes pl�sticas, minha rela��o com o vestu�rio e a experi�ncia como bailarina. Gosto de pesquisa, de construir hist�rias e me d� um prazer enorme todo o processo de cria��o. �s vezes, a inspira��o surge de um livro, filme, minhas pr�prias experi�ncias visuais ou mem�ria afetiva. O mais importante � o desejo de fazer, que foi o term�metro para que eu compreendesse um novo caminho se configurando.

Qual a import�ncia da dan�a e da moda em sua vida?
Eu sou uma pessoa calada, t�mida. Apenas quem me conhece de perto consegue ver meu lado falante ou mais extrovertido. Vestir-se, assim como dan�ar, foi uma ferramenta para me expressar sem precisar dizer muito. Desde muito nova eu criava minhas pr�prias roupas e minha madrinha costurava minhas loucuras. Tinha um jeito muito pessoal de me vestir. Ao longo da minha constru��o pessoal, da forma como eu quis que as pessoas me reconhecessem, a moda e o figurino sempre estiveram no meu campo de vis�o. Talvez isso tenha feito Cassi acreditar que eu seria a pessoa que poderia contribuir para seu trabalho, e realmente foi um olhar oportuno. Acabei me tornando figurinista, afinal.

Voc� tamb�m ministra oficinas desenvolvidas a partir da linguagem coreogr�fica de Rodrigo Pederneiras...
Este � um projeto antigo. Eu j� dou aulas da linguagem de Rodrigo Pederneiras desde os meus primeiros anos no Grupo Corpo. Eu adoro me envolver no trabalho e chegando l� em 2000 achei que seria uma forma de aprender mais r�pido essa linguagem t�o espec�fica e me fazer �til em outras fun��es. Na pandemia, est�vamos todos tentando nos manter produtivos. A ideia dos workshops ficou mais robusta. Quando comecei a visualizar minha transi��o, achei que valia a pena investir tamb�m em uma continuidade do trabalho que realizei como bailarina ali. Conversei com Rodrigo Pederneiras e expressei meu desejo em continuar dando aulas, mesmo que encerrasse minha carreira como bailarina da companhia. Ele abra�ou meu desejo e me deu carta branca para continuar. Como disse, as aulas sempre existiram, mas meu desejo � que mais e mais pessoas possam estar em contato com o repert�rio do Grupo Corpo e com este jeito �nico de o Rodrigo se mover. O projeto est� em constru��o. Estou estudando parcerias e onde me parece importante que ele aconte�a. Tanto Rodrigo quanto Paulo (Pederneiras), diretor art�stico do Corpo, t�m me dado suporte e liberdade para botar o projeto nos trilhos. O que s� reafirma que existe muita confian�a e respeito e que o Corpo sempre vai ser a minha casa.

O bal� continua em sua rotina, agora como professora de bal� para alunas e alunos 40+. Por que voc� escolheu esse grupo e o que a dan�a representa como atividade f�sica para quem j� passou dos 40 anos?
As aulas de bal� para adultos surgiram como uma necessidade. Comecei a programar como seria essa transi��o quando sa�sse do Corpo, e um caminho seria dar aulas de bal�. Mas eu tinha d�vidas sobre dar aulas para crian�as ou trabalhar com forma��o. Tamb�m na pandemia resolvi fazer um curso de forma��o em ioga e vi uma oportunidade de unir as duas t�cnicas em um m�todo gentil para pessoas adultas. Conversando com minha amiga Carol Salete, que hoje se especializou neste p�blico espec�fico, ela me ofereceu seu espa�o para que eu pudesse testar e iniciar uma turma. Meu espa�o de aulas � acolhedor e pensado para atender o desejo de pessoas que querem se exercitar e procuram bem-estar f�sico. As academias de muscula��o nem sempre s�o atrativas para pessoas que buscam mais que apenas resultados f�sicos. A dan�a traz benef�cios enormes. N�o seria diferente para pessoas adultas. E com a perspectiva que estamos envelhecendo como popula��o, � preciso normalizar que � poss�vel aprender algo novo ou colocar um desejo antigo em pr�tica. Costumo dizer que o bal� exige muita aten��o, que � preciso estar ali inteiro. Deixar tudo fora da sala durante uma hora. Para pessoas que est�o em uma incans�vel luta de tempo X produtividade, uma hora de bal� � realmente terap�utico. Trabalho conceitos como foco, equil�brio, respira��o, presen�a,  autocuidado, envelhecimento saud�vel, musicalidade, espacialidade, mem�ria e prazer.  Alguns chegam t�midos e incertos de que o bal� seja poss�vel. Mas rapidinho se encantam. As turmas t�m crescido e mais pessoas t�m se permitido.

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