
Um vulc�o em permanente erup��o. Pior: sem data para parar de expelir lava. Esse � o retrato do Cruzeiro'2019. Que os torcedores n�o se iludam: a sa�da de Itair Machado da vice-presid�ncia de futebol do clube, anunciada ontem, est� longe de ser o �ltimo cap�tulo deste novelesco enredo de intrigas e irregularidades. Ainda h� muita pol�mica em matura��o, bombas prestes a explodir, poeira embaixo do tapete a ser exposta. A reboque, vem o desarranjo nos gramados e a amea�a de queda para a S�rie B do Campeonato Brasileiro. O cen�rio n�o poderia ser mais aterrorizante para uma torcida que nunca se viu em meio a tamanha tormenta.
Nos bastidores, o terreno � f�rtil para mais querelas. Os personagens envolvidos na insurrei��o mostram isso. A partir de agora, o futebol est� a cargo do ex-presidente cruzeirense Zez� Perrella, outra figura controversa da hist�ria celeste e que n�o s� vem testemunhando o imbr�glio desde o in�cio como tem sido um de seus protagonistas.
Uma breve retrospectiva mostra que tudo isso come�ou na �poca da elei��o para a presid�ncia do clube, em outubro de 2017. J� era poss�vel prever que os tempos de calmaria na coxia celeste haviam chegado ao fim. O que poucas pessoas imaginavam era a hecatombe hist�rica que ganhava corpo a partir dali.
Isso porque o Cruzeiro se notabilizou, ao longo dos anos, por ser um clube de muitas alian�as e poucos confrontos pol�ticos, pelo menos publicamente. Enquanto no arquirrival Atl�tico qualquer fa�sca tinha contorno de labaredas, com trocas de farpas na imprensa, na Raposa as diferen�as costumavam ser resolvidas a portas fechadas, quase sempre abafadas. N�o por acaso, o poder se alternou entre dinastias.
Era assim at� meados de 2017, quando a disputa eleitoral se acirrou. Perrella, que chegara a ser pr�-candidato � presid�ncia e recuara, apoiando S�rgio Santos Rodrigues, sofreu aquela que pode ser considerada sua maior derrota no Conselho Deliberativo da Raposa. Presidente das conquistas do bicampeonato brasileiro (2013 e 2014) e da Copa do Brasil (2017), Gilvan de Pinho Tavares fez seu sucessor, com Wagner Pires de S� vencendo com diferen�a de 35 votos.
A presen�a de Itair Machado no comando do futebol do clube, contudo, levou a uma fissura que veio a se transformar neste emblem�tico racha. A bomba-rel�gio foi armada naquele momento. Pol�mico, Itair investira financeiramente na campanha de Wagner e estava longe de ser unanimidade na Raposa. Muito antes pelo contr�rio. A oficializa��o dele como homem forte na nova diretoria levou a uma debandada, com a sa�da de figuras at� ent�o influentes e que contavam com a confian�a de Gilvan, como Bruno Vicintin e Guilherme Mendes.
Pois naquelas voltas que o mundo da bola d�, Itair – figura central da derrocada da gest�o Wagner Pires de S� – foi deposto em um movimento que teve, como um dos l�deres, justamente seu principal padrinho no mundo do futebol: Zez� Perrella, dirigente que o ajudou muito nos tempos de Ipatinga, inclusive cedendo jogadores e at� treinador para a equipe do Vale do A�o no in�cio dos anos 2000. Curioso perceber como no futebol as hist�rias s�o, quase sempre, entrela�adas. Causa e consequ�ncia se confundem. N�o h� vil�es ou mocinhos definitivos. H�, na verdade, camale�es a se transmutar segundo o ambiente em que se encontram.
J� est� claro ser imposs�vel dissociar o campo da bagun�a pol�tica em que o Cruzeiro se meteu, e que ganhou evid�ncia pela reportagem feita pela jornalista Gabriela Moreira no Fant�stico, da TV Globo, com den�ncias de irregularidades. Na esteira de tanto desmando entre os cabe�as do clube, o time afrouxou. J� vinha rateando, sem atua��es muito consistentes, isso � fato. Mas, a partir dali, ganhou um �libi para os trope�os nos gramados. Talvez eles n�o esperassem que a situa��o sa�sse tanto do controle; afinal, o Cruzeiro tem um grupo forte (embora a m�dia de idade dos jogadores seja alta) e a expectativa (ou seria ilus�o?) era de que a qualquer momento tudo se resolveria. N�o foi assim, no entanto, que a banda tocou.
A troca de treinadores deixou isso claro. A falta de rumo tem sido fatal. A sa�da de Mano Menezes, a passagem-rel�mpago de Rog�rio Ceni pela Toca da Raposa e at� a chegada de Abel Braga entram na seara dos erros cometidos pela diretoria. Foram escolhas equivocadas, que ajudaram a abalar ainda mais uma estrutura j� fragilizada pelos desacertos no alto escal�o.
Restam 14 rodadas para o fim do Campeonato Brasileiro. O Cruzeiro precisa de um aproveitamento superior ao obtido em toda a competi��o. Um n�vel de atua��o que ainda n�o mostrou. Matem�ticos apontam que a chance de queda chega a 73%. Sabe a tal luz no fim do t�nel? A torcida cruzeirense, a esta altura do campeonato, n�o a enxerga. Isso � preocupante. Estar dentro do t�nel e n�o saber onde ele vai dar. Tudo � incerteza.