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Estado de Minas

Tens�es criadas por Bolsonaro amea�am transformar a epidemia num tsunami pol�tico

Enquanto a epidemia avan�a, Bolsonaro mant�m seu lit�gio com os governadores, prefeitos e o ministro da Sa�de, Luiz Henrique Mandetta, que sobrevive no cargo


postado em 31/03/2020 04:00 / atualizado em 31/03/2020 07:39

(foto: Wikipedia)
(foto: Wikipedia)
A epidemia de coronav�rus  � um tsunami invis�vel que varre o mundo. No momento, seu epicentro � Nova York, nos Estados Unidos, o que obrigou o presidente Donald Trump a mudar completamente o discurso no domingo, quando pediu para a popula��o ficar em casa at� 30 de abril. Trump vinha defendendo o afrouxamento das medidas de isolamento e chegou a declarar no s�bado que uma quarentena n�o seria necess�ria em Nova York, New Jersey e Connecticut. Mudou de ideia no dia seguinte, quando admitiu que o pico da epidemia ser� daqui a 15 dias. J� s�o mais de 2 mil mortos e mais de 100 mil casos confirmados, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, na economia mais poderosa do mundo. O sistema de sa�de de Nova York est� � beira do colapso.

Ao contr�rio de Trump, aqui no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro aproveitou o domingo para contestar a pol�tica de isolamento social e deu um rol� pelo com�rcio do Sudoeste, da Ceil�ndia e de Taguatinga, defendendo que as pessoas precisam trabalhar para sobreviver. Depois do p�riplo, devidamente registrado no Twitter – que apagou duas de suas postagens por colidirem com a orienta��o das autoridades de sa�de p�blica –, Bolsonaro disse que era preciso enfrentar a situa��o como homem e n�o como moleque, porque as pessoas um dia v�o mesmo morrer. N�o se sabe a quem ele se referia, mas o fato � que desautorizou a orienta��o do seu ministro da Sa�de, Luiz Henrique Mandetta, o que aumentou as especula��es de que ele seria demitido.

N�o foi o que aconteceu, por�m, apesar de Mandetta estar visivelmente constrangido na entrevista coletiva concedida no fim da tarde de ontem pelo comit� de crise do Pal�cio do Planalto, que coordena as a��es do governo contra a epidemia, sob comando do ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Souza Braga Netto. Quando Mandetta foi indagado pelos jornalistas sobre as diverg�ncias com Bolsonaro e se sairia do governo, foi interrompido por Braga Netto, que matou a pergunta no peito e respondeu: “Est� fora de cogita��o, n�o existe essa ideia”. Tamb�m participaram da entrevista os ministros Tarc�sio Gomes (Infraestrutura), Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Andr� Mendon�a (Advocacia-Geral da Uni�o), al�m de um representante do Minist�rio da Defesa.

Na sua entrevista, Mandetta desconversou sobre o assunto e reiterou que a orienta��o do minist�rio � focada no combate � epidemia, em termos t�cnicos e cient�ficos. Justificou a decis�o de mudar o formato das avalia��es di�rias, que agora ser�o feitas por todos os ministros, n�o sob seu comando, mas o de Braga Netto, com o argumento de que a epidemia transbordou a esfera de sua pasta e exige engajamento de todo o governo, o que � verdadeiro. Bolsonaro vem defendendo o relaxamento das medidas de isolamento adotadas nos estados e a retomada da atividade econ�mica, com a reabertura do com�rcio e volta dos estudantes �s escolas. As recomenda��es de especialistas, da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) e do pr�prio Mandetta s�o de que o isolamento � necess�rio para evitar a expans�o da pandemia.

Tens�es

Ontem, o diretor-executivo da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), Michael Ryan, fez nova advert�ncia quanto � expans�o da epidemia. Disse que o coronav�rus ultrapassou as ruas e est� sendo levado para “dentro das fam�lias”, o que refor�a a necessidade de isolamento social, sobretudo onde h� transmiss�o comunit�ria e faltam testes, como � o caso do Brasil. “O ideal � que a quarentena ocorra em um lugar que n�o seja a casa (do infectado), porque esse doente pode infectar sua fam�lia. Mas isso n�o � sempre poss�vel”, disse. No Brasil, j� houve 159 mortes, com 4.579 casos confirmados, uma taxa de letalidade de 3,5%. A epidemia ainda est� concentrada no Sudeste, com 2.507 casos, 55% do total. S�o Paulo � o epicentro, com 1.451 casos. O aumento do n�mero de mortos de ontem para hoje foi de 17%, sendo 7,9% o de casos.

Enquanto a epidemia avan�a, Bolsonaro mant�m seu lit�gio aberto com os governadores, prefeitos e autoridades de sa�de p�blica que defendem a perman�ncia de Mandetta no cargo. O ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDBN-RS), que � deputado federal e m�dico, se movimenta para substituir Mandetta e faz coro com as teses de Bolsonaro. As rela��es de Mandetta com Bolsonaro v�o de mal a pior e somente n�o houve uma ruptura porque o ministro j� avisou que n�o pede demiss�o. Demiti-lo agora seria a implos�o da equipe de sanitaristas do minist�rio e uma porta aberta para a articula��o do impeachment de Bolsonaro por crimes de responsabilidade. O Congresso est� fazendo seu dever de casa, mas cobra um comportamento mais respons�vel do presidente da Rep�blica.

Ontem, o Senado aprovou o chamado “coronavoucher”, a ajuda de R$ 600 para os trabalhadores informais sem atividade, que se soma ao pacote de medidas econ�micas anunciadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. � fundamental para garantir uma renda b�sica aos que ficaram sem nenhuma outra fonte e evitar uma situa��o de caos social. O presidente da C�mara, Rodrigo Maia, articula a aprova��o do que est� sendo chamado de “or�amento de guerra”, as medidas necess�rias para o pa�s atravessar a epidemia sem um cen�rio de trag�dia social e reativar a economia logo depois. De certa forma, o foco na epidemia e nessas medidas econ�micas s�o um elemento estabilizador do processo, em meio �s tens�es criadas por Bolsonaro, que amea�am transformar a epidemia num tsunami pol�tico.


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