
O pior acidente a�reo de todos os tempos aconteceu em 1977, na Ilha de Tenerife, na Espanha. Em 27 de mar�o daquele ano, uma bomba explodiu no aeroporto de Gran Canaria, umas das Ilhas Can�rias, e todos os voos foram desviados para o aeroporto de Los Rodeos, na ilha de Tenerife. Por conta da confus�o no controle de pousos e decolagens, dois Boeing 747, um da KLM Royal Dutch Airlines, holandesa, e outro da Pan Am�rica Word Airways, norte-americana, se chocaram pr�ximo ao solo do aeroporto. Morreram 583 pessoas, 248 passageiros da KLM e 335 dos 396 passageiros da Pam Am, cujo copiloto sobreviveu. Da cabine de seu avi�o, enquanto taxiava para decolar, o comandante americano Victor Grubbs viu outra aeronave vindo em sua dire��o, acelerando para levantar voo, em meio �s n�voas que cobriam a pista. “Esse filho da m�e est� vindo para cima da gente!”, disse. “Cai fora, cai fora!”, gritou Robert Bragg, o copiloto que escapou da trag�dia, com mais 60 pessoas.
O Brasil registrou 1.261 mortes pela COVID-19 em 24 horas, isso � mais do que dois acidentes de Tenerife juntos. Se formos considerar os acidentes ocorridos no Brasil, o n�mero de mortos � seis vezes maior do que o da queda do Airbus A-320 da TAM em Congonhas, na noite chuvosa de 17 de julho de 2007. Vinda de Porto Alegre, a aeronave ultrapassou a pista principal do aeroporto durante o pouso, passou sobre a Avenida Washington Lu�s, colidiu com o pr�dio da TAM Express e explodiu, matando todos os 187 passageiros e tripulantes a bordo e mais 12 pessoas em solo. O total de 75.523 �bitos por coronav�rus registrado na pandemia equivale a 403 acidentes de Congonhas, ou um avi�o caindo no Brasil a cada tr�s dias, se considerarmos que a primeira morte ocorreu em 17 de mar�o.
Esse tipo de compara��o � um recurso jornal�stico para evitar que as estat�sticas sejam banalizadas em raz�o da frequ�ncia com que os fatos ocorrem. � o que est� acontecendo com a pandemia de coronav�rus, cujas mortes est�o sendo naturalizadas pelo governo federal desde que o presidente Bolsonoro disse que “todos n�s vamos morrer um dia”. Na ocasi�o, 25 de mar�o, eram 139 mortes. Quando o Brasil passou a China, com 5 mil mortos, em 28 de abril, Bolsonaro disparou: “E da�? Lamento. Quer que eu fa�a o qu�? Eu sou Messias, mas n�o fa�o milagre”. Agora, a m�dia m�vel de novas mortes no Brasil na �ltima semana foi de 1.067 por dia, uma varia��o de 8% em rela��o aos �bitos registrados em 14 dias. Os �ltimos sete dias foram os mais letais no pa�s. Com 39.705 casos registrados nas �ltimas 24 horas, chegamos a 1.970.909 de brasileiros infectados pelo novo coronav�rus.
Desembarque
No Distrito Federal, Paran�, Santa Catarina, Minas Gerais, S�o Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Acre, Rond�nia, Tocantins e Piau� a pandemia continua seu avan�o. O relaxamento do distanciamento social nesses estados est� sendo desastroso, apesar de ter havido mais tempo para o sistema de sa�de se preparar, o pessoal t�cnico ter mais conhecimento e experi�ncia e os cuidados paliativos para reduzir o n�mero de mortes, que tamb�m evolu�ram. O problema maior no combate � epidemia, por�m, � que o Minist�rio da Sa�de virou cabe�a de camar�o: n�o tem ministro, apesar dos elogios que o presidente Jair Bolsonaro faz ao general Eduardo Pazuello, que h� 60 dias ocupa interinamente o cargo. “Predestinado” era o copiloto da Pam Am, que pulou da cabine do avi�o acidentado a quatro metros do solo, antes que ele explodisse, n�o Pazuello, como disse Bolsonaro.
Passou da hora de o general Pazuello voltar para o seu comando na 12ª. Regi�o Militar, na Amaz�nia, que cuida dos suprimentos, embarca��es e hospitais do Ex�rcito no Par�, Amazonas, Acre, Amap�, Roraima e Rond�nia. Sua presen�a no minist�rio virou sin�nimo de fracasso, porque o Sistema �nico de Sa�de (SUS) precisa de um l�der, que coordene e oriente todos o pessoal da sa�de publica no Brasil, como fazia o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, demitido por Bolsonaro no auge de seu prest�gio. E tamb�m porque os dois meses de interinidade criam um problema para o pr�prio Ex�rcito, que mant�m, interinamente, no comando da 12ª. Regi�o Militar, o coronel Lu�s Mois�s de Oliveira Braga Otero.
Pazuello teve um conversa amig�vel, por telefone, com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a prop�sito do contencioso provocado pelas declara��es do ministro sobre a presen�a do Ex�rcito no Minist�rio da Sa�de. O imbroglio mostra que est� tudo errado. O coronel Ant�nio �lcio Franco Filho, que anda com uma faca ensanguentada na lapela, � o secret�rio-executivo do Minist�rio da Sa�de. O secret�rio de Aten��o Especializada � Sa�de � Luiz Ot�vio Franco Duarte, outro coronel. O major Angelo Martins Denicoli ocupa o cargo diretor de monitoramento e avalia��o do SUS (Sistema �nico de Sa�de), enquanto o tenente-coronel Reginaldo Machado Ramos comanda a Gest�o Interfederativa e Participativa. Nenhum deles entende de sa�de p�blica.