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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Que bobos, eles n�o sabem que a arte existe porque a pol�tica n�o basta

Os pal�cios e os interiores na capital est�o entre o que existe de mais original e valioso na nossa cultura, principalmente na arquitetura e nas artes pl�sticas


11/01/2023 04:00

avaliação dos estragos nas obras de arte dos Palácios da Praça dos Três Poderes e da Esplanada
A presen�a de obras de arte dos Pal�cios da Pra�a dos Tr�s Poderes e da Esplanada, como os da Justi�a e do Itamaraty, tem por objetivo humanizar o poder pol�tico (foto: Carl Souza/AFP)

Num determinado dia no in�cio dos anos 1960, o jornalista Ant�nio Maria, que por si s� mereceria uma coluna s� para contar essa hist�ria, foi atacado por capangas de algu�m que n�o gostava dele, por causa de suas colunas. Estavam orientados a pisar seguidamente nas suas m�os, para que n�o mais pudesse escrever. Na manh� seguinte, Maria denunciava a agress�o com o humor ferino que encantava seus leitores e enfurecia os desafetos: “Que bobos! Eles pensam que o jornalista escreve com as m�os”, a frase que intitulava a coluna foi imortalizada no jornalismo brasileiro e, obviamente, serve de inspira��o para a coluna de hoje. Ant�nio Maria morreu em 1964.

O vitral “Araguaia” de Marianne Peretti, obra de 1977, foi destru�do no domingo pelos v�ndalos que invadiram o Congresso. A artista pl�stica Marie Anne Antoinette H�l�ne Peretti, filha de m�e francesa e pai brasileiro, nasceu em 1927, em Paris, na Fran�a, e veio para o Brasil em 1953. Marianne foi a �nica artista mulher a integrar a equipe de Oscar Niemeyer na constru��o de Bras�lia.  Morreu em abril do ano passado, no Recife (PE). Entre suas obras mais famosas, est�o os vitrais da Catedral de Bras�lia, do Superior Tribunal de Justi�a (STJ), do Pal�cio do Jaburu e do Memorial JK. Suas obras s�o reconhecidas internacionalmente, em outros projetos de Oscar Niemeyer, como o Edif�cio Burgo (Turim, It�lia) e a Maison de la Culture du Havre (Le Havre, Fran�a).

“Araguaia” foi feito a partir do projeto de decora��o do Sal�o Verde, que incluiu obras de arte e mobili�rio que ajudassem a delimitar os espa�os e valorizar o ambiente. � o espa�o mais democr�tico da C�mara, porque nele circulam parlamentares e cidad�os comuns, l�deres sindicais e comunit�rios, lobistas e jornalistas. � uma obra que humaniza o Poder Legislativo, talvez por isso tenha sido destru�da pelos v�ndalos, num misto de ignor�ncia, brutalidade e �dio � cultura e � democracia. N�o tem nada a ver, por exemplo, com a guerrilha do Araguaia, pois � muito anterior.

O vandalismo foi uma burrice pol�tica tamb�m, porque invas�o e depreda��o do Congresso transformou o mais importante aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro na Pra�a dos Tr�s Poderes, o presidente da C�mara, Arthur Lira (PP-AL), num advers�rio da extrema direita bolsonarista. Ontem, mesmo a C�mara e o Senado referendaram a interven��o federal na seguran�a p�blica do Distrito Federal.

Fortalecido

Jerzy (Jorge) Zalszupin nasceu em Vars�via, na Pol�nia, em 1º de junho de 1922, em uma fam�lia judia. Em 1939, quando come�ou a 2ª Guerra Mundial, diante do avan�o nazista, sua fam�lia atravessou a fronteira da Pol�nia com a Rom�nia e sobreviveram ao Holocausto em Bucareste, como n�o-judeus. Jorge estudou arquitetura, quando conheceu a obra de Oscar Niemeyer, e imigrou para o Brasil, em 1949, para trabalhar com o arquiteto Luciano Korngold, at� abrir o pr�prio escrit�rio de design de m�veis.

Nos anos 1960, concebeu e produziu m�veis para gabinetes e pal�cios na constru��o de Bras�lia. Entre suas obras mais conhecidas, est�o as poltronas utilizadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), destru�das pelos v�ndalos bolsonaristas no domingo. “Projetei o espaldar bem alto para transmitir sobriedade aos ju�zes que ali sentassem”, disse, ao explicar o conceito da cadeira Ambassador (Vers�o 2). A maior parte dos m�veis do STF s�o de sua autoria.

O ministro do STF Alexandre de Moraes n�o precisou da cadeira para afastar do cargo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que se omitiu durante o vandalismo, nem para mandar prender o ex-ministro da Justi�a e ex-secret�rio de Seguran�a P�blica de Bras�lia Anderson Torres, suspeito de coniv�ncia com o vandalismo. Zalszupin faleceu em 17 de agosto de 2020, aos 98 anos de idade, como Peretti, n�o est� vivo para acompanhar a restaura��o de suas obras. Ironicamente, a cadeira foi desenhada para que os ministros do Supremo pudessem suportar de forma mais anat�mica e serena poss�veis as longas sess�es da Corte.

O poeta e cr�tico de arte Ferreira Gullar dizia que a arte existe porque a vida n�o basta. A pol�tica � parte da vida. A presen�a de obras de arte dos Pal�cios da Pra�a dos Tr�s Poderes e da Esplanada, como os da Justi�a e do Itamaraty, tem por objetivo humanizar o poder pol�tico, associar a dureza do concreto armado aos sonhos e � poesia ensejados pela constru��o de Bras�lia. O que aconteceu no domingo foi uma agress�o n�o apenas aos Poderes da Rep�blica, mas tamb�m � constru��o da identidade nacional.

Como se sabe, uma na��o n�o existe apenas por causa do seu territ�rio e popula��o, mas tamb�m em raz�o de um estado ps�quico comum, cuja express�o maior � a sua cultura. Os pal�cios e os interiores na nossa capital est�o entre o que existe de mais original e valioso na nossa arquitetura, nas artes pl�sticas e no design. Existe muito simbolismo na pol�tica, que � mais importante para a preserva��o do poder do que sua estrutura f�sica. Ao contr�rio do que pretendiam os arruaceiros, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva saiu mais fortalecido da crise, o Congresso e o Supremo tamb�m. Nesse epis�dio, harmonia entre os Poderes, um dos princ�pios da Constitui��o, ao lado da independ�ncia, mostrou porque � t�o importante para preservar a democracia.

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