(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Haver� luz

Como Pedro, n�o conseguimos ver a luz depois da cruz. Ainda estamos diante da fogueira na casa do sumo sacerdote. Ainda temos medo'


postado em 26/04/2020 04:00



Jesus est� em Cafarnaum, andando distra�do �s margens do mar da Galileia, quando v� os irm�os Pedro e Andr� lan�ando as redes e os chama para serem “pescadores de homens”. Acostumados ao sil�ncio do mar e ao balan�o das �guas, os pescadores agora ter�o o barulho das multid�es. Com m�os calejadas pelo manuseio dos remos, barcos e redes, precisar�o de m�os delicadas para aben�oar e curar. Em vez da rotina da pesca e do assento apertado nos pequenos barcos, far�o longas caminhadas em terra firme. Mais montanha que mar, mais pernas que bra�os – mudan�a radical de vida.

Natural de Betsaida, cidade a oriente do mar da Galileia, o modo de falar de Pedro tra�a o sotaque galileu. Ele dirigia uma pequena empresa de pesca no lago de Genesar� e devia gozar de certo bem-estar econ�mico. Tinha uma casa que era a maior da redondeza e que serviu como igreja, era judeu praticante, de rea��es prim�rias, n�o pensava para falar, custou a entender o messianismo de Cristo.

Tem uma vida cheia de altos e baixos a partir de ent�o. Depois de ver Jesus alimentar uma multid�o com cinco p�es e dois peixes, anda com Ele sobre as �guas. � considerado por Cristo a rocha, a “pedra fundamental”, onde seria constru�da a igreja para em seguida ser chamado de pedra de trope�o e de pensar como satan�s. Custa a Pedro entender que antes da ressurrei��o haveria uma cruz.

Durante a pris�o de Jesus, Pedro est� assentado diante das brasas da fogueira no p�tio da casa do sumo sacerdote, onde l� dentro escribas e anci�os julgam o Mestre. O sotaque de galileu n�o passa despercebido e logo uma criada aproxima-se dizendo que ele estava com Jesus. Pedro nega, sai para a entrada do p�tio, nega de novo, muda de lugar, chama a aten��o dos guardas e nega pela terceira vez. Focado no conforto pessoal enquanto o Chefe � julgado e condenado, Pedro ouve o galo cantar e chora amargamente.

Alguns dias depois, Pedro est� com os disc�pulos � beira do mar de Tiber�ades, na Galileia, ceando com o Cristo ressuscitado que se juntara a eles naquela manh�. Novamente, Pedro est� diante de brasas na fogueira quando ouve Jesus perguntar por tr�s vezes se ele o ama. “Tu sabes que te amo, Senhor.” Cristo poderia ter feito um interrogat�rio pedindo explica��es pela trai��o e atitudes imaturas. Mas o que passou, passou. Pedro vai da nega��o tr�s vezes dita � confiss�o de amor tr�s vezes confirmada. N�o o conhe�o. N�o o conhe�o. N�o o conhe�o. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.

Foi pescador, disc�pulo e agora � ap�stolo. Depois de tanta teimosia, hesita��o, medo e momentos de pouca f�, Pedro se torna o grande nome nos primeiros passos da Igreja primitiva. Leva os amigos para um lugar dentro do templo de Jerusal�m, cheio de colunas, meio escuro, mas muito popular entre os escribas e anci�os, onde come�am a evangelizar os judeus. O medo j� tinha ido embora. Agora, ele e os outros ap�stolos t�m at� estrat�gias, como a de come�ar a pregar no templo para ter audi�ncia garantida. S�o presos, torturados, perseguidos – nada os det�m.

Hoje, mais de dois mil anos depois, Pedro habita entre n�s. Est�vamos na rotina dos dias, lan�ando nossas redes, quando nos deparamos n�o com um bom homem passando � beira-mar, mas com um inimigo vindo pelo ar e que muito, muito pelo contr�rio, n�o gosta de multid�es. Nada de barcos, remos, montanhas, reuni�es de neg�cios, viagens, caminhadas debaixo do azul do c�u, nada de fam�lia reunida, anivers�rio da neta, missas nas igrejas.

E Pedro que somos, um dia nos sentimos fortes como a rocha, em outras pedimos que nos ajudem a caminhar sobre as �guas, em outras somos um trope�o com nossas ideias nem sempre geniais. N�o negamos tr�s, mas tr�s vezes tr�s, tr�s vezes trinta e tr�s. N�o acredito. N�o aceito. N�o dou conta.

Como Pedro, n�o conseguimos ver a luz depois da cruz. Ainda estamos diante da fogueira na casa do sumo sacerdote. Ainda temos medo. Enquanto os cientistas procuram entender melhor o coronav�rus, procuremos conhecer melhor a n�s mesmos.  Fa�amos do pescador um ap�stolo. E acreditemos: haver� luz, haver� luz, haver� luz.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)