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Estado de Minas

At� quando �ngelas e Marielles ser�o sacrificadas impunemente?

Morte de �ngela Diniz � �cone da impunidade. N�o podemos nos conformar com mulheres sendo discriminadas, espancadas, estupradas e assassinadas


20/09/2020 04:00

Mineira de BH, Ângela Diniz foi morta aos 32 anos, em 1976, pelo namorado Doca Street (foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas %u2013 20/6/1973)
Mineira de BH, �ngela Diniz foi morta aos 32 anos, em 1976, pelo namorado Doca Street (foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas %u2013 20/6/1973)
Nem um dia sequer falta aos jornais e � m�dia mat�rias sobre agress�es e crimes contra as mulheres. Os �ndices de ocorr�ncias est�o crescendo no Brasil. � surreal. Como podemos entender este �dio vindo do que antes foi declarado amor? O �dio � a outra face do amor. Duas paix�es contr�rias e insepar�veis como p�ginas de uma folha.

A campanha “Quem ama n�o mata”, lan�ada h� 40 anos, foi criada como resposta aos frequentes atos de viol�ncia contra a mulher, como o crime da Praia dos Ossos, em 30 de dezembro de 1976. Ainda me lembro o horror causado pela perda da bela e fascinante �ngela Diniz.

Mineira de Belo Horizonte, mulher livre e moderna, sua morte abalou toda a sociedade. Nos tr�s anos que se seguiram ao crime e julgamento, Doca Street, de r�u confesso e criminoso, passa a v�tima pela manipula��o preconceituosa da opini�o p�blica.

A como��o foi geral. O profundo lamento concorria com a crueldade de culpar a v�tima. Ora, ele teria lavado sua honra... Triste e falsa alega��o, j� que a honra e a masculinidade de um homem n�o podem ser provadas pelo dom�nio de sua mulher, mas do seu car�ter.

O p�blico feminino na �ltima semana se alegrou ao escutar o primeiro epis�dio da s�rie Praia dos Ossos, lan�ado pela R�dio Novelo, resgatando a hist�ria de �ngela e do julgamento equivocado, preconceituoso e machista da �poca.

A s�rie devolve a ela, apontada como vil� e culpada, seu verdadeiro lugar de v�tima e d� o justo lugar ao criminoso. Ainda que tardiamente, algu�m fala com dec�ncia sobre o crime. Recuperar esta hist�ria � extremamente importante, n�o podemos mais suportar tanta desumanidade. �ngela Diniz foi morta por quatro tiros disparados pelo namorado Doca Street, que fugiu do flagrante e quase nada pagou por seu ato.

A produ��o de oito epis�dios, agora no segundo, pode ser escutada aos s�bados no canal da Novelo Novo no YouTube e no podcast da Spotify. Dirigida por Branca Vianna e Flora Thomson-Deveaux, num trabalho primoroso e incans�vel, apoiado em 50 entrevistas, 80 horas de material gravado e milhares de p�ginas de bibliografia. � um sucesso que faz jus � mem�ria de �ngela e representa todas as mulheres brasileiras sujeitas ainda � mesma inaceit�vel viol�ncia em ritmo crescente.

E nos faz perguntar at� quando �ngelas e Marielles ser�o sacrificadas impunemente? O amor e o desejo migram. Passeiam entre objetos buscando satisfa��o. O amor � conting�ncia, acontece ou n�o, permanece ou n�o.

Ningu�m manda no cora��o. Sofremos por isso. Em mat�ria de amor, somos sempre como as crian�as, acreditamos demais no amor. Devemos dar cr�dito ao amor, saber desfrutar dele. Saber tamb�m que, quando nos apaixonamos, adentramos uma situa��o de risco. E no jogo do amor h� regras. Em que, a cada rodada, h� a aposta e o risco de ganhar ou perder.

Sabendo, entramos, desfrutamos, amamos e gozamos as del�cias do amor, do corpo do outro, de sua presen�a. Mas, apaixonados, enlouquecemos nesta f� absoluta e obstinada. O anseio de completude � ilus�o que insiste, faz repelir nossa condi��o: jamais haver� uma fus�o completa que nos torne um com o outro. O insuport�vel desta verdade produz o ato violento. Nada queremos saber sobre o abandono. Mas n�o temos direto � viol�ncia.

O tempo n�o apaga as injusti�as do passado. N�o podemos esquecer. N�o podemos deixar morrer o desejo de um mundo em que as mulheres n�o sejam discriminadas, espancadas, estupradas e assassinadas. O mundo nunca foi justo e ainda n�o �, talvez nunca seja. Mas n�o nos conformemos.

A hist�ria de �ngela � um �cone da impunidade e hoje, gra�as ao trabalho primoroso da Novelo Novo, faz-se justi�a pela palavra. Retira do esquecido a Pantera de Minas. Ela vive outra vez em todas as mulheres.


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