(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas OPINI�O SEM MEDO

12 de outubro: um Dia das Crian�as diferente e, � minha maneira, especial

''Eu fico com a pureza da resposta das crian�as: � a vida, � bonita e � bonita'' (Gonzaguinha, 1945-1991)


12/10/2021 08:49

Monitores divertem crianças na Estação da Brincadeira no Museu de Artes e Ofícios
''N�s adultos vivemos presos �s crian�as abandonadas que algum dia todos fomos'' (foto: Fatima Dias/Divulga��o - 10/01/2021)
Invariavelmente - e irremediavelmente, eu diria - passamos nossas vidas atrelados � inf�ncia e aos pais. Em maior ou menor grau de ang�stia, sofrimento, ansiedade ou quaisquer outros sentimentos, como depend�ncia, saudade, car�ncia, enfim, n�s adultos vivemos presos �s crian�as abandonadas que algum dia todos fomos.

Ontem, em uma de minhas diuturnas (desde que cheguei em NY se tornou h�bito) ‘caminhadas filos�ficas' - como as chama minha filhotinha -, me peguei pensando que este � meu primeiro Dia das Crian�as  �rf�o, de pai e m�e. Coincidentemente, ou n�o, a m�sica que tocava no momento era ‘My Father's Eyes’, do Eric Clapton. E n�o creio ter sido coincid�ncia, mas sim a causa do pensamento.

Realizei, ent�o, que, at� hoje, jamais se passou um �nico dia da minha vida em que eu n�o tenha, em algum instante ao menos, ou estado, ou pensado, ou feito algo com ou para meus pais. Naturalmente, at� alcan�ar a independ�ncia f�sica (alimenta��o, prote��o, higiene), eu atuava meramente como sujeito passivo na rela��o parental.

J� pr�-adolescente e adolescente, a intera��o di�ria se dava sobretudo atrav�s da  rela��o hier�rquica (respeito, medo, prote��o, sustento) estabelecida entre corpos e mentes com necessidades diversas e quase sempre opostas. Mas, ainda assim, aparentemente conflituosa, a conviv�ncia era do tipo 24/7; vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.

Chegado � vida adulta, o equil�brio entre as ‘depend�ncias’, de lado a lado, ali�s, manteve inalterada a rotina do contato, f�sico ou n�o, da mesma forma que, ap�s meu pr�prio p�trio poder, continuei a devotar tempo, cuidado e afeto - bem como demandar o mesmo - numa via de m�o-dupla, que se estendeu at� o fim da vida deles (primeiro meu pai, depois minha m�e).

Hoje, sem a presen�a f�sica de ambos - e sem a prote��o e o aconchego impl�cito na rela��o - continuo com minha rotina de contato di�ria, agora em pensamento, � claro, onde a saudade e o desamparo se unem em busca das mem�rias afetivas (conforto) e de fantasias irrealiz�veis (presen�a) que possam me aliviar a dor do crescimento (sim; ainda me encontro em fase de crescimento - voc�, n�o?).

O diabo � que, agora, tenho de enfrentar essa dor sozinho. N�o h� colo, beijo ou abra�o que acalentem o vazio existencial que a orfandade plena me traz. E para tornar meu calv�rio ainda maior, este Dia das Crian�as est� sendo sem crian�as, ou melhor, sem ‘a’ crian�a, que tamb�m j� n�o � mais t�o crian�a assim - o que apenas aumenta o tamanho dessa encrenca toda.

Mas, para ser bem honesto, h� uma crian�a por perto, sim. Uma que � eterna - como o amor de Vinicius - enquanto dure. � essa aqui, que escreve em busca do colo que jamais ter� outra vez. Ainda assim, feliz Dia das Crian�as! Para as adultas ou n�o.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)