
O choro da mo�a dilacera o cora��o de quem � pai, como eu, de uma doce menina de 16 anos, come�ando a tatear a vida, a experimentar sensa��es, a fazer as pr�prias escolhas e a tomar, sozinha, decis�es que podem impactar profundamente seu futuro (e o meu e de sua m�e).
A linha que separa a alegria, da dor e, no limite, a vida, da morte, � bem mais fr�gil e t�nue do que imaginamos. Eu mesmo, nestes 54 anos, experimentei, duas ou tr�s vezes, a fronteira final. Se aqui estou, foi por obra e acaso do que queiram chamar: Deus, destino, sorte, anjo da guarda, acaso.
PAIS E FILHOS
Em todas essas ocasi�es marcantes - eu era muito jovem; menos de 25 anos - sempre me ocorreu a tristeza que sentiriam meus pais, especialmente minha m�e, ao receberem em casa a not�cia da morte do filho, e toda vez que ou�o casos tr�gicos, envolvendo acidente, overdose, viol�ncia, enfim, eventos s�bitos que retiram os filhos de seus pais, n�o consigo deixar de sentir como se fosse comigo.
A garota de SP foi estuprada ap�s ter ingerido - obviamente sem saber - alguma subst�ncia que a deixou impotente, � merc� dos selvagens criminosos. ‘Filha, n�o aceite bebida de estranhos’. Ou ‘filha, compre sua pr�pria bebida’. Ou ainda, ‘filha, mantenha seu copo ou garrafa sempre � vista’. Qual pai ou m�e n�o repete, � exaust�o, essa esp�cie de mantra? Qual pai ou m�e n�o roga, em s�plica, ‘filho(a), n�o beba se for dirigir e n�o entre, de forma alguma, no carro de quem bebeu’?
Filhos crescem e com eles a preocupa��o dos pais. Drogas, �lcool, sexo, viol�ncia urbana… Hoje compreendo perfeitamente as noites insones da minha m�e at� o �ltimo filho chegar em casa (tadinha, eram quatro meninos da p� da virada!), e a dificuldade em conseguir, de fato, introjetar na mente - e no comportamento - de adolescentes ou jovens adultos, certas regras fundamentais de auto prote��o: ‘use camisinha; n�o beba; n�o fume; n�o experimente droga; n�o corra; n�o caminhe por ruas escuras de madrugada; n�o se meta em briga; n�o ande em m� companhia…’.
DIAS ATUAIS
Para tornar ainda mais dif�cil a vida dos pais, muitas vezes, infelizmente, nem mesmo dentro de casa nossas crian�as est�o seguras. A internet e as redes sociais trouxeram perigos que, h� vinte ou trinta anos, s� havia nas ruas. Pedofilia, ass�dio sexual, apologia ao suic�dio ou terrorismo, compra e venda de armas e drogas; a lista � enorme. Sem falar nos ‘amigos’ que carregam para dentro do quarto (com a porta sempre fechada, ali�s) dos nossos filhos, bebidas e at� mesmo drogas.
Muitos acreditam que boa educa��o, bom ambiente e amizade com os filhos s�o o suficiente para blind�-los - e a n�s! - das consequ�ncias de p�ssimos atos e h�bitos, impensados ou adquiridos. Por �bvio, tudo isso ajuda muito e �, eu diria, essencial. Mas a garantia de sucesso, no caso, da aus�ncia de m�s not�cias inesperadas - dentro do que � evit�vel e dependente de n�s, � claro -, passa pelo quase sempre incontrol�vel impulso juvenil.
S�o os filhos o ‘agente’ capaz de prevenir, a si mesmos e a seus pais, a dor de uma trag�dia evit�vel. S�o o deposit�rio fiel das nossas sa�de, felicidade e sanidade. E como tal precisam compreender seu papel de maneira clara. N�o podemos, pais, carregar sozinhos uma carga explosiva que exige quatro m�os para n�o detonar. � preciso trabalho em equipe; � preciso viver como time. A molecada entra em campo e se diverte, beleza! E n�s ficamos na retaguarda, vigiando, orientando e cobrando responsabilidade.
ENCERRO
Uma coisa � n�o atirar o peso da nossa ansiedade, nosso medo e nossa inseguran�a nos ombros de quem nem sequer consegue carregar as pr�prias ang�stias. Outra, bem diferente, contudo, �, em nome da leveza da idade ou da preserva��o da alegria de viver, permitir � garotada ‘meter o louco’ e agir como se n�o houvesse amanh�. Porque o h�!
E esse amanh� precisa ser bom para os dois - filhos e pais. Apenas um jogo de ganha x ganha poder� ao menos minimizar os riscos de um mundo t�o pr�-crueldades como o horrendo caso acima. Essa � a mensagem que tento passar para voc�s, e que, espero, passem para seus filhos e netos. Principalmente nestes dias de ‘abertura’, em que todos anseiam viver a vida plenamente, ap�s um ano e meio de quarentena.
Tenhamos todos muito boa sorte e extremo sucesso nessa empreitada herc�lea.