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Estado de Minas O BRASIL VISTO DE MINAS

Mais uma ilus�o para a democracia brasileira

Tanto nossa sociedade como nossa economia n�o est�o acostumadas a funcionar sem o Estado. Isto provem de uma forte heran�a cultural


05/06/2023 04:00 - atualizado 04/06/2023 22:29
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o presidente Lula
Lula n�o percebeu, ou n�o aceitou, a nova correla��o de for�as na sociedade e no sistema pol�tico (foto: Evaristo S�/AFP - 30/5/23)

A Am�rica Latina foi sempre um continente extravagante. Por aqui acontecem coisas inusitadas que n�o ocorrem em nenhum outro lugar do mundo. Afora o fracasso generalizado de todos os nossos pa�ses em construir economias saud�veis e pr�speras, apesar da abund�ncia de recursos, temos sido pr�digos em experimentos pol�ticos equivocados e desastrados.

Comparando a hist�ria pol�tica de nosso infeliz continente nos �ltimos 80 anos com a hist�ria dos pa�ses ocidentais mais bem sucedidos, n�o � poss�vel fechar os olhos para as diferen�as. Enquanto por l� surgiram homens como Roosevelt, Churchill, De Gaulle, Adenauer, Mitterrand, Kohl, Kennedy, por aqui a galeria � quase sempre sombria: Get�lio, Peron, Fidel Castro, Pinochet, autocratas impiedosos e obscurantistas que envenenaram nossa cultura pol�tica e deixaram marcas profundas em nossas institui��es, pois seus fantasmas ainda vagam impunes entre n�s.

Tivemos � claro nossos interl�dios democr�ticos, os quais introduziram na vida do pa�s elementos civilizat�rios. Agora parece que, pelo menos aqui no Brasil, estamos imunizados contra as tenta��es autorit�rias, embora nossas institui��es pare�am ainda funcionar de um modo desajeitado, resultado de uma cultura pol�tica que cont�m muitos tra�os de uma l�gica autocr�tica.

Neste momento vivemos no pior dos mundos. Nossas institui��es est�o funcionando no limite da desordem e como resultado o Estado est� caminhando para uma esp�cie de paraliza��o. Os Poderes est�o se movendo em desarmonia, cada qual numa esfera pr�pria, sem qualquer sinergia. Tanto nossa sociedade como nossa economia n�o est�o acostumadas a funcionar sem o Estado. Isto provem de uma forte heran�a cultural, pois no Brasil o Estado � anterior � sociedade e sempre vivemos sob o manto de uma autoridade centralizada. Quando o Estado se ausenta ou deixa de ter uma lideran�a ativa e clara, sociedade e economia entram num certo modo de dorm�ncia. � onde estamos neste momento. Ningu�m sabe onde est� o Estado: no governo, na C�mara, no Senado, ou no Supremo?

O Parlamento invadiu �reas que s�o pr�prias do governo e mantem uma agenda paralela, constru�da no improviso. O Judici�rio invade sistematicamente as compet�ncias do Legislativo e se arroga uma autoridade normativa que n�o tem e � incompat�vel com o regime democr�tico, onde s� a vontade da popula��o tem o poder de fazer as leis. Inventamos um regime tricameral. Diante desta realidade o governo parece ter desistido de uma agenda transformadora e reduz a Presid�ncia da Rep�blica � mera gest�o de poder pol�tico, indiferente �s quest�es estruturais de longo prazo e �s mudan�as institucionais. Estamos em um universo em desordem.

Este � um estado de coisas que n�o pode perdurar por muito tempo. Um pa�s ferido como o nosso, que est� se atrasando em rela��o ao resto do mundo e cuja popula��o est� cada vez mais pobre e sem expectativas, n�o pode viver de crise em crise. Estamos nos encaminhando perigosamente para um beco sem sa�da, embora uma lideran�a esclarecida e generosa sempre possa iniciar uma rea��o, porque h� reservas de racionalidade no interior de toda sociedade.

Este teria sido o papel do presidente Lula. Eleito pelo voto de um universo bastante heterog�neo, que incluiu amplos segmentos da opini�o p�blica brasileira n�o identificados com a velha agenda e com o modo de governar do Partido dos Trabalhadores, ele poderia ter optado por um governo plural, modernizante e pacificador. Pela sua idade e pela experi�ncia adquirida em dois governos era legitimo que se esperasse dele essa grandeza. Seu governo, no entanto, tem sido o contr�rio de tudo isto.

Lula n�o percebeu, ou n�o aceitou, a nova correla��o de for�as na sociedade e no sistema pol�tico. Por meio de escolhas, de gestos e de palavras a cada dia deixa mais claro que n�o se conforma com as mudan�as nos sentimentos da popula��o. Se governar para todos e com todos significa renunciar �s suas velhas cren�as e �s lealdades do passado, prefere n�o governar.

Infelizmente, � apenas isto o que nos espera.

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