� tempo de Outubro Rosa. O nome remete aos la�os com esse tom, que alertam para a import�ncia de se prevenir contra o c�ncer de mama, doen�a que mais mata mulheres no mundo, mas que, se detectada no in�cio, tem perto de 100% de chances de cura. O cor-de-rosa tem um significado especial para mim. H� alguns anos, nessa mesma �poca, fui encarregada de escrever sobre a jornada das mulheres que superaram o c�ncer de mama. Nunca vou me esquecer da hist�ria de uma dessas guerreiras, publicada aqui, nas p�ginas do Bem Viver.
Insisti em fazer a entrevista na casa da personagem, e n�o pelo telefone. J� no port�o de entrada, fui surpreendida por um tapete natural de flores em tons de rosa, algumas mais vivas, outras j� desbotadas. Ao elogiar a beleza da �rvore, surgiu, naturalmente, a informa��o que abriria a reportagem com a jornalista de TV Daniella Zupo. Ela havia transformado a sua luta em livro, palestras e nos v�deos da webs�rie Ontem, hoje e amanh�, dispon�veis no YouTube.
Logo no in�cio da conversa, Daniela foi contando sobre o caso do ip�, que ela mesma havia plantado na cal�ada em frente da resid�ncia, alguns anos antes. A �rvore custou a dar flores. “Cheguei a questionar se n�o tinham me vendido a muda errada. Nem sabia de que cor seriam as flores”, explicou. Quando ela j� havia se desligado do ip�, concentrando-se em entender o diagn�stico de um agressivo c�ncer de mama, veio a flora��o. De que cor vieram as p�talas? � preciso perceber os sinais da natureza.
As flores dos ip�s duram pouco, de dois a cinco dias. S�o como as borboletas, que embelezam a natureza por um curto per�odo. Vale aproveitar o momento enquanto dure. Ao passar por um ip� florido, conv�m n�o adiar a foto ou a postagem no Instagram. H� o risco de a paisagem ter deixado de existir no dia seguinte. Aconteceu com uma amiga. Ela passou de carro em frente ao ip� mais belo que j� tinha visto. Com pressa, deixou para tirar a foto depois. Quando voltou, n�o havia nem sombra da copa florida. Ou melhor, havia apenas a sombra.
As flores ajudam a contar hist�rias, enfeitam a vida. Este ano, decidi antecipar a primavera na minha casa, em plena pandemia. Coube ao meu marido providenciar o novo jardim, com a ajuda de nossos filhos. Foi necess�rio arar a terra, arrancar os matos, cultivar as mudas. Deu trabalho, mas estamos melhor confinados em meio a kalanchoes, violetas e lavandas. Tem tamb�m beijinhos, cris�ntemos e azaleias.
Da minha parte, inundei as redes sociais com posts sobre o nosso jardim secreto. Contei sobre as p�talas da rosa ch�, que ganhei no Dia das M�es. Resgatei os l�rios brancos, que decoraram a igreja no meu casamento. Inventei ip�s brancos, roxos, amarelos. Esgotei o estoque, Me senti at� constrangida quando a primavera se instalou oficialmente no calend�rio. E agora?
No aperto, recorri �s fotos de girass�is, sin�nimo de alegria e energia positiva, r�plicas de pequenos s�is germinados na terra. Veio a fase amarela do meu Instagram, no estilo Van Gogh. Descobri, depois, que os girass�is n�o s�o flores. Suas p�talas na verdade s�o folhas, que se disfar�aram de amarelo para atrair polinizadores. Se voc� olhar bem de perto, ter� nova surpresa. O miolo do girassol, maior que o usual, � formado por centenas e centenas de min�sculas flores amarelas. A natureza � perfeita.
Em tempos de quarentena, � poss�vel buscar inspira��o nas flores. Elas germinam em todos os cantos para nos lembrar de que a vida pode ser bela. S�o recados de Deus.