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Coreografia sob o comando da alma, sem qualquer culpa

'S� quero me divertir. Deixar fluir, sem ter ningu�m me olhando, criticando ou me aplaudindo em apresenta��es de festivais e postagens nas redes sociais'


03/10/2021 04:00 - atualizado 03/10/2021 12:07

Meu primo saltou do mais alto bungee jump do mundo, na �frica do Sul, h� alguns anos. Postou um v�deo nas redes sociais como prova de sua coragem. As cenas mostram o momento em que ele toma a decis�o de pular no v�cuo, amarrado a uma corda, a 216 metros de altura.  � bem alto – corresponde a um pr�dio de 60 andares.

Não é preciso de desculpas para soltar o corpo e mexer os quadris
A pandemia levou pessoas a se arriscarem e fazerem coisas que nunca imaginaram
D� pavor s� de assistir ao filme, mas acho v�lido esse tipo de atitude. Bato palmas para essas pessoas que escalam montanhas, saltam de paraquedas, mergulham no fundo dos oceanos. J� fiz rapel em cachoeira, andei de tirolesa, ca� em queda livre nas atra��es dos parques de divers�o. Ultimamente, minhas maiores loucuras t�m sido me submeter a desafios mais �ntimos e sofisticados, a buscar outro tipo de adrenalina. As aventuras internas podem ser at� mais ousadas.
  
Nesta pandemia, que finalmente est� passando (tudo passa!), muita gente se arriscou a fazer coisas que nunca se imaginou fazendo antes. Um dos casos mais delicados foi o da minha amiga, secret�ria executiva de uma grande empresa. Workaholic, vivia confinada no escrit�rio. Traba- lhava 10 horas, 12 horas por dia. Eram  dezenas de liga��es, pedidos urgen- tes, pessoas entrando e saindo da sala o tempo inteiro.

Veio o home-office. Obrigada a ter ambiente em casa, ela se sentiu sem ch�o. Pela primeira vez, em 20 anos, ficou sozinha com ela mesma. Quase enlouqueceu com o sil�ncio. Nos primeiros meses da quarentena, telefonei para ela diversas vezes. Conversamos horas sobre o nada. At� que um dia ela me ligou, entusiasmada, em �xtase. “Voc� n�o vai acreditar! Fiz uma coisa completamente absurda, tenho at� vergonha de admitir.”

Minha mente liter�ria viajou longe, alcan�ou picos nevados, pisou em terrenos desconhecidos, desceu mil l�guas submarinas. Nem te conto sobre o que pensei. Tive medo de me tornar c�mplice ou conivente, mas ela foi logo confessando o crime. “Acredita que coloquei um disco para tocar, bem no meio do expediente? Depois pus outro, e mais outro. Passei a madrugada inteira ouvindo meus ced�s. Tinha me esquecido do quanto adoro ouvir m�sica. Foi incr�vel!”

Não é preciso de desculpas para soltar o corpo e mexer os quadris
A pandemia levou pessoas a se arriscarem e fazerem coisas que nunca imaginaram


Na hora, evitei comentar, lamentar pelo tempo perdido, sem bossa nem samba. Apenas a cumprimentei pela ousadia. Quem sou eu para julgar? J� contei aqui ter custado a resgatar uma das paix�es da minha inf�ncia: dan�ar. Nesta pandemia, na falta de festas de casamento e bailes de formatura, passei a dan�ar dentro de casa. Seja com meus meninos, com o marido ou so- zinha, comigo mesma.

Sigo bailando no meu esconderijo. Dei adeus �s aulas de dan�a de sal�o ou aer�bicas de academia, orientadas a queimar calorias ou a exercitar os m�sculos. N�o preciso mais ter desculpas para soltar o corpo, mexer os quadris e me perder no ritmo das notas musicais. N�o mais.

S� quero me divertir. Deixar fluir, sem ter ningu�m me olhando, criticando ou me aplaudindo em apresenta��es de festivais e postagens nas redes sociais. Dispenso ensaios e julgamentos.

S� quero girar e girar mais uma vez, ou quantas vezes eu quiser, at� ficar tonta de felicidade. Sou eu quem define a coreografia. O baile est� dentro de mim.


Saiba mais sobre xamanismo no canal
Ch� Com Leveza (https://youtu.be/-Rr0i8i8_KM)
*Sandra Kiefer assina esta coluna quinzenalmente

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