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Viagem de f�rias

Precisava deixar as ondas levarem os �ltimos tuiui�s da alma, as esponjas do cora��o, as an�monas do corpo


23/01/2022 04:00 - atualizado 20/01/2022 09:06


imagem de pes pisando na areia
Pisar na areia para renovar as energias e come�ar bem o ano (foto: Ilustra��o)


Pela primeira vez ap�s dois anos de pandemia, viajamos de f�rias para Aracaju. Dez dias de sol e mar, um sonho. Foi dif�cil despedir do para�so. Com as malas prontas, tudo preparado para ir embora, baixou em mim o esp�rito de caranguejo, s�mbolo de Sergipe e do meu signo. Dei dois passos para fechar a conta do hotel, mas voltei um passo para tr�s. Precisava colocar os p�s no mar, mais uma vez.

Com saudades antecipadas, marchei com a fam�lia em dire��o � praia de Atalaia. Demorou at� passar protetor solar, botar a camisa antit�rmica, localizar viseira e bon�s. J� estava tarde, perto de meio-dia, mas daria tempo de dar um pulinho no mar. Sete pulos, na verdade.
 
Era uma quest�o importante. Precisava deixar as ondas levarem os �ltimos tuiui�s da alma, as esponjas do cora��o, as an�monas do corpo. O mar tem esse poder misterioso de restaurar as energias positivas e a alegria.

Na busca pelo �ltimo mergulho de f�rias, por�m, esquecemos da longa extens�o da orla sergipana, onde o mar � bastante recuado em rela��o � praia. � preciso enfrentar um a dois quil�metros de caminhada at� pisar na �gua.

Sob o sol de meio-dia, nossa expedi��o familiar sofreu. A cabe�a e os bra�os estavam protegidos, mas os chinelos de borracha n�o eram suficientes para isolar o calor da areia fervendo. Era preciso pisar devagar, evitando levantar os gr�os, que queimavam em contato com a pele.

Eu me senti como uma bedu�na perdida no deserto. Os montes de areia lembravam dunas. Aqui e ali havia uma vegeta��o rasteira. Olhei para o lado. Meu ca�ula parecia um xeique �rabe com o seu chap�u de abas compridas, de cor marrom, cobrindo as orelhas.

O marido n�o dava uma palavra. O filho mais velho seguia o rumo, mudo. Se conseguisse falar, estaria xingando. Quem deu a ideia de vir para a praia uma hora dessas? S� me restaria concordar com ele. E de cabe�a baixa, para n�o entrar areia no olho.

Em um raio de dois quil�metros, n�o havia uma �nica pessoa � vista. Ao longe, avistava-se um pontinho amarelo em alto-mar, provavelmente um surfista. Ou talvez uma miragem – n�o dava para saber ao certo. Ainda faltava um bom peda�o de ch�o para percorrer.

No meio do caminho, cogitei pedir arrego. Devemos voltar?, perguntei-me internamente. Com os olhos semicerrados, fiz o c�lculo. A dist�ncia era a mesma. Faltavam uns 300 metros para voltar, com a sola dos p�s fritando, a carne cozinhando por dentro.

Se seguisse em frente, seria preciso vencer uns 300 metros at� chegar na �gua que, com sorte, traria uma corrente mar�tima fria. Havia a esperan�a de molhar os p�s na bacia gigante de salmoura com iodo, curadora. Depois, viriam novos 300 metros do retorno.

Era largar ou pegar o �ltimo mergulho no mar.  De repente, ouvi um passarinho cantando. Eu juro. O bem-te-vi pousou em uma esp�cie de sinaleira de madeira, fincada no alto da duna. Havia tr�s setas.  Em uma delas, ali�s a �nica leg�vel, estava escrito: FOR�A.

O universo escolheu por n�s. Seguimos adiante. O banho de mar aliviou queimaduras e afli��es. Na volta, uma nuvem encobriu o c�u. Sem refletir os raios de sol, a areia ficou menos quente. Estava tudo certo.

O recado � claro. O que 2022 quer da gente � for�a.

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