(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

O destino da Argentina nas m�os (ou patas) de Conan

Trata-se de mais um exemplo de que o recorrente cansa�o com a classe pol�tica pode provocar decis�es coletivas insanas


21/08/2023 04:00 - atualizado 22/08/2023 14:13
909



J� � suficientemente esdr�xulo um candidato � presid�ncia crer ter recebido de Deus a incumb�ncia de gerir um pa�s. Agora imagine um candidato que acredita que seu falecido cachorro lhe teria dado a miss�o. N�o precisa mais imaginar: o tal Javier Milei saiu das prim�rias argentinas com chances reais de virar o mandat�rio do principal parceiro econ�mico do Brasil na Am�rica do Sul.
 
Trata-se de mais um exemplo de que o recorrente cansa�o com a classe pol�tica pode provocar decis�es coletivas insanas. � o t�pico caso do discurso do outsider sem no��o que ningu�m dava import�ncia at� ganhar uma elei��o. A diferen�a � que Milei nunca se candidatou a nada at� virar deputado federal j� depois dos 50. Fora isso, a proximidade ideol�gica de Milei com o discurso adotado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro tem tudo para, se ganhar mesmo as elei��es, ser mais um teste de fogo para a pol�tica externa do governo Lula.
 
O presidente brasileiro sempre valorizou uma rela��o pr�xima com a Argentina. Al�m de ser um parceiro comercial importante para produtos industriais brasileiros, n�o � poss�vel o Brasil ser visto como um ator relevante internacionalmente sem exercer lideran�a na Am�rica Latina. Com concep��es de mundo muito diferentes, Milei e Lula tenderiam a ter um di�logo, no m�nimo, curioso. O candidato anarcoliberal vocifera seu �dio ao Estado (ele j� disse que teria apenas oito minist�rios), enquanto Lula acabou de lan�ar seu programa de acelera��o do crescimento, com uma boa parte dos recursos vindos de empresas p�blicas.
 
Mais que isso, enquanto Lula briga com seu independente Banco Central para baixar a taxa de juros, Milei tem como uma de suas principais propostas dolarizar de vez a economia argentina, abrindo m�o da pol�tica monet�ria de seu pa�s. Evidentemente que mudan�as dessa magnitude podem afetar a delicada rela��o com o Brasil. Para come�ar, a escassez de d�lares na Argentina faz com que seja virtualmente imposs�vel tirar recursos de l�. Dessa forma, todo o dinheiro que companhias brasileiras geram com suas opera��es na Argentina fica l�. � comum ver empresas comprando im�veis ou investindo em �reas que nada tem a ver com a sua atividade, simplesmente porque n�o t�m o que fazer com o dinheiro.
 
Outro ponto importante � a dificuldade de conseguir insumos importados para se operar: todas as vezes que se importa bens, � preciso que d�lares saiam para que o pagamento seja efetuado. A escassez de moeda novamente faz com que as autoridades aduaneiras argentinas soltem a conta-gotas as licen�as para importa��o. As empresas brasileiras perdem duas vezes: se est�o na Argentina, t�m dificuldade para operar nessa condi��o; se fornecem insumos para l�, ficam em posi��o muito dif�cil para conseguirem efetuar as vendas com regularidade.
 
O apoio governamental nessas situa��es � fundamental. A China, por exemplo, foi ao socorro da Argentina no final de julho, que a permitiu pagar a parcela da d�vida contra�da juntamente ao Fundo Monet�rio Internacional (FMI) sem usar suas reduzidas reservas internacionais. A boa vontade chinesa n�o � por acaso: o pa�s asi�tico vem ocupando o espa�o do Brasil como fornecedor de bens industriais. Para ter uma ideia, em 2003, o Brasil tinha quase 34% das importa��es de produtos manufaturados; em 2022 n�o chega aos 20%. Esse espa�o foi majoritariamente ocupado pelos chineses.
 
O mais interessante � que o discurso extremista contra a China talvez seja a principal marca das propostas para a pol�tica externa de Milei. J� chegou a dizer que pode congelar o com�rcio com os chineses (talvez s� o falecido cachorro dele saiba o que isso significa). Da mesma forma – por considerar o Brasil “comunista” – n�o se pode esperar nenhuma facilidade com o maior parceiro comercial argentino por parte de Milei.
 
O nome do cachorro de Milei era Conan. Como tudo � poss�vel no mundo surreal da pol�tica, talvez Conan mude de ideia at� as elei��es definitivas em 22 de outubro e perceba que � uma p�ssima ideia colocar seu antigo tutor como presidente. Quem sabe, parte dos 30% dos eleitores argentinos n�o mudem de ideia tamb�m?

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)