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Estado de Minas Agropecu�ria

Cidade mineira ensina como usar o queijo para vencer a seca

Porteirinha, munic�pio do Norte de Minas que superou a lavoura de algod�o arrasada investindo na produ��o artesanal tem esfor�o reconhecido em concurso


18/09/2023 04:00 - atualizado 18/09/2023 11:31
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Silagem para alimentação do gado de leite
Silagem para alimenta��o do gado de leite durante a estiagem foi uma das solu��es encontradas pelos produtores de Porterinha para garantir a produ��o de queijo (foto: Leonardo Petr�nio/divulga��o)


O munic�pio de Porteirinha, no Norte de Minas, j� viveu a prosperidade da produ��o de algod�o, que, no fim da d�cada de 1980, foi dizimada pela entrada do bicudo, uma praga do algodoeiro, somada aos efeitos da falta de chuvas. Desamparados, muitos moradores da regi�o, como a fam�lia do casal Fabiano e Sinh� Vit�ria, do livro “Vidas Secas”, obra emblem�tica do escritor Graciliano Ramos, se viram obrigados a fugir em busca de sustento na cidade grande ou nas lavouras de cana ou caf� no interior de S�o Paulo e em outras paragens de Minas. Mas, entre os pequenos produtores houve os que resistiram. Hoje, colhem os resultados da perseveran�a, sob a forma da produ��o de queijo artesanal que se torna n�o apenas reconhecida, mas premiada.

Eles foram � luta e deram a volta por cima, demonstrando que, com esfor�o, dedica��o e acesso ao microcr�dito, a seca pode ser superada. A receita para isso foi a produ��o de queijo no sistema familiar, atividade que se expandiu em Porteirinha, na chamada regi�o da Serra Geral de Minas. L�, existem hoje cerca de 800 pequenos produtores artesanais do latic�nio que, al�m de garantir a gera��o de emprego e renda, se destaca pela qualidade.

Prova disso foi que cinco pequenos produtores de Porteirinha conquistaram seis medalhas, das quais tr�s de ouro, no Concurso Internacional de Queijos Artesanais da ExpoQueijo Brasil, principal premia��o do setor na Am�rica Latina, realizada em Arax�, no Alto Parana�ba, no fim de agosto. A disputa contou com aproximadamente 400 produtores e 1.300 queijos, de quatro continentes.

O presidente da Associa��o dos Pequenos Produtores de Queijo Artesanal da Serra Geral (Aproqueijo), Everson Pereira, afirma que foi no cen�rio de desamparo, diante da derrocada da produ��o algodoeira, que o queijo surgiu e se expandiu como alternativa no Norte mineiro, aliviando o flagelo da seca. “Com a cultura do algod�o destru�da pela praga do bicudo, a gente precisou buscar alguma sa�da para a gera��o de emprego e renda”, afirma Everson, explicando que a aposta no latic�nio ajudou a interromper o �xodo rural.

Ele conta que a cria��o de gado leiteiro e a produ��o queijeira ganharam impulso na regi�o h� 20 anos. Inicialmente, pequenos produtores da regi�o come�aram a vender o leite produzido para latic�nios, que, no entanto, pagam um pre�o baixo pelo produto. Por isso, migraram para a produ��o de queijo artesanal.

Rubnei Santos Gomes a dona Rubi, que produz 22 peças de queijo por dia

Receita de supera��o

Mas os produtores de queijo artesanal de Porteirinha tiveram de inovar, com t�cnicas para viabilizar a atividade em uma �rea historicamente castigada pelo clima. “Tivemos que lidar com a seca e nos adaptar a ela”, afirma o pequeno produtor e presidente da Aproqueijo. Uma das pr�ticas adotadas na antiga “terra do algod�o” � a forma��o de silagem para garantir a sobreviv�ncia do rebanho.  

No curto per�odo chuvoso na regi�o (entre novembro e mar�o), os agricultores mant�m a cria��o leiteira no pasto, ao mesmo tempo em que plantam lavouras de sorgo e milho. Toda a produ��o � destinada � forma��o de silagem, para a manuten��o das vacas em lacta��o ao longo da estiagem (de abril a outubro). A quantidade usada na alimenta��o � controlada, em torno de 25 quilos por animal/dia, sendo que os produtores mant�m pequenos rebanhos, de, no m�ximo, 40 cabe�as.

O presidente da Aproqueijo destaca que os produtores do Norte de Minas t�m aten��o com outro aspecto de suma import�ncia no semi�rido: a escassez de �gua. “Alguns molham planta��es de milho, mas, como a �gua dispon�vel � pouca, usam a microirriga��o”, explica Everson, que tamb�m foi um dos premiados no concurso internacional  em Arax�. No sistema familiar, ele produz cerca de 1.200 pe�as de queijo por m�s na localidade de Guar�, a tr�s quil�metros da �rea urbana.

Ele salienta que os “queijeiros do sert�o” tamb�m recorrem a outras estrat�gias para reduzir gastos e melhorar a rentabilidade do neg�cio. Uma delas s�o as compras de insumos – ra��o, sobretudo – em sistema de cooperativa, que diminui custos, por envolver maiores quantidades no momento da aquisi��o.

Mas o empreendedor salienta que a supera��o da adversidade clim�tica exige, acima de tudo, esfor�o, coragem e f�. “Para vencer a seca, o produtor precisa ir � luta e executar as coisas, acreditando que � preciso romper as dificuldades. Al�m disso, tem que gostar daquilo que faz”, enfatiza. “Hoje, o pequeno agricultor da regi�o est� adaptado � seca”, completa.

 produtores na qualificação e certificação do laticÍnio
Investimento de produtores na qualifica��o e certifica��o do latic�nio vem resultando n�o s� em reconhecimento, como em emprego e renda (foto: Rubinei Santos/divulga��o)

Para fugir do atravessador

Everson salienta que, hoje, a cadeia produtiva do queijo artesanal movimenta a economia de Porteirinha, com 90% da produ��o sendo vendida nas capitais do pa�s. “O queijo sai e o dinheiro da venda volta para a nossa regi�o, gerando emprego e renda”, assegura.

O presidente da associa��o diz que os pequenos produtores de queijo artesanal ainda sofrem com a a��o dos atravessadores, principalmente em S�o Paulo, um dos maiores mercados consumidores. “Na hora de vender, os produtores acabam ficando nas m�os do atravessador. Infelizmente, isso � uma triste realidade em nossa regi�o.”

Ederson afirma que a Aproqueijo busca incentivar os pequenos produtores a se certificar e melhorar a qualidade do latic�nio, a fim de escapar das garras dos atravessadores. “A gente precisa disso para chegar �s prateleiras (dos pontos de venda) que o Brasil oferece para qualquer produtor”, observa.

Vida dedicada ao queijo

Uma das produtoras de queijo artesanal de Porteirinha � Maria da Sa�de de Oliveira, ou simplesmente dona Sa�de, que, al�m de vencer a seca, � um exemplo de vigor na terceira idade. Aos 69 anos, ela se dedica � atividade produtiva desde os 22, e batalha pela melhoria da qualidade do tradicional produto mineiro. Como reconhecimento, ostenta nada menos que duas medalhas de ouro conquistadas no concurso em Arax�. “Eu me sinto muito gratificada de produzir o queijo, fa�o com muito amor. Saber que fui reconhecida � motivo de muito orgulho”, diz dona Sa�de.

H� seis anos, ela perdeu o marido, Deraldino Rodrigues, com quem teve e criou tr�s filhos. N�o desanimou. Mant�m o neg�cio com a filha, Deisiane Oliveira, de 47, e o neto Lucas Silva Oliveira, de 17, na pequena propriedade da fam�lia, na localidade de Olhos D'�gua, a 6 quil�metros da �rea urbana de Porteirinha. Dona Sa�de mant�m 40 vacas, recorrendo � silagem durante a estiagem, com produ��o di�ria de 500 litros de leite que resultam em cerca de 1.200 quilos de queijo por m�s ou 50 quilos por dia.

Outra representante da garra dos produtores da regi�o � Rubnei Santos Gomes, a dona Rubi, que trabalha no sistema familiar com o marido, Regino Rodrigues da Silva, e dois filhos – Regino J�nior e Ot�vio. Desde 2020, o casal conseguiu a certifica��o do queijo que produz.

Dona Rubi usa a silagem e suplementos para manter 15 vacas na estiagem. A produ��o di�ria de 200 litros de leite resulta em 22 pe�as de queijo por dia. “O segredo para vencer a seca � ter persist�ncia e acreditar naquilo que a gente faz”, testemunha a pequena produtora.

Produtores de Porteirinha foram premiados no Concurso Internacional de Queijos Artesanais da ExpoQueijo Brasil
Produtores de Porteirinha foram premiados no Concurso Internacional de Queijos Artesanais da ExpoQueijo Brasil, principal premia��o do setor na Am�rica Latina (foto: Arquivo pessoal/Divulga��o)

Apoio e cr�dito

Os pequenos produtores de queijo artesanal do Norte de Minas contam com uma importante ferramenta para manter e impulsionar o neg�cio: o acesso ao microcr�dito. A relev�ncia do financiamento � enaltecida pelo presidente da Associa��o dos Pequenos Produtores de Queijo Artesanal da Serra Geral (Aproqueijo), Everson Pereira. “O acesso ao cr�dito � essencial para atividade produtiva no semi�rido.”

Pequenos financiamentos aos produtores da regi�o s�o oferecidos pelo Banco do Nordeste, por meio do Programa de Microcr�dito Agroamigo. O banco p�blico informa que atende a 1.100 agricultores, com empr�stimos que oscilam entre R$ 8 mil e 20 mil e car�ncia para pagamento de um a dois anos. Os recursos s�o liberados para demandas como compra de matrizes, insumos e tanques de resfriamento.

Uma das contempladas com o microcr�dito � Eduarda Barbosa Santos, de 28, produtora de queijo artesanal tamb�m premiada no concurso em Arax�. “O microcr�dito � um valioso instrumento de apoio para o empreendedor que n�o tem capital pr�prio e precisa investir na melhoria do seu neg�cio”, afirma ela, que trabalha em parceria com o pai, Jo�o Cust�dio dos Santos, de 65 anos, em propriedade com 14 vacas em lacta��o. 
 
Os “queijeiros tamb�m aprimoram a atividade em  cursos de capacita��o,  palestras, treinamentos e “dias de campo”, promovidos com   o apoio de entidades parceiras  como a Empresa de Assist�ncia T�cnica e Extens�o Rural (Emater), o Sebrae Minas e o  Servi�o Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
 
A analista do Sebrae Minas  Cleris Cristina Bibbo, que atua na regi�o,  orienta os agricultores a ficarem atento aos impactos das adversidades do clima no custo de produ��o, sobretudo, quanto � alimenta��o do rebanho, para evitar preju�zos. “Conhecer bem os custos e utilizar ferramentas de gest�o financeira, ainda que simples, permitem ao produtor uma apura��o melhor dos seus resultados”, observa.  “Na parte comercial, ter uma carteira de clientes consolidadas permite a redu��o dos impactos negativos nas vendas”, sugere a especialista. 
 

 

800
pequenos produtores artesanais se dedicam � produ��o queijeira na cidade do norte de Minas




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