Saiba como defender seus argumentos e vencer um debate mesmo sem ter raz�o

Nascido em Dazing, em 1788, Schopenhauer foi importante fil�sofo alem�o, que influenciou o pensamento do s�culo 19 e continua a influenciar at� os dias de hoje. Ele ficou vulgarmente conhecido por seu pessimismo e teve ascend�ncia sobre grandes escritores, como L�on Tolstoi, Kafka, Machado de Assis, Augusto dos Anjos e Jorge Luis Borges, entre outros. Em seu livro Schopenhauer – A arte de ter raz�o, da Editora Edipro, ele apresenta brilhante, pol�mica e bem-sucedida argumenta��o sobre como vencer um debate sem ter raz�o. Mestre da filosofia sat�rica, ele n�o s� mostra a capacidade ret�rica de defender de forma inteligente seus pr�prios argumentos, como a compreens�o das estrat�gias adotadas pelos parceiros de debate. Em tempos de haters, os odiadores da internet, essa obra nunca esteve t�o atual. Claro, eles n�o sabem. No entanto, seguem � risca alguns estratagemas propostos pelo autor.

Nas redes sociais, os haters se preocupam em entrar nas p�ginas das pessoas comuns, artistas, partidos, empresas, institui��es e com�rcios para falar mal, destilar �dio e ofensas. E para que todos os improp�rios se justifiquem, eles usam t�cnicas antigas, tamb�m sem perceber, e se destacam nas discuss�es na internet pelo fato de refutar o discurso do indiv�duo que ele est� contra, t�cnica apresentada no Estratagema 2 da obra de Schopenhauer. Guilherme Marconi Germer, doutor em filosofia alem� e austr�aca pela Unicamp e p�s-doutorando em filosofia moderna pela USP, explica o qu�o atual se apresentam as ideias de Schopenhauer. “Ele � um fil�sofo extremamente atual em diversos aspectos. Jair Barboza afirma que comp�e, ao lado de Karl Marx, os dois pilares fundamentais da filosofia contempor�nea. De fato, algumas das principais correntes da filosofia continental dos s�culos 20 e 21 t�m no autor referencial incontorn�vel. Entre seus mais eminentes admiradores se destaca Friedrich Nietzsche, que o identifica como seu 'grande mestre', revela que sua descoberta de Schopenhauer lhe trouxe 'revolu��o espiritual', e o define como o fil�sofo educador ideal. A riqueza pedag�gico-filos�fica desse autor, conforme Nietzsche, se deve ao fato de ele saber 'dizer as coisas profundas com simplicidade, as coisas comoventes sem ret�rica, e as rigorosamente cient�ficas sem pedantismo'.”

No entanto, para Guilherme Marconi Germer, o perfil contempor�neo corriqueiro do hater nada tem em comum com Schopenhauer, e muito pouco com a dial�tica er�stica (como vencer um debate sem precisar ter raz�o – em 38 estratagemas). “Os haters n�o praticam a dial�tica er�stica (e muito menos a filosofia) porque negam a pr�pria situa��o do di�logo. Eles n�o querem dialogar, mas apenas manifestar uma repulsa ou �dio. Durante um debate, eles seriam aqueles que s� sabem ficar do lado de fora, vaiando, sem nada acrescentar. O dial�tico er�stico j� � bem mais evolu�do. Do ponto de vista intelectual n�o rejeita o debate, pelo contr�rio, busca as conversas, uma vez que v� nelas a oportunidade de se beneficiar positivamente, com base em suas estrat�gias de vit�ria dial�gica (sem precisar ter raz�o). Por isso, ele d� voz ao interlocutor, escuta-o at� certo ponto, pois muitas vezes buscar� usar as pr�prias armas do interlocutor contra ele mesmo.” Para ele, “os textos culturais mais tardios de Freud sobre o impulso de destrui��o, e os de Adorno sobre a barb�rie, me parecem ensinar um pouco mais de perto o perfil psicol�gico e sociol�gico do que hoje se denomina haters”.


DEBATE Guilherme Marconi Germer explica que Schopenhauer quer nos ensinar o poder consolador da verdade e do conhecimento, em um mundo mergulhado no acaso e no erro. “Se partirmos de A arte de ter raz�o, Schopenhauer diz que a 'verdade � indestrut�vel diamante. � a �nica coisa que permanece firme, que persevera e se mant�m fiel’. Sempre � um grande risco se afastar dela. Por�m, t�-la em m�os nunca � suficiente em qualquer debate. Assim, t�o importante quanto t�-la � saber preserv�-la de seus depravadores desleais. E, para tanto, sempre valer� a regra da justeza de que os combatentes duelem com as mesmas armas. Com esse fim, sobretudo, de defesa da verdade contra os er�sticos trapaceiros e com os recursos da pr�pria er�stica, bem como com o fim de denunciar ironicamente o comportamento dos �ltimos, Schopenhauer escreveu esse livro, cuja leitura � uma porta de entrada privilegiada e de grande valor atual ao cerne de sua filosofia.”

Entre os 38 estratagemas do livro, Guilherme Marconi Germer afirma que todos s�o amplamente praticados ainda. “Infelizmente, o �ltimo estratagema � o mais usado, pois marca, justamente, o fim do debate, e a passagem para o n�o debate. Isso �, o rebaixamento da 'humanitas' para a animalidade da agress�o e do �dio. E, por isso, a transi��o da dial�tica er�stica para o comportamento do hater. �ltimo estratagema: 'se percebemos que o oponente � superior e que n�o ficaremos com a raz�o, ent�o devemos nos tornar ofensivos, ultrajantes e rudes'. Tornar-se ofensivo consiste em passar do objeto da disputa (que est� perdida) para seu sujeito, atacando-o pessoalmente (...) � um apelo das for�as intelectuais �s do corpo ou � animalidade. Essa regra � muito apreciada, uma vez que qualquer um � capaz de execut�-la”.

SERVI�O

Livro: Schopenhauer – A arte de ter raz�o
Apresenta��o: Guilherme Marconi Germer
Tradu��o: �rica Gon�alves de Castro e Guilherme Ign�cio da Silva
Editora: Edipro, 1ª edi��o, 2019, 80 p�ginas, R$ 32,90


Aprenda a lidar com os haters

O que leva algu�m a ser hater? Pode ser que essa pessoa esteja chateada, frustrada ou que se comporta assim, simplesmente por divers�o mesmo. N�o existe uma causa �nica. Mas existem alguns passos que podem ser �teis na hora de evit�-los:

1 – N�o caia no jogo deles
Silenciar � a melhor decis�o, j� que tudo que um hater deseja � continuar sendo um hater. Deixem que falem sozinhos

2 – Modera��o nos coment�rios
Apague (bloqueie) qualquer tipo de coment�rio que seja ofensivo, odioso, preconceituoso e que n�o deve ter espa�o reconhecido

3 – Reflita sobre os "ataques"
Avalie as cr�ticas, algumas podem ser importantes para o crescimento, principalmente, se elas estiverem bem embasadas. Mas, provavelmente, isso n�o vir� de um hater

4 – Eles querem publicidade
Quanto menos aten��o um hater receber, menos interessado ele estar� em continuar, j� que se orgulham de receber certa fama. Ter seus coment�rios ofensivos em destaque � uma esp�cie de pr�mio para alguns

5 – N�o os guarde com voc�
Para viver de forma saud�vel e conviver com esse tipo de coment�rio, � preciso n�o armazen�-los


Fonte: www.canaltech.com.br



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Os 38 estratagemas do livro Schopenhauer – A arte de ter raz�o, da editora Edipro, ensinam como vencer uma discuss�o mesmo que a raz�o esteja com o outro. Livro perturbador e sempre atual, ainda mais em tempos de haters nas redes sociais. Para Guilherme Marconi Germer, doutor em filosofia alem� e austr�aca pela Unicamp e p�s-doutorando em filosofia moderna pela USP, � lament�vel ter que dizer, diante do abuso que se faz do �ltimo estratagema do livro (estratagema 38 – parta para o ataque pessoal, insultando grosseiramente, t�o logo perceba que seu oponente est� com a vantagem), diante do desesperado e derradeiro argumento, “que a verborragia e a viol�ncia atual nos fazem ter saudade dos antigos sofistas. Esses, ao menos, n�o se subordinavam � animalidade, e tiveram a honra de ter sido eleitos por Plat�o como advers�rios dos fil�sofos. N�o foram eles, certamente, que assassinaram S�crates, mas os gregos, que, no decl�nio de Atenas, anteciparam os haters atuais.”

Para o tamb�m professor substituto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o ganho filos�fico (para o bem) da dial�tica er�stica (como vencer um debate sem precisar ter raz�o) �, conforme Schopenhauer, duplo. “Em primeiro lugar, ela (dial�tica er�stica) serve de defesa contra os ataques desleais dos dial�ticos eristas. Afinal, poder se defender com as mesmas armas do atacante � uma regra b�sica da Justi�a. Al�m disso, o texto tem um ganho psicol�gico, � medida que descreve com bastante acerto e originalidade um comportamento muito recorrente, mas pouco reconhecido, dos homens em geral: eles n�o entram em um debate para ampliar o conhecimento e chegar a um acordo, de modo neutro e objetivo. Pelo contr�rio, o fazem, sobretudo, para vencer, persuadir e se beneficiar com isso. Muitas armas s�o usadas com esse fim – as quais podem ser resumidas nos 38 estratagemas compilados pelo fil�sofo de Frankfurt.”