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CENTRAL DO BRASIL FAZ 20 ANOS

Walter Salles reavalia o filme com o qual venceu o Festival de Berlim h� duas d�cadas e diz que, na trama, "a busca pelo pai � a procura de um pa�s poss�vel". Diretor fala sobre o momento nacional


postado em 31/10/2018 06:34

Fernanda Montenegro e Vinícius de Oliveira em cena de Central do Brasil(foto: Paula Prandini/DIVULGAÇÃO)
Fernanda Montenegro e Vin�cius de Oliveira em cena de Central do Brasil (foto: Paula Prandini/DIVULGA��O)

Em 1998, um filme muito especial bateu nas telas do pa�s. Central do Brasil tinha Fernanda Montenegro interpretando a mulher que cumpre uma curva dram�tica exemplar ao se enternecer por um garoto que busca pelo pai. Central conquistou o p�blico brasileiro e foi reconhecido no exterior, trazendo para o Brasil o Urso de Ouro, principal pr�mio do Festival de Berlim, que tamb�m deu a Fernanda o trof�u de melhor atriz. A uma dist�ncia de 20 anos, Walter Salles reavalia sua obra e fala do momento nacional.

A 20 anos de dist�ncia, como avalia a import�ncia desse filme em sua carreira?
Central do Brasil foi pensado, assim como Terra estrangeira, nos meses finais do desgoverno Collor. Depois, portanto, de v�rios anos de sil�ncio for�ado no cinema brasileiro. Terra estrangeira falava do caos econ�mico, mas tamb�m identit�rio que vivemos, e do desterro que marcou aquele momento. Em Central, a busca pelo pai � a procura de um pa�s poss�vel, depois de anos t�o traum�ticos de nossas vidas. Penso que a repercuss�o do filme tem diretamente a ver com o fato de ele ter buscado o reflexo daquilo que tinha acontecido com o pa�s.

Acha que a premia��o em Berlim contribuiu muito para que o filme se tornasse um marco do cinema brasileiro ou isso teria ocorrido mesmo sem o Urso de Ouro?
Berlim, mas n�o s�. Havia o desejo por parte do p�blico de rever a sua imagem refletida na tela, depois de tanto tempo de aus�ncia. Kieslowski dizia que a miss�o mais importante do cinema era dar not�cias de um pa�s, de uma cultura – e foi o que v�rios filmes fizeram no cinema brasileiro naquele momento.

Naquela ocasi�o, 1998, viv�amos num pa�s mais otimista e menos dividido do que o atual. Mesmo assim, a quest�o de Central era a busca do centro, do eixo, do pai. Como seria isso hoje, que parecemos n�o encontrar refer�ncias em parte alguma?
Boa pergunta. Mesmo nos piores anos de Collor, sab�amos que ir�amos sair daquela barafunda. Hoje, o pesadelo � maior. Quem ascendeu ao poder j� deu provas de que desacredita no equil�brio entre poderes, nos mecanismos de inclus�o social, nos efeitos do aquecimento global, na diverg�ncia de ideias. Pensando positivamente, � preciso lembrar que mais de 45 milh�es de eleitores n�o subscreveram essa vis�o de mundo. Isso sem falar no n�mero significativo de absten��es e votos nulos. Prefiro acreditar, neste momento, que as institui��es brasileiras ser�o suficientemente s�lidas para resistir.

Do ponto de vista est�tico, de linguagem cinematogr�fica mesmo, voc� considera que Central foi seu �pice como diretor ou considera que seus trabalhos posteriores foram evolu��es em rela��o a este filme-marco?

N�o saberia avaliar – � algo que talvez seja mais percept�vel � dist�ncia. Pensamos cada elemento de Central do Brasil como parte da ideia-motriz do filme, que � o processo de ressensibiliza��o das personagens principais, Dora e Josu�. Di�rios de motocicleta � regido pelo mesmo desejo de coes�o est�tica, mas o que est� em jogo � o desvendamento de uma voca��o. Em ambos os filmes, h� o mesmo interesse pelo descobrimento de uma geografia f�sica e humana que nos � pr�pria. Os instrumentos gramaticais para atingir esses objetivos � que s�o diferentes.

Gostaria que dissesse algumas palavras a respeito de Fernanda Montenegro e Vin�cius de Oliveira, a dupla inesquec�vel de Central do Brasil.
Central foi pensado para Fernanda Montenegro, e ela imantou o filme como ningu�m. Fernanda ofereceu ao filme um rigor e, sobretudo, uma humanidade para Dora que nos guiaram ao longo de toda a filmagem. E Vin�cius foi esse presente e essa luz que o destino nos deu, em um momento em que est�vamos perto de desistir de achar o ator para interpretar Josu�.

Agora que um governo de propostas discut�veis foi eleito, qual a sua vis�o para os pr�ximos anos, como cidad�o e como artista?
Nesse cen�rio, a cultura poder� ser um instrumento de resist�ncia determinante. O samba-enredo da Mangueira, o poema-manifesto de Arnaldo Antunes, os artigos de Marcelo Rubens Paiva mostram, entre tantas outras manifesta��es, que a cultura est� mais viva e atenta do que nunca.

Do ponto de vista pol�tico, acha interessante a forma��o de uma frente democr�tica de modo a defender conquistas contra poss�veis retrocessos?

Sim, mas n�o � uma equa��o simples. A frente democr�tica que se tentou estabelecer na reta final da campanha n�o se cristalizou. Os interesses particulares, mirando 2022, levaram a melhor sobre uma quest�o maior, que � a defesa de um Estado democr�tico e laico.

No �mbito espec�fico do cinema, o nenhum apre�o demonstrado pelo pr�ximo governo pela cultura pode trazer descontinuidade para a produ��o nacional, t�o duramente conquistada?

A Ancine criou na gest�o de Manoel Rangel, atrav�s do sistema de cotas nos canais a cabo, as condi��es que alavancaram uma produ��o ampla e plural de miniss�ries, programas e desenhos para o p�blico infantil, document�rios, musicais. Essa produ��o gera hoje milhares de empregos. Nossa efici�ncia nesse setor s� n�o � maior porque estamos patinando na regulamenta��o do v�deo on demand, o VOD. Nesse aspecto, pa�ses como Fran�a est�o muito � nossa frente.

Gostaria de saber de seus pr�ximos projetos e se, por acaso, algum deles contempla essa voca��o tr�gica da hist�ria brasileira, em que avan�os sempre se chocam com estruturas reacion�rias.
Estou trabalhando com o escritor Eduardo Bueno em um roteiro sobre um personagem fascinante, Pero Sardinha, o primeiro bispo enviado pela Coroa portuguesa ao Brasil, em 1552. Um ano depois de aportar em Salvador, Sardinha come�ou a cobrar pela absolvi��o dos pecados em moeda sonante. Acabou deglutido pelos �ndios caet�s em 1556, como Oswald de Andrade celebra no Manifesto antropof�gico de 1928. Muitos aspectos da trajet�ria de Sardinha encontram eco no Brasil contempor�neo, estranhamente. E, com o roteirista Murilo Hauser, estamos trabalhando na adapta��o de Ainda estou aqui, o livro de Marcelo Rubens Paiva. � um relato sobre a m�e dele, Eunice, e sua luta incans�vel para descobrir como seu marido, Rubens Paiva, foi assassinado durante a ditadura. � um filme sobre a import�ncia da mem�ria, tanto coletiva quanto pessoal.

Um Central do Brasil 2 seria poss�vel? E que problem�tico eixo de refer�ncia seria encontr�vel em tempos como este?
As cartas que Dora escrevia n�o existiriam hoje. Com as m�dias sociais, � como se papel, tinta e envelope n�o te pertencessem mais. As suas cartas podem ser acessadas, reconfiguradas, vendidas para terceiros. � nessa terra de ningu�m que surgem personagens como Steve Bannon, e s�o constru�dos os alicerces que permitem o surgimento de regimes como os da Pol�nia, Hungria, Filipinas ou Brasil. (Estad�o Conte�do)


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