
“N�o deixa de ser uma forma de democratizar, tornando o autor mais acess�vel. No Brasil, t�m ocorrido muitos problemas com a administra��o de direitos por conta de herdeiros. Um aspecto interessante � que como Lobato era uma figura muito rica e complexa, (a libera��o) permite a divulga��o de perfil mais amplo de sua obra, principalmente por meio da disponibiliza��o de arquivos pessoais, como cartas”, afirma Maria Cristina Soares, professora titular da Faculdade de Educa��o da Universidade Federal de Minas Gerais (Fale/UFMG).
Com a novidade, v�rios lan�amentos est�o previstos para este ano. A Globo Livros, que detinha desde 2007 os direitos exclusivos sobre a obra do criador de Pedrinho, Dona Benta e Tia Nast�cia, deve colocar no mercado edi��es especiais de A chave do tamanho e O Picapau Amarelo. Em fevereiro, a Companhia das Letras lan�a nova edi��o de Reina��es de Narizinho, al�m da biografia juvenil de Monteiro Lobato preparada por Marisa Lajolo, especialista na obra do autor, em parceria com a historiadora Lilia Schwarcz.
Pedro Bandeira, outro grande nome de nossa literatura infantil, est� adaptando obras de Lobato para as crian�as do s�culo 21. Narizinho, a menina mais querida do Brasil ser� publicado em breve pela Editora Moderna.
A jornalista e escritora mineira Marcia Camargos, bi�grafa do escritor e coautora de Monteiro Lobato: Furac�o na Botoc�ndia (Edi��es Senac), vai lan�ar uma vers�o para o p�blico jovem do livro de contos Urup�s, que completou 100 anos em 2018 e tornou famoso o personagem Jeca Tatu.
EXPOSI��O Na quarta-feira (16), a Biblioteca Nacional, com sede no Rio de Janeiro, abrir� exposi��o dedicada a Lobato. O p�blico poder� ver exemplares de primeiras edi��es de livros dele, cartas trocadas com Lima Barreto, de quem foi editor e amigo, e v�rios manuscritos.
A institui��o guarda cerca de 1 mil itens relativos ao escritor paulista, entre livros, manuscritos e cartas. “Nosso acervo sempre esteve dispon�vel para a consulta do p�blico. Uma parte dele, inclusive, est� acess�vel digitalmente no nosso site. Agora, com o dom�nio p�blico, haver� maior interesse das pessoas e das pr�prias editoras e autores sobre o legado dele, sem contar que aumenta a divulga��o. Isso � important�ssimo”, destaca Ana Merege, curadora da Divis�o de Manuscritos da Biblioteca Nacional.
EDITOR Jos� Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubat�, interior de S�o Paulo, em 18 de abril de 1882. Formou-se em direito na Faculdade do Largo S�o Francisco, na capital paulista, mas abandonou a profiss�o. Foi escritor, jornalista, tradutor, editor, empres�rio e fazendeiro. Fundou sua pr�pria editora, publicando dezenas de livros para adultos e crian�as.
Em 1920, Lobato lan�ou seu primeiro livro infantil, A menina do narizinho arrebitado, com grande sucesso. A partir da�, surgiram as hist�rias do S�tio do Picapau Amarelo, com aventuras bem brasileiras, recuperando costumes do interior, al�m de lendas do folclore como o saci. O autor usou tamb�m elementos da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. Al�m de tudo isso, tornou-se pioneiro da literatura paradid�tica.
Essa personalidade multifacetada � um dos aspectos que mais chamam a aten��o da bi�grafa Marcia Camargos. “Ele se envolveu em quase todos os setores da vida nacional. Da culin�ria ao movimento sem-terra, passando pelo petr�leo, autom�vel e at� espiritismo, quando perdeu seus filhos. Depois da biografia (parceria dela com Carmen L�cia de Azevedo e Vladimir Sacchetta), passamos a escrever artigos sobre os mais variados assuntos”, comenta.
MODERNO A professora Maria Cristina Soares ressalta a faceta do paulista n�o s� como autor, sobretudo de livros infantis, mas como editor. Em parceria com Eliane Marta Teixeira Lopes, ela organizou a colet�nea Lendo e escrevendo Lobato, que re�ne textos de v�rios especialistas.
“Em parte, ele foi respons�vel pela moderniza��o do mercado editorial brasileiro. H� um epis�dio muito curioso. A gente mal tinha livrarias naquela �poca. Certa vez, ele escreveu uma carta para todos os estabelecimentos comerciais do Brasil, com exce��o dos a�ougues, oferecendo, de maneira ir�nica, um objeto chamado livro”, conta.
Sem d�vida, a faceta mais difundida de Lobato � sua import�ncia para a literatura infantil. Marcia Camargos afirma n�o ter d�vida de que ele � o Hans Christian Andersen do Brasil. Esse dinamarqu�s escreveu os cl�ssicos A pequena sereia e O patinho feio.
Monteiro Lobato se dedicou �s crian�as por n�o encontrar livros com tem�tica brasileira para ler para os filhos. “Ele j� escrevia para adultos e percebeu que as historinhas infantis n�o tinham nada a ver conosco. Lobato foi – e ainda � – um autor popular que defendia a literatura como instrumento da transforma��o da realidade, da forma��o de cidad�os. Uma literatura acess�vel ao grande p�blico”, enfatiza.
Maria Cristina Soares destaca que esse autor revolucion�rio jamais infantilizou as crian�as. “Ele trata da complexidade do pensamento delas, mas lidando com imagina��o. Sua obra tem uma qualidade e uma relev�ncia liter�ria impressionantes. Sem contar a perspectiva did�tica interessante, pois aborda temas como mitologia e ci�ncias. At� hoje Monteiro Lobato � lido, pois � atemporal, sem contar que sua obra ganhou outras leituras que ajudaram a dissemin�-lo, como a pr�pria televis�o”, conclui.