
N�o espere superprodu��es ou efeitos especiais. O mote e o que difere a mostra A Cidade em Movimento do conte�do de todos os outros festivais de cinema � dar visibilidade � produ��o audiovisual 100% local. O que, principalmente em tempos bicudos para a cena cultural, implica filmes produzidos com or�amento baixo ou at� nulo, e que contemplam tanto realizadores veteranos quanto jovens, incluindo a� os ainda estudantes e a nova gera��o de cineastas. N�o por acaso, representa uma oportunidade �nica para assistir a produ��es que n�o est�o inseridas em salas comerciais.
Se��o paralela da 13ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, a mostra conta com 24 curtas e m�dias-metragens produzidos na Regi�o Metropolitana (RMBH). S�o hist�rias que falam sobre a capital mineira e seu entorno, seu povo, sua cultura, suas nuances, seu cotidiano, suas pol�ticas, tradi��es e problem�ticas.
As exibi��es se encerram neste domingo (22), no Sesc Paladium, com sess�o que exibir� quatro t�tulos, a partir das 19h, com entrada franca. A pesquisadora e ativista Paula Kimo, curadora da mostra desde 2016, ano em que foi integrada � programa��o do festival, destaca que a exibi��o dos filmes � acompanhada por Rodas de Conversa com convidadas especiais depois das sess�es.
Paula explica tamb�m que, nesta edi��o, a mostra foi divida em cinco tem�ticas principais: “Trabalho e vida na cidade contempor�nea”; “Por uma natureza que constitui a cidade”; “Corpo, experi�ncia e milit�ncia”; “Contra o genoc�dio da juventude brasileira” e “Retrato de cidade”.
“Desde que a mostra surgiu, nossa proposta � organizar um conjunto de filmes que pudesse falar das resist�ncias pol�ticas, dos movimentos emergentes, das lutas que estavam escancaradas a� nas ruas, nas periferias, no Centro da cidade. Veio muito com essa caracter�stica, um tom de filmes pol�ticos sobre BH.”
J� esta quarta edi��o abrange outros vieses, conta a curadora. “A mostra passou a ser desenhada tamb�m a partir da produ��o que a cidade vem desenvolvendo. Desde o ano passado, o lugar da pol�tica do cotidiano tamb�m est� presente. Com isso, os t�tulos n�o abordam apenas o contexto de lutas na cidade, de ocupa��o, de resist�ncia, mas tamb�m filmes produzidos no cotidiano do belo-horizontino, da RMBH. Falam sobre as lutas rotineiras, o trabalho, a vida, o circular pela cidade, o Centro e as periferias. As entranhas e invisibilidades.”
ZERO OR�AMENTO
Outra meta da sele��o desta quarta edi��o da mostra A Cidade em Movimento � “revelar a diversidade em todos os sentidos: racial, sexual, de g�nero, de classe”, diz Paula. “S�o filmes de diferentes lugares, produzidos por diferentes realizadores e realizadoras e que mostram esses contrastes da cidade. A curadoria zela pelo respeito aos espectadores e aos pr�prios realizadores, que, muitas vezes, produzem com zero or�amento, sem que possam contar com uma estrutura mais industrial ou mais comercial. H�, ainda, o cinema universit�rio, um grupo grande de estudantes produzindo, novos cineastas que se formam a cada ano. Essa produ��o tamb�m tem um lugar bem especial na mostra.”� este o caso do curta Cabe�a de rua. Com menos de 15min de dura��o e realizado por alunos da Escola Livre de Cinema, com dire��o de Ang�lica Louren�o (� �poca ainda estudante), o filme flagra a rotina de uma mulher lavadora de carros em meio � possibilidade de conseguir um novo trabalho, desta vez no mercado formal. “Participamos do Festival Internacional de Curtas de S�o Paulo e tamb�m de mostras em BH, Bras�lia e no Rio de Janeiro, o que nos deixa muito felizes e a fim de produzir cada vez mais”, diz Ang�lica. A jovem cineasta destaca o fio condutor da trama, que traz como protagonistas duas primas, C�lia e S�lvia, personagens que vivem de um of�cio majoritariamente masculino e que usa as ruas da cidade como escrit�rio. “Estamos falando de incertezas, inseguran�a do trabalho e das garantias do trabalhador, um paradoxo nesse cen�rio de mudan�as. Tamb�m da posi��o que as mulheres ocupam e de como se inserem na sociedade, muitas vezes de forma invis�vel”.
Ang�lica comemora a repercuss�o do curta. “Como � um filme de escola, produzido com pouqu�ssimo recurso, uma pequena verba obtida a partir de vaquinhas e de contribui��es volunt�rias, termos sido chamados para v�rios festivais � uma vit�ria. � animador e engrandecedor.”
ANIMA��O
Trabalhando com cinema h� mais de 20 anos, principalmente no segmento de curtas de anima��o, S�vio Leite emplacou uma produ��o experimental na mostra, o curta Lacrimosa. “Trata-se do registro de um inc�ndio que destruiu uma grande f�brica t�xtil, no Bairro Prado. A sele��o para a mostra ajuda muito a divulgar um novo trabalho, que veio, coincidentemente, junto � quest�o de inc�ndios e queimadas que estamos presenciando”, diz ele.Um dos destaques na sess�o de hoje, o m�dia-metragem Entre Amazonas e Tupis, de Luiza Garcia, registra em quase 30 minutos o entra-e-sai do p�blico e de quem trabalha no Bar do Non�, tradicional boteco no Centro de BH. Famoso por estar aberto h� mais de 50 anos servindo caldo de mocot�, o reduto bo�mio funciona 24 horas e re�ne frequentadores de diferentes perfis.
Luiza, formada em comunica��o social pela UFMG e em audiovisual em cursos livres e na Escola de Cinema de Los Ban�s, em Cuba, diz que ansiava por ver o filme selecionado na mostra internacional. “O papel do cinema de BH e de Minas tem sido muito relevante no momento atual. H� alguns anos sa�mos do eixo Rio-SP, e outras cidades v�m ganhando destaque na produ��o audiovisual brasileira. Mas ainda temos muita luta nesse momento de editais restritos, de governos que n�o facilitam a produ��o cultural. Tanto que usamos em parte recursos da Lei Rouanet e tamb�m de financiamento coletivo”, diz ela. “Ainda assim, o cinema tem crescido em BH, com mais nomes, mais pulverizado. Com disposi��o e a manuten��o de festivais, ganhamos for�a para chegar ao ponto que queremos.”
EM CARTAZ
Confira os filmes que ser�o exibidos hoje
» Minha raiz, de Labibe Araujo
Belo Horizonte como espa�o de performance e interven��o pol�tica contra o racismo
» Da janela, de Luciano Correia
Document�rio sobre os contrastes sociais da cidade filmado a partir das janelas de diversas moradias
» Diz que � verdade, de Claryssa Almeida e Pedro Estrada
Trabalhadores comuns, Alexandre e Suelen experimentam o estrelato numa noite de videok�

» Entre Amazonas e Tupis, de Luiza Garcia
Document�rio sobre o Bar do Non�, tradicional reduto bo�mio no Centro da capital.
Na Roda de Conversa com os diretores a convidada � a antrop�loga Ros�lia Diogo
A CIDADE EM MOVIMENTO
Neste domingo (22), �s 19h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Entrada gratuita. Os ingressos s�o distribu�dos 30 minutos antes do in�cio da sess�o. Mais informa��es: www.cinebh.com.br.