(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Diretor criado em BH compete na Mostra de SP com filme sobre corais gays

Radicado em Los Angeles, David Charles Rodrigues acompanhou turn� de corais gays ao Sul dos EUA para compreender como pa�s polarizado ap�s elei��o presidencial poderia voltar a se unir


postado em 17/10/2019 04:00 / atualizado em 16/10/2019 18:49

O cantor e regente texano Tim Seelig precisou lidar com feridas familiares para encarar uma igreja batista lotada no Sul de seu país(foto: Air BNB Production/Divulgação)
O cantor e regente texano Tim Seelig precisou lidar com feridas familiares para encarar uma igreja batista lotada no Sul de seu pa�s (foto: Air BNB Production/Divulga��o)
 

Cantor e regente, o texano Tim Seelig j� viveu grandes momentos na carreira. Sua voz de bar�tono o levou a integrar a �pera Nacional da Su��a e a cantar para a rainha Elizabeth II. Seu trabalho como condutor o levou para o Guinness, pois comandou o maior concerto de coral do mundo, que durou mais de 20 horas.


Seelig poderia bem continuar confort�vel “em sua bolha de S�o Francisco”. Mas n�o. H� dois anos, entre 7 e 15 de outubro de 2017, ele esteve � frente de uma excurs�o de 300 pessoas. Seis �nibus deixaram a Calif�rnia com integrantes de dois corais – San Francisco Gay Men's Chorus e Oakland Interfaith Gospel Choir – rumo ao Sul dos Estados Unidos, mais especificamente aos estados do Mississippi, Alabama, Tennessee, Carolinas do Norte e do Sul.

O resultado dessa excurs�o ao Sul profundo, precisamente os estados com o maior n�mero de leis discriminat�rias contra a comunidade LGBT, est� no document�rio Gay Chorus deep South. Lan�ado em abril passado no Festival de Tribeca, em Nova York, de onde saiu com o trof�u de melhor document�rio pelo voto do p�blico (16 outros pr�mios mundo afora vieram desde ent�o), o filme tem sua primeira exibi��o no Brasil nesta quinta-feira (17), no primeiro dia da 43ª Mostra Internacional de Cinema de S�o Paulo (17 a 30/10).

A sess�o ter� uma boa cota de emo��o para o diretor do document�rio. Nascido em Boston, filho de m�e americana e pai brasileiro, David Charles Rodrigues, de 39 anos, viveu em Belo Horizonte dos oito aos 24. Daqui saiu para voltar a viver nos EUA – primeiramente em S�o Francisco e, desde 2010, em Los Angeles.

“Sempre quis fazer cinema, mas nunca achei que fosse poss�vel”, comenta ele, que estudou publicidade e propaganda na PUC-Minas, trabalhou em ag�ncias na capital mineira e, na carreira criativa, deu os primeiros passos no Big Jack Studios, voltado para a produ��o de quadrinhos.
 
“Para mim, � muito especial exibir o filme (Gay Chorus compete na se��o Novos Diretores) na Mostra, pois, quando era adolescente, ia de BH para S�o Paulo para o evento. A Mostra foi um dos festivais que me inspiraram a querer fazer cinema. Talvez seja o festival mais importante para mim por motivos pessoais”, conta.

Mesmo vivendo fora h� 14 anos, David n�o perdeu os la�os com Belo Horizonte. Ele � o �nico filho de Paulo Ant�nio Santos Rodrigues, que continua em BH. “Seria um sonho exibi-lo no Belas Artes”, comenta ele, a respeito da sala que tanto frequentou.

 

''Para mim, � muito especial exibir o filme na Mostra, pois, quando era adolescente, ia de BH para S�o Paulo para o evento. A Mostra foi um dos festivais que me inspiraram a querer fazer cinema. Talvez seja o festival mais importante para mim por motivos pessoais''

David Charles Rodrigues, diretor

 

David chegou ao projeto quando a excurs�o j� estava marcada. Na elei��o presidencial de 2016,  ele foi o diretor criativo e roteirista da campanha Vote your future, com 100 v�deos curtos que estimulavam a popula��o norte-americana a se registrar para votar. A campanha contou com a participa��o de Leonardo DiCaprio, Julia Roberts, Rami Malek, Samuel L. Jackson e os v�deos tiveram, entre os diretores, Alejandro I�arritu, David O. Russell e Joss Whedon.


“Infelizmente, n�o adiantou nada. Depois do que rolou na elei��o, eu fiquei mais impactado com a divis�o pela qual o pa�s estava passando do que por quem estava ocupando a Casa Branca”, conta David. Em busca de hist�rias que pudessem criar um “di�logo entre liberais e conservadores”, ele chegou ao San Francisco Gay Chorus. “J� conhecia o coral, mas n�o a fundo. Quando anunciaram a turn�, achei a ideia genial, pois a m�sica � um ponto no processo de aproxima��o entre os dois lados.”

A equipe de oito pessoas ficou alguns meses em S�o Francisco antes da turn� e, de malas prontas, acompanhou toda a incurs�o ao Sul – durante oito dias, os corais fizeram 25 apresenta��es, 18 delas em igrejas. “O filme n�o � sobre o coral, mas sobre duas comunidades se reunindo. Para a gente, o importante era mostrar todas as facetas: a dos gays, dos conservadores, dos crist�os, dos trans”, diz.
O diretor David Charles Rodrigues(foto: Air BNB Production/Divulgação)
O diretor David Charles Rodrigues (foto: Air BNB Production/Divulga��o)

Acompanhando as diferentes performances na estrada, o roteiro � apoiado por tr�s personagens que v�o costurando a narrativa. O j� citado Seelig, o destaque do filme, rev� a pr�pria trajet�ria. De uma tradicional fam�lia batista do Texas, ele se casou, teve dois filhos e cantou com a mulher no coral da igreja. Quando se declarou gay, assistiu ao apoio incondicional que seu pastor e sua igreja deram � mulher para que fosse para longe e n�o permitisse a ele ter acesso aos pr�prios filhos.

Tamb�m sulista, o baixo Jimmy White havia seis anos n�o falava com o pai, que o renegou desde que ele tornou p�blica a homossexualidade. Chegou a ouvir do pai que seria melhor que nunca tivesse nascido. Terminada a turn�, White daria in�cio a um tratamento contra o c�ncer. J� o primeiro tenor, Ashl� Blow, estava dando in�cio � sua transi��o.

Para a turn�, o San Francisco Gay Chorus trabalhou em um repert�rio gospel, algo que n�o � o seu usual, cantando em igrejas de diferentes doutrinas, que tampouco s�o seu principal palco. Em lugares onde a “B�blia � mais importante do que a Constitui��o”, como afirma Patricia Todd, do Alabama, os cantores n�o se pouparam. Seelig, por exemplo, deu uma entrevista a uma r�dio de extrema-direita. Blow foi jantar com um colega na casa de uma fam�lia muito religiosa e com eles rezou antes da refei��o.
'Gay Chorus deep South' foi o primeiro longa produzido pela plataforma de hospedagem Airbnb (foto: Air BNB Production/Divulgação)
'Gay Chorus deep South' foi o primeiro longa produzido pela plataforma de hospedagem Airbnb (foto: Air BNB Production/Divulga��o)

Mas houve pedras no caminho, ainda que poucas, considerando-se o terreno minado em que eles pisavam. Um dos locais mais esperados da excurs�o era a cidade de Selma, no Alabama. Palco de um dos mais ic�nicos momentos da luta pelos direitos civis, nos anos 1960, a pequena localidade n�o estava de bra�os abertos para eles. O pastor local se recusou a receb�-los na igreja – e um pequeno protesto com quatro jovens os esperava na entrada do local. Diante disso, os corais foram para a rua, emulando a Marcha pelos Direitos Civis, que reivindicava o direito de voto para os negros, em 1965.

“Houve protestos, amea�as de bombas. Tentei filmar uma igreja conservadora e um seguran�a amea�ou atirar em mim”, relembra David. Mas o que est� na tela � bastante positivo, com um final pra l� de impactante, quando os corais lotam uma imensa igreja batista – o grande trauma do regente Seelig, ele admite – entoando o hino gospel Amazing grace.

Gay Chorus deep South foi financiado pela Airbnb – foi a primeira vez que a plataforma de hospedagem patrocinou um longa-metragem. O filme foi adquirido pela MTV Documentary Films, nova divis�o da empresa de entretenimento, comandada por Sheila Nevins. A executiva esteve � frente da �rea de document�rios da HBO durante d�cadas. Sob sua gest�o, a emissora venceu 26 Oscars e 80 Emmys. O filme de David est� inscrito para o pr�ximo Oscar.

Com o filme em festivais, David est� envolvido em outros projetos. Atualmente, trabalha em uma s�rie documental que ser� lan�ada em 2020 pela Netflix. Por ora, s� espera “que o m�ximo de pessoas no mundo assistam a Gay Chorus”. A repercuss�o do document�rio s� veio confirmar que David estava certo em seu objetivo. “N�o � uma coisa que aconteceu do dia para a noite. Tem muito tempo que estou trabalhando. Tenho 20 anos de carreira. Mas, finalmente, eu vi que d� para fazer isto, pois nunca achei que uma pessoa que nasceu sem condi��es financeiras pudesse fazer cinema”, conclui.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)