(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas LAN�AMENTO

Filho de Elis Regina lan�a livro tocante sobre sua rela��o com a m�e

�rf�o aos 11 anos, Jo�o Marcello B�scoli enfrentou a solid�o e a hipocrisia de antigos bajuladores da estrela. Ele conta que gostaria de ter sido adotado por Rita Lee, autora do pref�cio de 'Elis e eu'


postado em 28/10/2019 04:00 / atualizado em 27/10/2019 14:15

O produtor musical João Marcello Bôscoli, de 49 anos, é o primeiro dos três filhos de Elis Regina a escrever um livro sobre a mãe(foto: Marcio Fernandes de Oliveira/AE)
O produtor musical Jo�o Marcello B�scoli, de 49 anos, � o primeiro dos tr�s filhos de Elis Regina a escrever um livro sobre a m�e (foto: Marcio Fernandes de Oliveira/AE)

 
 
Jo�o Marcello B�scoli tinha 11 anos quando o mundo despencou. Era uma manh�, 19 de janeiro de 1982, e o telefone. O rep�rter de r�dio perguntava se era da resid�ncia da cantora Elis Regina e gostaria de confirmar se ela havia mesmo morrido. Jo�o achou que fosse trote e desligou. O que se passaria nas pr�ximas horas seria o in�cio do pesadelo que levaria alguns dias para se dissipar.
Ainda mais sozinho que os dois irm�os por parte de m�e, Maria Rita e Pedro, que foram morar com o pai, Cesar Camargo Mariano, Jo�o passou a viver de forma conturbada com o irm�o de Elis, Rog�rio, com quem n�o se dava bem. Percebeu que muitas pessoas a seu lado at� aquele dia estavam ali por interesse em tocar com Elis, ser gravado por Elis, ser visto ao lado de Elis, fazer parte da turma de Elis.
 
Depois de dar entrevistas para livros, assistir a document�rios de TV, ajudar no preparo de um musical e prestar consultoria para o filme que contou a hist�ria da cantora, Jo�o, pela primeira vez, escreve sobre os sentimentos dos anos que passou ao lado dela. Elis e Eu – 11 anos, 6 meses e 19 dias com a minha m�e n�o � um projeto biogr�fico de compromissos documentais. Traz um texto saboroso e direto, mas sem gracejos que poderiam tirar a tens�o daqueles duros momentos.
 
“Desmoronar talvez seja a palavra mais precisa para descrever os dias seguintes!”, come�a o cap�tulo 2. Assim que Elis se foi, a casa onde morava, na Rua Melo Alves, em S�o Paulo, come�ou a ser desmontada e as decis�es de partilhas tomadas com muitos adultos dividindo itens pessoais, como as roupas da cantora. Nada era levado a Jo�o. “O que imaginava ser algum tipo de amor por mim era, em parte significativa, apenas bajula��o pra agradar e ficar mais perto da Elis”, escreve.
 
Elis Regina com os filhos Maria Rita, Pedro e João Marcello (D)(foto: Acervo/ Mostra Viva Elis)
Elis Regina com os filhos Maria Rita, Pedro e Jo�o Marcello (D) (foto: Acervo/ Mostra Viva Elis)
 
 
A certeza de que estava sozinho se deu aos poucos. Mas um epis�dio, que poderia ser aparentemente corriqueiro, marcou fundo. Um amigo m�sico que n�o sa�a de sua casa (Jo�o n�o revela o nome, mas tocava com Elis) passava com ele de carro em frente ao Playcenter, antigo parque de divers�es paulistano, quando Jo�o perguntou: “Pod�amos ir ao parque um dia desses, n�?”. A resposta do m�sico o chocou: “N�o levo nem meu filho ao parque, por que levaria voc�?”. Sua rea��o poderia ser apenas de frustra��o se aquela pessoa n�o tivesse sido uma das mais amorosas enquanto a m�e estava viva.
 
O livro de Jo�o come�a onde as biografias terminam para contar a parte mais triste da hist�ria de Elis. A morte precoce da maior cantora do pa�s paralisou o Brasil por dias, com a pol�cia investigando para descobrir quem teria levado a coca�na que ela misturou � bebida alco�lica. A ca�a �s bruxas ganhou a cobertura de revistas e jornais, al�m de coment�rios de todas as naturezas. O Brasil chorava a morte de Elis, ningu�m se lembrava das crian�as.
 

Apesar de n�o vestir o papel da crian�a v�tima, se eu tivesse sabido na �poca que ele iria perder o ch�o ao se ver praticamente sem fam�lia, eu o teria pegado para criar

Rita Lee, cantora e compositora

 

ADO��O Rita Lee escreve o pref�cio. Ela recorda da grande amiga e do dia em que foi visitada na cadeia por Elis, que levava Jo�o Marcello bem pequeno pelo bra�o, corajosamente, para pedir sua liberdade. Rita, segundo a pol�cia da �poca, havia sido flagrada com drogas em uma busca em sua casa.
“Lendo a solid�o na qual aquele rapazinho mergulhou logo ap�s a morte da artista percebo que, apesar de n�o vestir o papel da crian�a v�tima, se eu tivesse sabido na �poca que ele iria perder o ch�o ao se ver praticamente sem fam�lia, eu o teria pegado para criar”, escreve Rita. “E eu teria ido”, diz Jo�o. “Virei um problema, n�o era uma crian�a que se colocava no bra�o e levava para ado��o. Era adolescente. Fui mandado de volta para a escola com um pedido de bolsa de estudos anotada na minha caderneta.”
 
Jo�o escreveu o livro por duas raz�es. “Em primeiro lugar, por causa dos meus dois filhos. Queria deixar esses anos registrados para que soubessem como vivi essa hist�ria. Depois, n�o h� um s� dia em que n�o ou�a algo sobre minha m�e. Queria contar para essas pessoas o que vi.” Jo�o deixa nas entrelinhas o desconforto com a causa oficial da morte da m�e, relacionada ao consumo de coca�na. A demora do laudo m�dico, ele lembra, fez surgir uma s�rie de teorias conspirat�rias de que o resultado seria manipulado por pessoas que tinham ali a chance da vingan�a.
 
Elis Regina, que j� havia esbravejado contra os militares, tinha agora seu corpo disposto para ser aberto e analisado por eles. O legista era nada menos que Harry Shibata, o mesmo que havia atestado o “enforcamento” do jornalista Wladimir Herzog nas depend�ncias do Dops, em 1975. N�o era s�. O namorado da cantora � �poca era o advogado Samuel McDowell, o mesmo que havia desmascarado a farsa do laudo de Shibata. O roteiro da vingan�a parecia certo.
 

O que imaginava ser algum tipo de amor por mim era, em parte significativa, apenas bajula��o N�o h� um s� dia em que n�o ou�a algo sobre minha m�e. Queria contar para essas pessoas o que vi

Jo�o Marcello B�scoli, produtor musical

 
 
Jo�o escreve que qualquer pedido de revis�o da conclus�o legista traria o mesmo resultado. Desistiu de pensar no assunto ao sentir “tudo engolido pelo choque, pela saudade e pelo carinho das pessoas com ela e comigo. Nada traria minha M�e fisicamente de volta”. Ele escreve a palavra assim, com mai�scula.
 
Jo�o fala ainda do pai, Ronaldo B�scoli, e da impossibilidade de viverem juntos. Um homem que tomava u�sque no caf� da manh�, diz ele. E faz elogios comoventes a Cesar Camargo Mariano, o outro pai que a vida lhe deu depois da partida de Elis. “� um dos meus maiores amores... Um her�i, uma refer�ncia.” Mas Ronaldo tamb�m ganha palavras edificantes. “Amo seu chiaroscuro, seu texto encantador, seu charme intoxicante. Amo sua liberdade intelectual, seu humor c�ustico.”
Jo�o Marcello B�scoli acaba por escrever mais uma importante parte da infinita hist�ria de Elis. Que venham as outras. (Estad�o Conte�do)
 
CARREIRA
NA M�SICA

Produtor musical e empres�rio, Jo�o Marcello B�scoli tem 49 anos. � um dos criadores da gravadora Trama, na d�cada de 1990, que lan�ou discos elogiados de Tom Z�, Gal Costa, Max de Castro, Na��o Zumbi, Cansei de Ser Sexy, Otto, Jair de Oliveira, Ed Motta, Fernanda Porto, DJ Marky, DJ Patife e Simoninha, entre outros. Irm�o dos cantores Maria Rita e Pedro Mariano, filhos de Elis e do m�sico Cesar Camargo Mariano, � pai de Arthur, de 8 anos, do casamento com a apresentadora Eliana, e Andr�, de 3, do casamento com a pianista Juliana D'Agostini. 
 
 
 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)